Oi, meu nome é Maria, eu sou esposa do Reeducando se encontra no CRC de Cuiabá e eu vim falar sobre a pandemia né? Que a gente teve muita dificuldade sobre questão de remédios, muitas pessoas morrendo, vacina a gente não sabia se eles estavam tomando ou não, porque não estava tendo visita íntima e as vídeo chamadas também não estavam tendo, estava sendo muito difícil pra gente e muitas pessoas perderam familiares.
E isso afetou muito a gente, gente, com ansiedade, preocupada, não sabia o que tava acontecendo, não tava entrando as coisas sem visitas, sem, nada não estava entrando remédio tudo parado e a dificuldade bateu na porta de todo mundo, muitas pessoas perderam seus serviço eu inclusive né? Perdi meu emprego, fiquei numa fase difícil, não tava entrando remédio e não tinha videochamada, tava muito complicado mesmo.
Relato de Maria Souza, produzido pela Associação Mais Liberdade para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Eu sempre atendia as pessoas e preparava remédios, garrafas, xarope, pomada, para as pessoas que chegavam no portão, mas precisei me isolar por um mês porque peguei Covid-19. Assim que a doença passou voltei a atender a população, porque foi muito triste ver as pessoas naquele estado.
Lembro que quando tive Covid, foi bem triste, porque fiquei afastada de tudo, das pessoas, não podia visitar nem ser visitada. Tinha que ficar em isolamento por muito tempo e só podia sair pra fazer algumas compras, e voltar logo pra casa.
Eu sempre usava álcool e máscara para benzer as pessoas, que também entravam com máscaras. No entanto, no mês de maio, só benzia de longe. Pois, eu já estava vacinada com a segunda dose. Agora tomei, depois que melhorei, a vacina da gripe. Já estava vencendo os seis meses para eu tomar a terceira dose da CoronaVac.
E estou querendo voltar a trabalhar de novo com as benzedeiras e começar a fazer as reuniões. Durante a pandemia, perdemos muitas benzedeiras, algumas faleceram e outras não puderam atender mais por serem idosas. Muitas famílias não queriam ver suas avós sob riscos de infecção.
Por fim, não sei o dia de amanhã, mas eu tenho ensinado as pessoas a fazerem pomada, tintura, remédios. Mas, o benzimento ninguém quer aprender a fazer. Acho que essa prática um dia vai se acabar.
Relato de Dona Agda Cavalheiro, produzido pela Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Me chamo Dona Fátima, tenho 64 anos e nasci no Igarapé de Nhamundá. Me mudei para Parintins só quando meu pai comprou uma casa. E eu estou aqui até hoje.
Eu tive 10 filhos, mas alguns já são crescidos, então hoje em dia eu tô só com 3 meninas e uma neta. Uma das minhas filhas mora em Manaus, e eu, sempre morei por esse pedaço, conhecido como o reduto do Boi Caprichoso, no lado azul da cidade perto do porto.
Memórias do Boi e da cidade
Contudo, eu não lembro do Boi desde a sua fundação, pois, já pegara aquela animação já andando, no meio do caminho. Antigamente, eu nem me metia nisso, mas, as meninas novas da cidade sempre iam para o Boi, já eu, ficava um pouco de fora. Mas agora, depois de tudo, eu não quero perder nenhum ensaio.
Em algumas memórias, lembro do Boi brincando na rua, na época da lamparina. Era uma briga, tanto que até tinha pedra no meio. A gente andava por toda a cidade, sempre no meio da rua.
Hoje, vou sempre para os ensaios e festas do Boi, principalmente para torcer por ele — inclusive, vou para as festas, mas não danço. Minha filha, Darley, sempre esteve trabalhando nas alegorias do Boi.
Às vezes eu penso sobre outras famílias que perderam entes queridos…
Nestes tempos conturbados, a pandemia levou muito gente, mas, graça a Deus, não levou ninguém da minha família. Às vezes eu penso sobre outras famílias, que perderam seus entes queridos fora da hora, fora do momento — triste.
A minha vida durante a pandemia foi somente em casa. Eu ia para a pia, levava a máscara e álcool em gel, não saía de lá. Quando saia, tomava banho, e sentada, ficava pensando em quem já se foi. A minha mãe partiu durante a pandemia, mas não por conta do vírus, ela se foi por causa de um câncer. Cuidei dela até o final de sua vida, chegando a falecer aqui em casa.
O futuro…
Para o futuro quero assinar a minha carta de aposentadoria, que resta, somente, a minha assinatura para eu já poder receber o meu benefício. Hoje, fiquei com a casa que meu pai comprara. Quero arrumar toda a casa para ela ficar bonita!
Além disso, estou ansiosa para a volta do festival do Boi!
Praticamente, de todos os relacionamentos tóxicos que já tive, este, na verdade, se revelou o pior. No final de 2019, começamos a trabalhar na praia, alugando piscinas, e fomos morar juntos, dividindo aluguel com a minha mãe.
Chamo-me Heberti, tenho 25 anos, sou ator e estudante Teatro na UFBA.
Estou presente na militância partidária do movimento estudantil, trabalho com o Secretário de Cultura do PT, e sou Diretor da União Estadual dos Estudantes da Bahia.
Uma infância de relacionamentos difíceis
Meus pais se separaram quando eu tinha apenas 14 anos. Os desafios da minha história começam antes mesmo de eu nascer: um “golpe da barriga” ao contrário.
Meu pai descobriu que minha mãe pensava em se separar dele e, então, ele decidiu furar o preservativo, pois sabia que, em 1995, uma mulher preta, solteira e grávida, enfrentaria diversos dilemas.
Quando ela descobriu a gravidez, comunicou-lhe, que, rindo, disse que já sabia que isso aconteceria, que era proposital, — e deu certo. Ela se manteve casada com ele.
Nunca fui o filho favorito, desejado. Sempre fui uma criança afeminada e tímida.
Expressava meus sentimentos abertamente. A primeira violência homofóbica de que tenho lembrança de ter sofrido foi, ainda, aos 6 anos, quando, na rua, meu pai me agarrou pelo braço e gritou: “fale como homem”.
A partir desse dia me tornei ainda mais calado e atento a esse tipo de agressão. As outras crianças me batiam, me trancavam no banheiro da escola, e os adultos faziam “piadas”.
A escola e a descoberta da sorologia
Desenvolvi um trauma com a escola. O período do Ensino Médio foi mais tranquilo.
Descobri a minha sorologia em dezembro de 2016, enquanto participava de um evento com o Gapa.
Eu já realizava estudos sobre HIV/AIDS há cerca de um ano. Naquele dia, usando meu figurino de apresentação para aquela ocasião, “inventei” de fazer a testagem.
Deu positivo.
Peguei a minha mochila, saí do evento sem que ninguém visse, fiz o exame comprobatório e retornei. Lá, contei para uma colaboradora do Gapa de confiança.
O meu mundo só não caiu porque eu já tinha informações suficientes para entender que, aquele diagnóstico, não seria o meu fim.
Consegui resolver tudo muito rápido. Em uma semana eu já iniciara o tratamento, e estava tomando a medicação.
Fiz tudo sozinho, sem contar para ninguém. A primeira pessoa da minha família para quem contei foi a minha irmã mais nova, sendo minha cúmplice em tudo, porque eu precisava que alguém tivesse ciência caso, algum efeito colateral dos remédios, me acometesse.
O que também me manteve mais tranquilo, na época do descobrimento, foi o fato de estar namorando um garoto mais novo, com quem eu ainda não tinha me relacionado sexualmente.
Após seis meses, eu já estava indetectável. O tratamento foi muito tranquilo.
Sempre fui extremamente agitado, do tipo de pessoa que acumula demandas e faz mil coisas simultaneamente. Passava o dia na rua e ficava extremamente sobrecarregado. Mas não eram apenas as demandas do cotidiano que me sugavam, — além de não ser tão simples lidar com o diagnóstico, pois havia uma rotina nova a ser incorporada.
Eu também perdia muita energia com as minhas relações interpessoais, principalmente as românticas.
Desgastes emocionais
Tive alguns parceiros muito problemáticos. Eu tinha muitas crises de ansiedade, crises depressivas. Cheguei a tentar suicídio, ingerindo diversos remédios, inclusive, os antirretrovirais.
Passei três dias internados, fazendo lavagem. Foi este o momento em que toda a minha família soube da minha sorologia.
Depois de 2017, as coisas se tornaram mais tranquilas, eu comecei a ter noção de que precisava equilibrar tudo o que eu fazia, porque seria impossível dar atenção a tudo que eu me propunha.
Não conseguiria abraçar o mundo.
Relacionamentos tóxicos
Em 2019, eu iniciei um relacionamento. Eu só decidi namorar essa pessoa, pois, eu era tratado como um deus na terra. Ele agia como se tivesse conquistado a pessoa mais perfeita do mundo.
Ninguém nunca havia me tratado assim. Eu passei uma boa parte da infância, sozinho, apanhando de outras crianças na rua e sofrendo humilhações do meu pai em casa. Ver alguém me tratar daquela forma me parecia interessante.
Estive preso em um relacionamento abusivo
Ele começou a me manipular, exigia que eu vivesse para ele, porque “ele vivia para mim”. Uma obsessão.
A manipulação era tamanha, que ele chegava a me chantagear para mantermos relações sexuais com outras pessoas, ao mesmo tempo.
Em meio ao caos, ele também se descobriu soropositivo. Como eu era obrigado a manter relações sexuais sem preservativo, eu fui reinfectado.
Ele já tinha até invadido o meu quarto com uma faca, após uma discussão.
Desenvolvi insônia.
Eu tinha medo de dormir, de ser atacado, chegava a passar mais de 48h acordado, e precisei passar a tomar medicamentos para dormir. E não apenas para dormir, mas para conter as crises de ansiedade, que foram se tornando mais comuns.
Não foi fácil, mas consegui me livrar desse relacionamento.
Eu fiquei o tempo todo em casa, com ele.
Quando consegui, enfim, me libertar, também senti uma necessidade muito grande de sair de casa. Por isso, acabei descumprindo a quarentena. Durante a pandemia, eu precisei encontrar formas de trabalhar, como a arte, e comecei a postar monólogos, nas redes sociais.
Com relação ao meu tratamento, moro perto do Hospital das Clínicas, onde eu sou acompanhado. Então, não enfrentei grandes dificuldades. Eles passaram a liberar remédios para dois, até três meses.
Em um relacionamento com a solitude
Hoje, eu vivo um novo relacionamento. Todas as minhas relações sempre foram acolhidas pela minha família, e me sinto privilegiado nesse aspecto. A minha relação com a minha mãe é ótima, mesmo sendo evangélica. Não existe distância entre nós.
Ainda estou me curando dos traumas.
Mas a minha relação com meu pai não é boa. Eu, nem sequer, o chamo “pai”, ou o considero como tal, — todos sabem que me refiro a ele quando digo “o outro”. Apenas cumpro as minhas obrigações sociais como “filho”.
Agora, que ele está extremamente doente, preciso ir ao hospital e ajudar. Eu vou, mas faço apenas o que preciso.
Eu espero que quando a pandemia acabar, eu possa voltar à rotina, retomando contatos com tudo e todos que deixei de acessar desde dezembro de 2019, — como as salas de ensaio, os teatros e as pessoas.
Enquanto isso não acontece, vou vivendo essa realidade com o maior aprendizado, até então, que tem sido lidar, não com a solidão, mas com a solitude.
Nucicleide da Paz mostra cartão que comprova o recebimento da vacina contra a Covid-19: "Todas as pessoas do meu quilombo estão vacinadas!"
Graças ao divino Espírito Santo inventaram a vacina e todas as pessoas do meu quilombo estão vacinadas. Não via a hora de tomar a vacina, pois nela eu tinha a esperança do fim da pandemia. Hoje, estou vacinada com as primeira e segunda doses, graças a Deus.
Não tivemos problemas para a vacina chegar até a nossa Comunidade Quilombola do Forte Príncipe da Beira, com exceção do meio de transporte para cidade mais próxima, a Costa Marquês. Porém, no meu quilombo, tem um quartel do exército com atendimento médico e, em caso de emergência, acabavam levando as pessoas nas viaturas para a cidade.
Somos uma comunidade pequena, no entanto, muito unida. Lutamos juntos pelos direitos do nosso quilombo.
Nucicleide da Paz apresenta comprovante do recebimento da vacina contra a Covid-19
Com a chegada da pandemia, as crianças ficaram sem estudar. Os pequenos não podiam sair de casa. E o medo da infecção é uma das coisas mais ruins trazidas pela Covid-19. Tivemos que aprender e a lidar com a doença, que mostrou que para morrer infectado é indiferente ser rico, pobre, negro ou branco.
Acredito que aprendemos amar, ter mais respeito e compreensão com o próximo, pois não sabíamos o que seria do amanhã.
Não há mais casos de Covid no meu quilombo
Não há nenhum caso de Covid-19 na minha comunidade e, graças a Deus, não faleceu ninguém por causa dessa doença. No entanto, o período de pandemia pra mim foi muito difícil. Tive depressão e não saia de casa. Por outro lado, nos unimos ainda mais na minha comunidade.
Não perdi ninguém da minha família. Todavia, a minha mãe pegou Covid-19. Ela tem 54 anos. Cheguei a pensar que a perderia para essa doença, pois ela ficou muito mal. Então, pedi proteção ao senhor divino Espirito Santo e redobrei os cuidados com ela. Ainda bem, não fui infectada.
Por fim, a minha amada mãe se recuperou, está vacinada e muito bem de saúde. Deixo aqui o meu conselho a você que lerá o meu relato: vacine-se. Não esqueça a segunda dose nem a de reforço. A pandemia ainda não acabou, e precisamos unir forças para que esse período termine logo e possamos voltar à normalidade.
Somos carentes, e essa pandemia nos afeta ainda mais. Por isso, precisamos de cestas básicas. A princípio, tenho três filhos e dez netos. Eles moram em uma comunidade muito carente e, graças a Deus, já arrumaram emprego.
Mesmo assim, a renda não dá para quase nada. Temos que pagar aluguel, luz e água, não conseguimos comprar alimento e por isso precisamos de cestas básicas. Meus filhos não ganham bem e suas esposas ganhavam 600 reais do Auxílio Emergencial, que depois reduziu a R$300. Então, a situação piorou, pois como elas têm filhos pequenos, não há possibilidade de trabalhar e cuidar das crianças.
Meus filhos tiveram até suspeitas da Covid, com sintomas leves. Mas não temos certeza se fomos infectados, porque eles não fizeram o teste. Fico preocupada, pois eu, como mãe e avó, não saberia o que fazer, caso eles contraíssem a doença. Quem iria socorrê-los?
Projeto União do Xangrilá distribuiu cestas básicas
Um grande alívio foi o recebimento de cestas básicas. Conseguimos e temos esperança de conseguir, no projeto na União do Xangrilá, mais cestas básicas, o que para nós é de grande valia.
Por fim, há algumas pessoas que até deixam suas casas, seus aluguéis e estão indo morar nas ruas. Pois, como sobreviveremos com 300 reais hoje em dia? Não há como! A gente tá tentando sobreviver no dia a dia, sem ter quase nada. Mas, Deus sabe de todas as coisas. Então, queria que vocês olhassem mais por nós, que somos carentes de ajuda. Muito obrigada e passem bem. Se cuidem.
Me chamo Lindomar Vieira, sou do Guerreiro da Esperança do Xangrilá. Estamos aqui no projeto da União.
foto em preto e branco sobre impactos da pandemia para o povo Tuxá.
Sou estudante do Colégio Estadual Indígena Capitão Francisco Rodelas, onde curso o segundo ano do ensino médio. Diante da nova realidade que enfrentamos devido a pandemia, tivemos que aderir ao ensino através das aulas remotas.
Esse formato era um grande desafio tanto para os alunos como para os professores que não estavam acostumados com esse modo de ensino. Contudo, a nossa escola conseguiu desenvolver um bom trabalho diante das circunstâncias.
No entanto, um fator que ficou prejudicado com o isolamento social, foi a prática dos nossos rituais sagrados. Tivemos que mudar também a nossa rotina, para nos proteger e assim proteger nossos anciões.
O meu maior desejo é que tudo isso passe logo para que possamos voltar a nossa rotina, cheios de esperança por um mundo mais solidário e humanizado. E que as pessoas aprendam a dar valor às coisas importantes como um abraço, e que continuem valorizando o que temos de mais importante que é a família.
Meu nome é Aline Apako Arfer Jurum Carraté Tuxá, tenho 17 anos, moro em Rodelas-BA, e sou indígena pertencente ao povo Tuxá Aldeia Mãe.
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