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Abraçando a onça

Eu e minha dupla de visita, Sabrina Silva (Palhaça Lupita), encontramos, abraçada à sua onça, a Dona Eliane, uma senhora muito simpática.

Dona Eliane nos contou que trabalha no cemitério e que também é palhaça. Ficamos imaginando-a fazendo palhaçadas no cemitério. Contou-nos ainda que sua tia dançava em cima de um cavalo, já imaginaram? Pois ela e seu tio eram do circo e, entre inúmeras peripécias, amavam-se muito, tanto que, quando ela se foi, ele se foi logo em seguida, para continuarem com seus espetáculos juntinhos.

Paciente em hospital interagindo virtualmente com os palhaços do Nariz Solidário

E a onça? Não quisemos conferir se estava viva. Saímos a bordo de um manequim, ou melhor, de um tablet na cabeça de um manequim – “Se virem uma onça por aí, não diga que fomos por ali”.

Antes da onça

Sou ator e artista há muitos anos, e a pandemia me trouxe ansiedades muito fortes, principalmente por conta de minha profissão ter sido uma das primeiras a saírem de cena, e a última a retornar – inclusive, ainda não retornou por completo.

No meio disso tudo eu, que faço parte da ONG Nariz Solidário, consegui manter o meu ofício por conta de um projeto aprovado, que não só me trouxe um respiro financeiro e emocional, mas também me fez olhar de outra forma para a arte.

Tivemos que nos adaptar e realizar intervenções virtuais, que antes eram presenciais, em hospitais do SUS. No começo foi difícil, novo e estranho. Mas ao longo do tempo fomos percebendo que, mesmo no ambiente tecnológico, era possível promover encontros artísticos que também pudessem gerar transformações mútuas.

Depois da onça

“Enquanto houver vida, há sempre espaço para um leve respirar e brincar”

O isolamento social e as diversas problemáticas causadas pela pandemia e que explodem na saúde física e mental de cada pessoa, ainda podem ser suspensos por instantes, em estados brincantes, ainda que a dor supere a razão e a intenção. Nos hospitais sempre existiram isolamentos temporários, no entanto, o que vivemos se tornou algo longo e duradouro, que nos encaixotou em uma tela pequena, de reflexões sobre realidades dolorosas.

Porém, repito: enquanto houver vida, há sempre espaço para um leve respirar e brincar.


Relato produzido pela Associação Nariz Solidário para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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