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“Apesar de vacinado, sinto a minha vida em risco diante das novas variantes”

para falar do momento da vacinação, é necessário voltar no tempo. Ao acompanhar manchetes diárias com o anúncio de varias mortes, sentia dor e medo. Pois, era como jogatina macabra do desgoverno em dificultar a vacina à população. Sentíamos muita insegurança. Nosso direito à vida foi desrespeitado cruelmente. Inicialmente, não sabia se seria vacinado. Então, sofri uma angustia muito forte.

Porém, chegou o dia 1º de junho e recebi minha primeira dose, o que me fez sentir fortalecido, aumentando a minha confiança. Mesmo assim, antes da insegurança do acesso à 2ª dose, a tortura mesmo reduzida perdurou até o dia 01/09/2021.

Hoje, mesmo imunizado, continuo inseguro. É que anunciam novas variantes, falam agora da Variante Mu, que apareceu na Colômbia e Equador.

Na foto, é possível ver o cartão de vacina de Ângelo Bueno com as duas doses contra a Covid-19. Imagem acompanha o relato Sinto a Minha Vida em Risco Diante das Novas Variantes, para a Memória Popular da Pandemia.

Um pouco da minha história

A região onde eu nasci fica a uma hora e meia da capital de São Paulo, a oito horas de Belo Horizonte e cinco horas do Rio de Janeiro, entre as Serras da Mantiqueira e a Serra do Mar. Se você subir, em duas horas chega ao Sul de Minas Gerais. Se você descer, em uma hora e meia, chega ao Mar. Foi ali onde nasci, no Vale do Rio Paraíba do Sul, em Jacareí – SP.

Na adolescência ingressei nas produções artísticas, jogos e poesias. Participei com Doni, um dos meus irmãos. Em algumas peças teatrais ensaiamos um som para um festival estudantil.

Com uma letra, um refrão (Cabeça, cabeça quero falar, Cabeça quero dizer o meu pensar de cabeça iê), talvez nessa ingênua frase, tenha surgido o sonho de ser escutado, clamando a metamorfose da sociedade, sonhando com a revolução popular democrática de direito.

Em 1982, me aproximo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Foi então, quando comei a me relacionar com povos indígenas e comunidades tradicionais. Por intermédio de Jussara e Alberto Capucci, fui apresentado ao regional Sul , iniciando minha inserção, passando um longo período em estágio em Xanxerê SC, Diocese de Chapecó. Nessa época, pude vivenciar aspectos da vida cotidiana na região e conviver com a representação dos agricultores rurais, cooperativas e membros do Movimento Sem Terra.

Vida de aprendizados

Conhecer Pernambuco com essas diversas vivências, urbanas, rurais, dentro dos territórios indígenas, me fez delirar e acreditar, que só por Deus mesmo, os Santos e Encantos, com todos os Orixás e a graça da Mãe Jurema, torna-se possível resistir às imposições do mundo, das oligarquias, do corporativismo das instituições de representação do estado.

Desta forma, o Nordeste me acolhia, me fazendo anestesiar dores, demonstrando novos caminhos, me permitindo reconstruir Ângelo Bueno à Babau e Outros 50.

Ainda assim, vivemos sob o regime das capitanias hereditárias. Famílias se entrelaçam no revezamento mantendo-se no poder, por isso é importante cada palmo de terra, cada fazenda retomada, modificar os mapas, revisar leituras geográficas.

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25 a 39 anos Mulher Cis Parda Pernambuco Pós-Graduação Completa

“Para nós, mulheres rurais, um dos desafios foi continuar nos articulando”

Antes de mais nada, moro em um município pequeno e para mim esse contexto da pandemia tem sido de grandes desafios:

Desafios quanto a ser mulher chefe de família, quanto a ser mãe de duas adolescentes, desafios enquanto militante em movimentos. Além de desafios frente aos encontros e desencontros da vida.

Acredito que vivemos aqui no Brasil um verdadeiro caos. A maioria das pessoas ignora o fato de estarmos passando por um momento muito sério, em que o vírus da Covid-19 já tirou a vida de milhares de seres humanos.

Durante essa pandemia, para nós, mulheres rurais, um dos desafios foi continuar nos articulando. Com o distanciamento social, nos vimos cada vez mais dependentes das mídias digitais como forma de continuarmos nos comunicando e nos articulando enquanto movimento social. 

Foi a partir daí, das dificuldades de muitas companheiras de não saber lidar com esse mundo digital, que percebi que nós, mulheres rurais, ainda somos totalmente analfabetas digitais e pessoas alheias a esse mundo digital. Mesmo frente a tudo isso, acredito que vamos sair desse período de pandemia mais fortalecidas(os).

Leia também:

“A adaptação não foi fácil. Tive momentos de estresse, nostalgia, e uma sensação de estar dentro de um círculo se fechando ao meu redor” – Andréia das Neves | Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais – Angelim (PE)

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“A adaptação não foi fácil. Tive momentos de estresse, nostalgia, e uma sensação de estar dentro de um círculo se fechando ao meu redor”

A princípio, a adaptação a esse novo contexto de distanciamento social e isolamento não foi fácil. Principalmente no início. Sobretudo, tive que me habituar com o fato de não poder abraçar as pessoas que gosto, sendo que o abraço para mim é algo tão natural e espontâneo.  

Por gostar de estar sempre em movimento, engajada com atividades, o período mais difícil para mim foi o isolamento nos meses de pico da pandemia. 

Do mesmo modo, durante o isolamento, tempo em que fiquei praticamente sem sair de casa, no meio rural, sem contato com outras pessoas para além da minha família, tive momentos de muito estresse.

Às vezes, senti nostalgia, e uma sensação de estar dentro de um círculo se fechando ao meu redor. 

Adaptação da rotina

Sou mulher rural, estudante, feminista e integrante do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais de Pernambuco (MMTR-PE),

O período dentro de casa implicou em muitas coisas. Tive que me readaptar e reorganizar toda minha rotina, seja de estudos ou de trabalho. Não foi fácil, pois tive que assumir parte das atividades domésticas. Além da responsabilidade com meus dois irmãos mais novos, um de 7 e outro de 8 anos. 

Em meio a tudo isso, e enfrentando as limitações e algumas dificuldades, consegui me manter, sempre que possível e mesmo que de forma virtual, participando do movimento, estudando e trabalhando. Isso foi fundamental para preservar tanto minha saúde emocional quanto física.