Meu nome é Rosalina, popular Rosinha aqui do bairro Vila Nova, Irati, Paraná.
Eu, eu faço simpatia de bronquite é, eu arrumo machucadura, costuro, costura vendedora, faço cone de ouvido é, sou rezadeira de romaria também é, fazemos novas profissão todos os anos esse ano mesmo com a pandemia a gente conseguiu fazer a nossa romaria que é na rua é, na novena rasgada é, pra Nossa Senhora Aparecida eu aqui na minha casa eu não parei passou dois anos graças a Deus eu não fiquei nem com gripe e posso agradecer a Deus por esse motivo. Não deu gripe, fiquei muito bem e atendo normalmente, só que mais machucadura Benzedura de longe e ensina o remédio, simpatia também.
Relato de Rosalina Gomes , produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Dejanira, moro em Rebouças, sou benzedeira há quinze anos, muita gente é da Bahia, de longe vem.
Atendo as pessoas de coração, Deus, já vi Nossa Senhora me atendendo quando eu estava doente. Vi Nossa Senhora. Eu falo com Jesus, porque Deus me deu o poder de eu fazer as ervas medicinais, ensinando, aprendendo tudo e não deixo ninguém voltar para trás. Eu atendo.
Na pandemia, pus plaquinha uns dia mas eu sentia que eu não podia atender. Pus um plaquinha que eu não podia atender porque aqui deu muito forte, e em nós não passou nada…
O velho ficou arriado um tempo mas já está bom. Agora que a filha chegou, estamos bem. Nossa filha quer fazer um ano que nós não via.
Relato de Dona Dejanira Machado, produzido pela Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Durante a pandemia, nós, benzedeiras, ficamos mais em casa fazendo nosso benzimento com o nome das pessoas, ensinávamos remédios. Algumas pessoas chegavam só na cerca, não entravam e outras ligavam pedindo oração, benzimento, ou para ensinarmos o chá.
Trabalhamos todo o tempo durante a pandemia. A maioria das pessoas pediam os chás por causa do estresse da pandemia. Então, eles queriam tomar um chá calmante, por isso, sempre ligavam perguntando qual chá era bom. As benzedeiras têm esse papel. Mesmo que a gente, às vezes, não faça as curas pessoalmente, a gente atende por telefone.
Nós fizemos trabalhos de benzimento, orações e simpatias de longe, chá calmante e acho que foi todo tempo da pandemia assim mesmo que ficar em casa, fizeram o trabalho desse dom.
Fazemos benzimento para crianças, rezamos bastante, e cada benzimento em casa tem seu oratório. Pedimos saúde para o povo do mundo inteiro, não só da cidade, e para que achassem remédio para pandemia, e que Deus afastasse a doença. Então, o trabalho das benzedeiras continua na pandemia. Não saíamos, porque não estávamos vacinadas, mas não parávamos.
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São Sebastião Santo De Deus muito amado Nos livrai das pestes Nosso advogado¨ ¨Pelas vossas chagas Pelo vosso Amor Nos livrai das pestes Nosso defensor¨
Relato de Ana Maria Benzedeira, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Sandro teixeira dos Santos, eu me encontro aqui recluso aqui no Centro de Ressocialização daqui de Cuiabá Mato grosso, e a epidemia ela nos trouxe assim um desconforto porque logo nos cortaram as visitas né, a gente ficou sem ter notícias da família, sem ter notícias dos filhos, que eu tenho uma filha e assim o desconforto foi muito grande porque qual o esposo que não quer estar perto da sua esposa, da sua mãe, dos seus filhos né, então foi algo assim que machucou bastante a gente né. Atingiu não somente a mim, mas a todos os educandos que estão aqui.
Eu sei que muitos ficaram aflitos com tudo isso né, então logo após veio a videochamada trazendo conforto, mas não é a mesma coisa de uma visita residencial. Mas já tava melhorando né, foi melhorando, e assim foi uma experiência nova né, experiência nova. Muitas pessoas perderam seus entes queridos para epidemia, muitas famílias foram destruídas porque muitas esposas não aguentaram e foram embora, abandonaram seus esposos, foram cassaram outro rumo de vida né. Então só agradeço a Deus por ter me mantido firme aqui dentro dessa oportunidade aqui onde a gente se encontra né, não houve morte né, todos nós nos encontramos bem.
Relato de Sandro Teixeira, produzido pela Associação Mais Liberdade para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Não parei de atender na pandemia, quem precisava de mim minha casa tava com as portas abertas.
Eu costurava, (…), é, as pessoas entravam assim, vinham chegavam de máscara ¨porque isso sufoca muito a gente¨, então elas diziam pra mim: posso tirar a máscara? Eu digo pode, dentro da minha casa pode ficar à vontade. E eu nunca tive medo dessa doença, nunca, nunca mesmo. Nunca ninguém chegou assim na minha casa: ¨A senhora pode atender¨? Eu nunca disse não. Sempre com fé em Deus e graças a Deus, não peguei essa doença. Dá minha família só uns lá que pegaram, mas graças a Deus tão tudo bom e é isso da ai, agente tendo fé em Deus, nada acontece.
Relato de Nilza Silva, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Eu moro aqui em Irati, Conj. Joaquim Zarpellon, sou benzedeira aqui de Irati.
Trato das crianças desde o primeiro aninho até a sua idade maior, a gente costura, a gente faz ¨batida à míngua¨, fazemos simpatia do bronquite, leio carta, rezamos a nossa Romaria, sempre atendendo o nosso povo. Agora na pandemia a gente até deu uma parada mas não foi tanto por causa que a gente tem que cumprir com os compromissos da gente, atendendo os inocentes, atendendo nossos povos de Irati, aqueles que vêm de fora a gente também têm que atender porque eles vem por que precisam. Sabem que a gente faz um bom trabalho então a gente tem que prestar um bom trabalho, um bom serviço a comunidade.
¨São Sebastião Santo
Dê Deus muito Amado
Nós livrai das pestes
Nosso advogado¨
¨Pelas vossas chagas
Pelo vosso amor
Nós livrai das pestes
Nosso defensor¨
Relato de Dona Jacira de Paula, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Ilda Kosloski, sou brasileira de Lutcher Irati, e na pandemia toda, atendia o pessoal todo com grande alívio que todo pessoal vinha e precisava da gente e nunca deixei de atender nenhuma pessoa. ¨rezimento¨ para crianças pequenas é arrumar o peitinho das crianças.
Atendimento e amparo
Faço ¨rezimento¨ pra picada de aranha, picada de cobra é pra cobreiro e outras coisas que eles pedem sempre. Então o atendimento a gente sempre dá um amparo. Às vezes chegam de noite pedindo pra a gente atender, a gente atende. Então eu acho que é uma coisa importante, e mais: A gente sente falta das outras curandeiras por causa da pandemia né, mas a gente continua lutando pra frente.
Relato de Dona Ilda kosloski, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Perdi muita gente durante a pandemia. Tiveram duas pessoas que me fazem muita falta. Uma delas foi uma grande companheira de caminhada, que lutava comigo há muitos anos.
Chamo-me Rosária, nasci no Uruguai, mas moro no Brasil há 34 anos.
Sou uma das filhas de um casal que gerou 11 mulheres. Casei-me, tive 3 filhas e saí do meu país devido à violência doméstica em meu matrimônio.
Meu marido era um homem muito forte, da Marinha, e muito violento, de modo que ninguém conseguia contê-lo ou mudar a situação. O pior momento, que me fez decidir vir de vez para o Brasil, foi quando fugi para a casa dos meus pais e, ao saber que meu marido estava a caminho da casa deles para me buscar, fugi com as minhas filhas — que eu levava sempre para todo lugar.
A fuga para o Brasil
Ao chegar na casa dos meus pais e não me encontrar, ele bateu nos meus pais. Depois, ele foi até a casa desses amigos, que tinha apenas uma porta, pela qual eu não poderia fugir. Saímos pelas janelas, usando cordões de sandálias que amarramos para descermos.
Depois desse acontecimento, prometi a mim mesma que jamais permitiria que algo como aquilo, acontecesse de novo.
Conheci alguém que gostava muito de mim, com quem entrei em contato, e que me apoiou, me trazendo para o Rio Grande do Sul, no Brasil.
Após 21 anos, voltei ao Uruguai e, mais tarde, retornando ao Brasil, descobri que esse outro companheiro também era violento.
Foi na Bahia que eu realmente soube quem era ele — que sempre ia e voltava para o Uruguai. Ele não trabalhava, eu não trabalhava, mas na minha casa sempre tinha tudo do bom e do melhor.
Ele me dizia ter uma transportadora de frutas, e eu acreditava. Quando ele ficou internado, no Rio Grande do Sul, fui ao encontro dele e descobri que ele era um assaltante de bancos muito perigoso — tanto no Brasil, quanto no Uruguai. Ele foi preso, e eu, que fiquei com muito dinheiro, sempre o visitava.
Uma mulher corajosa
Mas chegou um momento que o dinheiro acabou, as viagens de visitação cessaram, e ele disse não querer mais saber de mim. Então, me vi liberta. Eu e minha filhas fomos vivendo e construindo nossas vidas.
Ao saber que alguém estava me procurando e oferecendo 50 reais — muito dinheiro na época — para quem me encontrasse, fui para Sergipe, onde passei 3 anos e voltei. Apaixonei-me por um baiano, com quem tive uma filha. Vivemos juntos por 12 anos.
Ele enfrentava o racismo de forma muito séria. Ajudei ele, que era usuário de drogas, mas, mesmo assim, ele ficou muito doente.
Teve diarreia, manchas pelo corpo, e diagnosticado com AIDS. Fiquei firme com ele, por 3 meses. No hospital, assistia palestras e recebia informações sobre HIV/AIDS, mas os grupos de risco que eles apresentavam — usuários de drogas, prostitutas, homossexuais — não se enquadravam no meu perfil. Por isso, fiquei tranquila. Mas, após uma médica conversar comigo, me dei conta de que eu poderia, sim, ter sido infectada, e, ainda, ter transmitido às minhas filhas e netas, pelo leite materno.
Elas não foram infectadas, mas eu recebi o resultado positivo para HIV. Meu mundo caiu, eu pensava que morreria a qualquer momento. Fui para o enterro do meu companheiro e não pude mais entrar em casa. Foi aí que encontrei o Gapa. Eu pensava “nunca mais ninguém vai me abraçar, me beijar ou chegar perto de mim”. Mas fui abraçada pelo Gapa, e minha vida mudou.
A rotina antes da pandemia
Passei a estudar, me informar, capacitar e a me engajar no ativismo.
O Gapa se tornou essencial na minha vida, em todas as áreas: emocionais, profissionais, relacionais.
Tenho problemas cardíacos, como “pré-infartos”, e minha filha passou a ser a minha companheira, cuidar de mim.
Antes da pandemia, eu trabalhava no Balcão de Justiça como mediadora de conflitos. Fazia, também, faxinas. Além disso, congelava alimentos para os clientes, na casa dela. Trabalhava quatro vezes por semana, ganhando 100 reais por visita.
Eu tinha um bom salário. E, nessa altura, chega à pandemia.
A pandemia desnudou os abismos sociais
Eu, como representante estadual da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (RNP), me pus à disposição, com outras pessoas do ativismo, para articular estratégias para que a pandemia não afetasse o PVH, — principalmente com a retirada de medicamentos.
Queríamos, por exemplo, que todas as pessoas que tivessem a carga viral indetectável e o CD4 estável, recebessem medicação suficiente para 3 meses, para evitar que saíssem de casa.
É muito difícil falar apenas sobre mim, pois, a minha experiência é pensada sempre de forma coletiva, seja pela minha família ou pelo ativismo. Eu me doo.
Recebi muitas ligações e isso me incomodou porque, diante das limitações, eu não conseguia atender como atendia antes. Eu constatava o desespero das pessoas, a vontade de suicídio das pessoas, a falta de alimento e suporte.
A partir disso, eu me retirei de todos os grupos de movimentos que participava, e fiquei apenas me dedicando ao Gapa e a Rede de Comunidade Saudável.
Tivemos muitos problemas, mas, mesmo assim, ajudamos as pessoas a fazerem o recadastramento do SUS e a inscrição para o Auxílio Emergencial.
Nunca tive medo de morrer. Saí de uma reunião, entrei em casa, e passei um ano e meio sem sair — ninguém entrava lá também. Minha filha era quem fazia minhas compras e pegava a minha medicação.
O pavor da pandemia
Eu me preocupava muito com uma outra filha que mora comigo, pois ela tem escoliose, de modo que o osso da coluna pressiona o pulmão e, com esse problema respiratório, ela fazia parte do grupo de risco.
Assim como eu, devido ao problema cardíaco. Contudo, eu nem lembrava de mim, só pensava nela. Tudo que chegava em casa era deixado na porta, eu recolhia tomando todos os cuidados, usando muito álcool e depois lavava.
Após ter tomado às duas doses da vacina, fui diagnosticada com Covid-19. Busquei acompanhamento médico, fiquei internada no Couto Maia e, enquanto eu estava lá, soube que a minha filha também havia testado positivo para o coronavírus.
Não faço ideia de como isso pode ter acontecido, diante de tantos cuidados tomados.
A minha felicidade é estar viva, e ver muitas das pessoas que conseguimos ajudar, vivas também.
Aprendi a ter fé e a acreditar mais em mim, porque, antes desse momento difícil, eu não acreditava muito em mim.
Mas, hoje, eu acredito, e sei que tenho forças para fazer muita coisa.
Durante a pandemia, fiquei sem ir ao interior — e sem visitar a minha mãe — por 2 anos. Nos comunicávamos por telefone. Quando tudo fechou, eu fiquei um pouco assustada.
Nasci no interior da Bahia, em Cícero Dantas. Após a separação dos meus pais, quando ainda tinha 3 meses, fui com minha mãe morar em Ribeira do Pombal.
Tive pouco contato com meu pai. Minha mãe, doméstica, sempre me aceitou, e eu, desde muito nova, sempre demonstrei a minha essência.
Minha mãe tem uma mente muito aberta, e nunca me discriminou.
Uma vida bem distante da pandemia
No interior, onde morávamos, existiam outras mulheres trans. Aos 15 anos, comecei a tomar hormônio.
Aliás, também vivi a prostituição normalmente, – fazia programas em postos de gasolina, com caminhoneiros e nas festas que aconteciam na cidade – inclusive, em cidades vizinhas.
Estudei até a 8ª série do ensino fundamental. Era uma vivência que eu avalio como tranquila, com poucas importunações, apenas com algumas piadas e coisas do gênero.
Na maioria das vezes, eu não me importava tanto com as situações, – a não ser que eu me sentisse agredida. Acredito que eu tinha essa postura por ser muito acolhida em casa, com a minha mãe, que nunca me discriminou e sempre me defendeu.
Isso mostra a importância do apoio familiar para pessoas como eu. Com 18 anos, uma amiga, também trans, me chamou para conversar, e disse ter um apartamento em Salvador, que eu poderia — e deveria — tentar passar um tempo aqui para tentar mais oportunidades.
Vivendo em Salvador
Aceitei a proposta. Me mudei para Salvador, e gostei da cidade. Hoje, com 28 anos, ainda moro na capital baiana. No início, dividia essa casa com outra menina trans.
Mas, depois de um tempo, senti necessidade de morar só, ter o meu canto. Senti precisar de mais privacidade para atender os meus clientes, como garota de programa, e, ter a minha liberdade.
A pandemia
Uma amiga do interior me ligou, desesperada, dizendo que eu deveria voltar para o interior por conta da pandemia. Neste momento, consegui manter a calma e respirar fundo.
Primeiro, porque eu tinha as minhas economias — eu sempre guardava uma parte de todo dinheiro que eu fazia atendendo, tanto nas ruas, quanto em sites.
Também, porque recebi ajuda, apoio, cesta básica. Não pude parar os atendimentos em meio a pandemia. Era inviável fazer isso nas ruas, mas sempre que um cliente entrava em contato, eu o encontrava.
Mesmo com as minhas economias, uma hora, eu iria precisar do dinheiro, ora para pagar o aluguel, ora para as minhas despesas básicas.
Alguns dos clientes se preocupavam com protocolos de segurança e tinham mais medo, mas, outros não. Apenas diziam precisarem espairecer a cabeça, dar uma volta na cidade — como se eu fosse a distração para toda aquela pressão da quarentena, de estar convivendo tanto com a família.
Eu não podia dizer não
Além dos programas, eu performava em casas de show. Contudo, com as casas fechadas, não tínhamos como atuar. Só à medida que começaram as flexibilizações das normas, é que nós pudemos, pelo menos, fazer os shows através de lives.
Contudo, não era a mesma coisa, na verdade, aparentou ser bem estranho não ter os aplausos, o calor humano, a “churria”.
Todo esse processo me fez ficar muito ansiosa e, com isso, comecei a comer mais, e engordei. Fique frustrada, pois, trabalho com o meu corpo.
Sentia muita vontade de que as coisas voltassem ao normal, que eu pudesse ir à praia e tomar uma cerveja.
Quero muito realizar o sonho de ter uma casa própria. Não quero voltar para o interior. Espero poder tirar logo essa máscara — que eu não suporto. E que, nós saiamos desse momento, colocando em prática tudo o que dizemos ter aprendido sobre amar o próximo
O início de 2021 foi uma eterna noite de solidão. Eu passei por um grande sufoco emocional, em que descobri que meu relacionamento com minha “melhor amiga” era extremamente tóxico.
Lidar com isso foi algo demorado, pois eu não me afastei dela de um dia para o outro, até porque, morávamos sob o mesmo teto.
Esse empecilho fez com que eu vivesse dias e noites, durante seis meses, dividindo a casa com uma pessoa que me odiava, e fazia de tudo para eu me sentir mal, chegando a relatar várias vezes que o motivo da vida miserável dela, era culpa minha. Não podia sair de casa, pois estávamos no auge da pandemia.
Mesmo sendo ela que me xingava, gritava, ignorava, e quebrava as coisas.
Noite sem fim…
Como se isso não fosse ruim o bastante, ela ainda fazia a cabeça das pessoas, para que eu parecesse um monstro. Essas dificuldades de 2020 me abalaram muito, mas, 2021 me reservou uma nova surpresa.
No início do ano eu fui diagnosticada com distimia. Essa doença é diferente da depressão, apesar de serem semelhantes.
Um paciente com distimia sofre de mau-humor, irritação constantes, personalidade difícil, e nossos organismos têm dificuldade em produzir serotonina.
Essa é uma doença crônica. E por conta das minhas dificuldades em 2020, meu estado emocional era sério.
Precisei começar a me medicar, o que também foi uma aventura. Cada medicamento me dava um efeito colateral. Até que então, encontrei o medicamento certo para o meu organismo.
Esse processo só foi possível devido ao apoio de minha família, e de uma luz que acabou com as minhas noites de solidão.
Depois da noite, vem o dia
Uma ex-colega de faculdade mandou uma mensagem no grupo da nossa antiga sala, pedindo ajuda com um projeto voluntário. Eles precisavam de pessoas para editarem vídeos, e eu, precisava de algo que me desse força para conseguir levantar da cama e não desistir.
Foi quando eu mandei uma mensagem pedindo para me juntar ao grupo. Quando fui aceita na equipe, não sabia se estava mais feliz ou desesperada, pois meu medo de fazer algo errado era enorme, mas a alegria de fazer parte de um novo projeto era maravilhosa.
Assim, eu me juntei ao Nariz Solidário. Não demorou muito para eu perceber que o grupo era muito divertido e organizado. Eu sempre achei engraçadas as diferenças dos editores para os palhaços.
Dias de Nariz Solidário
Um grupo é todo reservado, enquanto o outro saltita de alegria. O famoso caso dos introvertidos e extrovertidos tendo que dividir o mesmo ambiente.
E, mesmo com tanta diferença, todos se entendiam e se respeitavam, pois, estávamos ali com o mesmo objetivo.
Minha missão no Nariz Solidário é receber vídeos produzidos pelos palhaços, adaptar para o ambiente hospitalar e colocar elementos que auxiliem na compreensão de cada tema, como, por exemplo, a sonoplastia.
Eles estavam me salvando…
Se me perguntassem hoje, se eu voltaria no tempo para nunca fazer amizade com aquela pessoa, minha resposta seria não.
É verdade que essa amizade me trouxe muita dor, mas, foi por conta disso, que eu busquei ajuda profissional, e soube do meu caso. Foi por conta desse estado emocional que eu entrei para o Nariz Solidário.
Loucamente eles me recrutaram pensando que eu ia ajudá-los, mas eram eles que estavam me salvando.
Sou uma pessoa muito tímida, eu não me envolveria em um grupo tão alegre como o de palhaços, se eu não estivesse em um momento tão complicado. E foi graças a isso que eu percebi, que mesmo que uma pessoa pareça muito diferente de você, é possível que vocês se deem bem.
Que mesmo que o mundo esteja desabando, vai ter alguém do seu lado para ajudar. Seja a sua família, ou até uma mensagem de ajuda enviada pelo WhatsApp.
Relato produzido pela Associação Nariz Solidário para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
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