Só depois é que eu fico pensando: Se não acredita, não é que vai pegar. Meu nome é Alzira, moro em Rebouças, e continuei o meu trabalho de benzimento, não fechei as portas pra ninguém, Porque eu não tenho medo, porque tudo acontece quando Deus quer.
Deus não querendo, nada acontece com a gente. Eu tenho curado até gente do lado de Curitiba. Tem uma mulher que tá pra vir agora, só que eu não conheço ela e ela não me conhece. É, só que, eu mesmo fiz meu trabalho, porque eu acho que eu tenho a obrigação. Eu fiz pra essa mulher, eu fiz de longe né? Ela ligou pra mim eu fiz de longe, mas tem vindo é gente de longe do interior pra vim aqui em casa, porque como diz: Eu não escolho, seja lá quem for, me procurou eu estou fazendo.
Relato de Dona Alzira Kinapp, produzido pela Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Eu sempre atendia as pessoas e preparava remédios, garrafas, xarope, pomada, para as pessoas que chegavam no portão, mas precisei me isolar por um mês porque peguei Covid-19. Assim que a doença passou voltei a atender a população, porque foi muito triste ver as pessoas naquele estado.
Lembro que quando tive Covid, foi bem triste, porque fiquei afastada de tudo, das pessoas, não podia visitar nem ser visitada. Tinha que ficar em isolamento por muito tempo e só podia sair pra fazer algumas compras, e voltar logo pra casa.
Eu sempre usava álcool e máscara para benzer as pessoas, que também entravam com máscaras. No entanto, no mês de maio, só benzia de longe. Pois, eu já estava vacinada com a segunda dose. Agora tomei, depois que melhorei, a vacina da gripe. Já estava vencendo os seis meses para eu tomar a terceira dose da CoronaVac.
E estou querendo voltar a trabalhar de novo com as benzedeiras e começar a fazer as reuniões. Durante a pandemia, perdemos muitas benzedeiras, algumas faleceram e outras não puderam atender mais por serem idosas. Muitas famílias não queriam ver suas avós sob riscos de infecção.
Por fim, não sei o dia de amanhã, mas eu tenho ensinado as pessoas a fazerem pomada, tintura, remédios. Mas, o benzimento ninguém quer aprender a fazer. Acho que essa prática um dia vai se acabar.
Relato de Dona Agda Cavalheiro, produzido pela Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Lembro que naquele momento quando veio o boom da pandemia, de isolamento, de superlotação dos hospitais. Com angústia, frustração e medo, muitas benzedeiras acabaram optando por se isolarem, ficando recolhidas dentro de casa; muitas outras mesmo estando no grupo de risco optaram em continuar os atendimentos em suas casas.
Sou doutora em geografia pela Universidade Federal do Paraná e acompanho o movimento de benzedeiras desde 2017. Vale lembrar algumas coisas bem importantes e pontuais que vivemos durante a pandemia. Lembro da nossa última reunião presencial antes desse período, no final de fevereiro de 2020, quando fizemos o balanço do ano anterior e programação para 2020, e que, devido à proporção que a pandemia tomou, não foi possível de ser realizada.
A comunidade precisava, então, de um apoio. E esse é o ofício da benzedeira, né? E me traz muito essa noção de solidariedade, de um outro olhar pra saúde, pra saúde do povo, das plantas medicinais. Enfim, para a saúde que envolve fé, religião, amor ao próximo, coletividade, comunidade e onde nasce o verbo esperançar.
Trocas e Aprendizados
Quando eu olho todo desenhar desse caminhar mesmo com uma pandemia, com as notícias de gente dos familiares morrendo. Mesmo assim é se colocando e dando a mão ao próximo a gente vê o mais singelo gesto de solidariedade e amor ao próximo. O movimento caminhou também ocupando outros espaços que, talvez, se não fosse a pandemia, com certeza, a gente não teria alcançado. Então, o movimento acabou também trabalhando muito com a internet, jogando na rede com gente do país todo.
Foi uma grande troca e um grande aprendizado esse que a pandemia traz, principalmente, relacionado a essa conexão com as redes. Conquistamos, ainda, dois prêmios, e a mensagem que fica é esse ato de solidariedade. E a construção de uma saúde que em nenhum momento nega a medicina, a ciência, mas que trabalha junto com a comunidade.
Relato de Adriane de Andrade, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Durante a pandemia, nós, benzedeiras, ficamos mais em casa fazendo nosso benzimento com o nome das pessoas, ensinávamos remédios. Algumas pessoas chegavam só na cerca, não entravam e outras ligavam pedindo oração, benzimento, ou para ensinarmos o chá.
Trabalhamos todo o tempo durante a pandemia. A maioria das pessoas pediam os chás por causa do estresse da pandemia. Então, eles queriam tomar um chá calmante, por isso, sempre ligavam perguntando qual chá era bom. As benzedeiras têm esse papel. Mesmo que a gente, às vezes, não faça as curas pessoalmente, a gente atende por telefone.
Nós fizemos trabalhos de benzimento, orações e simpatias de longe, chá calmante e acho que foi todo tempo da pandemia assim mesmo que ficar em casa, fizeram o trabalho desse dom.
Fazemos benzimento para crianças, rezamos bastante, e cada benzimento em casa tem seu oratório. Pedimos saúde para o povo do mundo inteiro, não só da cidade, e para que achassem remédio para pandemia, e que Deus afastasse a doença. Então, o trabalho das benzedeiras continua na pandemia. Não saíamos, porque não estávamos vacinadas, mas não parávamos.
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São Sebastião Santo De Deus muito amado Nos livrai das pestes Nosso advogado¨ ¨Pelas vossas chagas Pelo vosso Amor Nos livrai das pestes Nosso defensor¨
Relato de Ana Maria Benzedeira, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Bruna, eu sou esposa de um reeducando que se encontra aqui do CRC. Começo da pandemia foi horrível, fiquei sem visita, sabe como é que estava. Não podia entrar nada foi muito sofrido você entendeu? Graças a Deus agora deu uma melhoradinha né! No começo sem videochamada, sem notícia, você entendeu, foi muito…
Foi um ano e pouco sem nada, sem direito a nada, a gente não sabia como é que tava, ele ficou doente, emagreceu muito, ai agora a gente tá ajudando ele né, levou remédio né. A videochamada foi muito triste que ele tava muito abatido né, mais no mesmo me fez feliz que eu consegui falar com ele né. Eu perdi o serviço mas, não perdi nenhum familiar, graças a Deus. não afetou nossa família né, mais eu fiquei desempregada né. Tava dependendo de sacolão entendeu, mas graças a Deus tamo lutando vencendo a pandemia.
Relato de Bruna Souza , produzido pela Associação Mais Liberdade para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Não parei de atender na pandemia, quem precisava de mim minha casa tava com as portas abertas.
Eu costurava, (…), é, as pessoas entravam assim, vinham chegavam de máscara ¨porque isso sufoca muito a gente¨, então elas diziam pra mim: posso tirar a máscara? Eu digo pode, dentro da minha casa pode ficar à vontade. E eu nunca tive medo dessa doença, nunca, nunca mesmo. Nunca ninguém chegou assim na minha casa: ¨A senhora pode atender¨? Eu nunca disse não. Sempre com fé em Deus e graças a Deus, não peguei essa doença. Dá minha família só uns lá que pegaram, mas graças a Deus tão tudo bom e é isso da ai, agente tendo fé em Deus, nada acontece.
Relato de Nilza Silva, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Lurdes de Andrade de Paula, sou benzedeira, (…), costuro, faço simpatia, (…). As minhas plantinhas tão aqui que eu tenho aqui né, tudo quanto é remedinho eu uso é da terra né. (…). Mas eu continuei, não parei porque não dá pra parar né. Porque eu preciso ganhar (..), então é isso que eu faço.
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¨São Sebastião Santo
Dê Deus muito Amado
Nós livrai das pestes
Nosso advogado¨
Pelas vossas chagas
Pelo vosso amor
Nós livrai das pestes
Nosso defensor¨
Relato de Dona Delourdes de Paula, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Eu moro aqui em Irati, Conj. Joaquim Zarpellon, sou benzedeira aqui de Irati.
Trato das crianças desde o primeiro aninho até a sua idade maior, a gente costura, a gente faz ¨batida à míngua¨, fazemos simpatia do bronquite, leio carta, rezamos a nossa Romaria, sempre atendendo o nosso povo. Agora na pandemia a gente até deu uma parada mas não foi tanto por causa que a gente tem que cumprir com os compromissos da gente, atendendo os inocentes, atendendo nossos povos de Irati, aqueles que vêm de fora a gente também têm que atender porque eles vem por que precisam. Sabem que a gente faz um bom trabalho então a gente tem que prestar um bom trabalho, um bom serviço a comunidade.
¨São Sebastião Santo
Dê Deus muito Amado
Nós livrai das pestes
Nosso advogado¨
¨Pelas vossas chagas
Pelo vosso amor
Nós livrai das pestes
Nosso defensor¨
Relato de Dona Jacira de Paula, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Ilda Kosloski, sou brasileira de Lutcher Irati, e na pandemia toda, atendia o pessoal todo com grande alívio que todo pessoal vinha e precisava da gente e nunca deixei de atender nenhuma pessoa. ¨rezimento¨ para crianças pequenas é arrumar o peitinho das crianças.
Atendimento e amparo
Faço ¨rezimento¨ pra picada de aranha, picada de cobra é pra cobreiro e outras coisas que eles pedem sempre. Então o atendimento a gente sempre dá um amparo. Às vezes chegam de noite pedindo pra a gente atender, a gente atende. Então eu acho que é uma coisa importante, e mais: A gente sente falta das outras curandeiras por causa da pandemia né, mas a gente continua lutando pra frente.
Relato de Dona Ilda kosloski, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Deirys Ramos e pertenço à etnia indígena Warao. Sou da Venezuela e durante esse tempo tenho trabalhado como mediadora cultural.
Eu tive Covid-19 e me contagiei no meu trabalho, atuando com migrantes venezuelanos, com meus conterrâneos. Meu trabalho consistia em explicar como fazer a prevenção contra o vírus, mas com a proximidade física que tínhamos diariamente eu acabei tendo Covid-19.
No momento que peguei Covid-19 eu não me dei conta, pensava que era cansaço por causa do trabalho, mas pouco tempo depois meus olhos já não me deixavam trabalhar porque ardiam muito. Fiz um teste rápido e deu positivo. Nunca imaginei ficar contagiada por Covid-19.
Eu não me sentia cansada, tinha ânimos para seguir trabalhando. Eu respirava bem e fisicamente não me doía nada, mas não conseguia ver bem e isso me afetou bastante.
Tivemos que estar fechados em um lugar que fazia muito calor e a minha filha de cinco anos se sentia como se estivesse presa. Ela me perguntava se havia feito algo de mal
Isolamento
Como eu estava com Covid-19 e vivia em um abrigo, minha família e eu tivemos que ficar em isolamento. Isso nos afetou bastante, principalmente a minha filha de cico anos porque tivemos que estar fechados em um lugar que fazia muito calor e a minha filha de cinco anos se sentia como se estivesse presa. Ela me perguntava se havia feito algo de mal. Foi muito traumático.
Ela teve que ir a psicólogos também, chorava bastante e pensava que não gostavam dela por causa do isolamento, porque ainda que não estivesse com Covid-19, como ela estava com nós, ela teve que ficar isolada também.
Além de nós, outra família estava isolada. Era uma mãe e seu filho que passavam por um periodo e luto por causa da morte do esposo/pai. Eles estavam sofrendo o luto pela morte de um familiar muito próximo.
Além de estarem presos, eles não podiam se comunicar porque não falavam português. Por isso, não sabiam a razão pela qual seu esposo/pai havia morrido e tampouco sabiam porque estavam isolados. Eu tentava explicar, mas a comunicação não era boa. Ao vê-los chorar, minha filha, a mais velha, ficou traumatizada. Ela pensava que as pessoas não gostavam de nós. Foi muito traumático para ela.
Essa experiência me fortaleceu bastante porque conseguimos atuar rápido. Em menos de três dias soube que tinha me contagiado e tomei as medidas necessárias para evitar mais contágios e superar a doença. A experiência me encheu de muita fé, fé e esperança ao ver que nem minha filha, nem meu esposo apresentavam os sintomas do Covid-19.
Em alguns momentos eu senti medo de que a doença pudesse ficar mais grave e isso me ensinou a não esquecer das medidas de proteção, de manter sempre a máscara, de respeitar as pessoas que estão com máscara também. Agora entendo e estou muito feliz de ver que as pessoas usam o álcool gel nas mãos e se cuidam.
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Observação: o relato acima, em português, foi uma tradução livre do relato feito originalmente em espanhol. Abaixo está o conteúdo original.
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“Aparte de estar encerrados, ellos no entendían el portugués. (…) No sabían por qué estaban aislados”
Mi nombre es Deirys Ramos y pertenezco a la etnia indígena Warao. Soy de Venezuela y en estos momentos he trabajado como mediadora cultural.
Yo tuve Covid-19 y me contagié en mi trabajo con los migrantes venezolanos, con mis paisanos. Mi trabajo consistía en explicarles cómo hacer la prevención contra el virus pero el acercamiento diario a ellos hizo que yo también tuviera Covid-19.
Al momento no me di cuenta, pensaba que el cansancio era normal, pero al poco tiempo mis ojos ya no me permitían trabajar, me ardían mucho. Hice la prueba rápida y dió positivo. Nunca imaginé estar contagiada de Covid-19.
No me sentía cansada, tenía ánimos de seguir trabajando.Yo respiraba bien y físicamente no me dolía nada, pero lo en los ojos se me notaban, no podía ver bien y me afectó bastante.
Tuvimos que estar encerrados en un lugar que hacía mucho calor y mi hija de cinco años se sentía como si estuviera presa y me preguntaba si había hecho algo malo
Aislamiento
Como yo estaba con Covid-19 y vivía en un abrigo, mi familia y yo tuvimos que estar aislados. Eso nos afectó bastante, principalmente mi hija de cinco años porque tuvimos que estar encerrados en un lugar que hacía mucho calor y ella se sentía como si estuviera presa, me preguntaba si había hecho algo malo. Fue muy traumático.
Ella tuvo que estar con los psicólogos también, lloraba bastante, creía que no la querían por el aislamiento, porque aunque no estuviera con Covid-19, ella estaba con nosotros y tuvo que ser aislada también.
Además de nosotros, otra familia estaba aislada. Era una madre y su hijo que sufrían el duelo por la muerte de su esposo. Ellos estaban sufriendo el duelo de haber fallecido a un familiar muy cercano.
Aparte de estar encerrados, ellos no podían comunicarse porque no entendían el portugués. No sabían la razón por la cuál su esposo y padre había muerto y tampoco por qué estaban aislados. Yo les trataba de explicar, pero la comunicación no se daba. Al verlos llorar, mi hija, la mayor, se traumó. Ella pensaba que las personas no nos querían. Fue muy, muy traumático para ella.
Esa experiencia me fortaleció bastante porque logramos actuar rápido. En menos de tres días me di cuenta de que estaba contagiada y tomé las medidas necesarias para evitar más contagios y lograr superar la enfermedad. La experiencia me llenó de mucha fe también, Fe y esperanza al ver que ni mi hija ni mi esposo presentaban síntomas.
En algunos momentos sentí miedo a que la enfermedad pudiera agravarse y fue lo que me ha dejado una gran enseñanza: de no olvidar las medidas de protección; de mantener siempre el tapabocas; de respetar aquellas personas que lo tienen. Ahora entiendo y estoy muy contenta de ver que las personas se echan gel en la mano y se cuidan.
Relato de Deirys Ramos, produzido pela Rede Amazoom para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
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