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25 a 39 anos Distrito Federal Ensino Fundamental Incompleto Mulher Cis Prta

“Eu não conseguia mais pagar aluguel e fui morar na rua”

Eu me chamo Bruna. Sou mulher cis preta, tenho 26 anos, mineira, resido em Planaltina, no Distrito Federal (DF), possuo ensino fundamental incompleto e sou redutora de danos.

No começo da pandemia do Covid-19, eu achava tudo maravilhoso, já que minha mãe, que trabalhava em um hospital regional pela Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (FUNAP/DF), onde surgiu a primeira vítima do Covid-19 no DF, foi afastada do serviço por ter comorbidade e fazer parte do grupo de risco.

Porém, desse dia em diante, muita coisa mudou. A pandemia se alastrou em Brasília, no Brasil e no mundo, matando milhares de pessoas. A minha vida também passou por transformações: eu não conseguia mais pagar aluguel e fui morar na rua.

Na rua, eu só aprendi coisas ruins: usei drogas, consumi muita bebida alcoólica, caí na farra. Contudo, também tive coisas boas: conheci pessoas legais. Na época em que eu estava na rua, minha mãe estava presa e isso mexeu comigo. Ela era tudo o que eu tinha para me manter firme. Eu queria visitá-la, mas não conseguia. 

“Gostaria de agradecer aos profissionais da saúde, cientistas e governantes que têm trabalhado muito para garantir a saúde e combater a pandemia. Eles têm toda a admiração e apoio desta ex-moradora de rua”

Volta por cima: apoio e trabalho para garantir o sustento da família

Foi uma fase muito difícil até eu conseguir me organizar para o retorno da minha mãe para casa. Nesse período eu conheci algumas pessoas que me deram oportunidade de trabalho, participei de alguns projetos nas Tulipas do Cerrado e no Coletivo Aroeira, que me ajudam, esclarecem minhas dúvidas.

Eu vejo que estou crescendo a cada dia, é crescimento pessoal e foi graças a essas oportunidades que hoje me sinto vitoriosa: eu pago meu aluguel, junto meu dinheiro, cuido da minha mãe e não moro mais nas ruas.

Além disso, com a ajuda de amigos que me orientaram, passei a receber a Bolsa Família, um benefício que eu não sabia que poderia ter e que tem me ajudado muito.

Sou grata a Deus e a essas pessoas, que também têm sido meu apoio para progredir na vida. Mesmo com muitas dificuldades causadas pela pandemia, eu me encontro saudável, cuidando da minha mãe, estudando e trabalhando para garantir o nosso sustento.

Por fim, gostaria de agradecer aos profissionais da saúde, cientistas e governantes que têm trabalhado muito para garantir a saúde e combater a pandemia. Eles têm toda a admiração e apoio desta ex-moradora de rua.

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40 a 59 anos Distrito Federal Ensino Médio Completo Mulher Cis Parda

“Com a chegada do Covid-19, conheci a depressão e a ansiedade”

Eu sou Gilmara, mais conhecida como Juma, apelido que ao longo dos anos se transformou meu nome social. E é assim que prefiro ser chamada. 

Minha história não tem nada a ver com as narrativas mostradas em novelas ou em contos de literatura. Ela vem imbuída de uma realidade incrivelmente assustadora e cativante. Como qualquer criança, também tinha meus sonhos e fantasias. Mas muito cedo, mais precisamente com dez anos, tive de lidar com situações demasiadas complexas para uma criança, como por exemplo o falecimento de minha mãe, que aconteceu durante uma de suas saídas solitárias de Alexânia, local onde morava, próximo a Brasília, cidade que ainda é meu lar.

Passei por uma série de violações de direitos por parte do Estado e tudo se apresentava como um grande obstáculo à minha frente. A mim eram negados os direitos fundamentais: à moradia, à uma boa alimentação, ao lazer, à infância, à segurança, à saúde

Situação de rua

Desde muito cedo tive que aprender a cuidar de mim e, por mais nova que fosse, já entendia a importância de continuar os estudos. Desde aquela época, eu tive a rua como lar e isso durou muitos anos. Ainda em situação de rua, frequentei a escola regularmente até conseguir completar a sexta série do ensino fundamental. Eu passava o dia na instituição, com minha pequena bolsa na qual carregava cadernos, livros, diversos lápis e objetos pessoais, meu verdadeiro “estojo de identidades”.

Morar na rua não era nada fácil, mas eu me reinventava a cada dia e posso dizer que resistência é o meu sobrenome. Passei por uma série de violações de direitos por parte do Estado e tudo se apresentava como um grande obstáculo à minha frente. A mim eram negados os direitos fundamentais: à moradia, à uma boa alimentação, ao lazer, à infância, à segurança, à saúde. Na rua, entendi o motivo pelo qual o uso de drogas se faz tão presente e todas as dores que esse uso esconde.

Posso dizer que ela [minha filha] tem sete pais, pois naquela noite chuvosa sete homens forçaram o livre acesso ao meu corpo. Na época eu tinha apenas 13 anos de idade e os homens eram policiais. Pessoas que, teoricamente, deveriam me proteger, eram os meus algozes

Uma filha, reunião de tudo que era mais bonito e sincero

Neste contexto de violações, tive minha filha, que reunia tudo de mais bonito e sincero que eu tinha dentro de mim. Posso dizer que ela tem sete pais, pois naquela noite chuvosa sete homens forçaram o livre acesso ao meu corpo. Na época eu tinha apenas 13 anos de idade e os homens eram policiais. Pessoas que, teoricamente, deveriam me proteger, eram os meus algozes. 

No ímpeto de querer propiciar um melhor ambiente para o desenvolvimento de minha filha, deixei-a com uma conhecida, com a qual sabia que poderia ofertar um contexto melhor para seu crescimento. Essa foi uma entre tantas decisões difíceis que se materializaram em meu caminho. 

Conheci o trabalho sexual e com ele todo o glamour de se sentir conhecida e bem remunerada. Mas esse período também culminou em uma face mais complexa do uso de drogas. Já estava estabelecendo uma relação problemática com esse consumo e a violência estava cada vez mais presente no meu cotidiano e na rua. 

Justamente neste momento fui presa e digo que, no meu caso, esse fato serviu para despertar em mim a vontade efetiva de mudança. Não existia nada naquele local que me empoderava e eu precisava sair dali, voltar para minha filha.

Foi pensando neste período de minha história que sinto novamente a necessidade de aprofundar meus conhecimentos por meio do ensino superior e vejo neste sonho uma excelente oportunidade para minimizar as vulnerabilidades que passei

Recomeço: trabalho com redução de danos

Ao sair do sistema prisional e, com o passar dos meses, me descobri redutora de danos, profissão que levo comigo até hoje, dezesseis anos depois. A Redução de Danos pegou minha história de vida, experiência, liderança, e sobretudo, a minha vivência com as drogas e fez daquilo um instrumento de trabalho. 

A partir daí comecei a me dedicar ao trabalho com pessoas que fazem uso de drogas. Eu exerço esse trabalho por amor e quero me aprofundar cada vez mais nele. Já com esta grande descoberta de profissão, veio a necessidade de terminar os estudos e consegui. Foi pensando neste período de minha história, que sinto novamente a necessidade de aprofundar meus conhecimentos por meio do ensino superior e vejo neste sonho uma excelente oportunidade para minimizar as vulnerabilidades que passei e uma chance de dar continuidade a outros sonhos.

Com a chegada do Covid-19, conheci a depressão e a ansiedade.(…) Eu não consigo segurar minhas lágrimas e fico agoniada ao pensar em minhas companheiras que estão em situação de rua

Chegada da pandemia e a depressão

Eu sou mãe, avó, ex moradora de rua e ex usuária de drogas. Com a chegada do Covid-19, conheci a depressão e a ansiedade. Passei a usar antidepressivos. Eu não consigo segurar minhas lágrimas e fico agoniada ao pensar em minhas companheiras que estão em situação de rua, com as mulheres que são provedoras de lares tendo que se colocar nas ruas para manter sua sobrevivência. 

Eu, em momento algum, pude me colocar em isolamento pois há um grupo grande de mulheres que são acolhidas por mim. E, apesar de estar nos cuidando desse público, tive a sorte de não me contaminar com o Covid-19. Porém, é grande o sofrimento ao ver algumas de nossas entes queridas morrerem por causa dessa pandemia.

Me nego a ocupar o espaço marginalizado que a sociedade cotidianamente me coloca

Retrato da resistência e da ressignificação de vida

Diante de tudo que aconteceu em minha história, vejo o quão difícil foi chegar aqui, mas não me vitimizo em qualquer momento. Me nego a ocupar o espaço marginalizado que a sociedade cotidianamente me coloca e busco construir um mundo melhor tanto para mim, minha filha e todos os companheiros de rua, tão silenciados pela mediocridade das políticas públicas. Vou seguir realizando meu trabalho na esperança de dias melhores.

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60 anos ou mais Amazonas Ensino Médio Completo Mulher Cis Parda

“A pandemia ainda não passou e pode voltar a seu estado mais crítico”

Eu sou Maria Auxiliadora Pereira e Silva, mais conhecida como Dora Caprichoso. Trabalho no Curral [da Associação Cultural Boi-Bumbá Caprichoso] há vinte anos. Comecei [no setor de] serviços gerais e hoje sou diretora do Curral, desde 2016.

A pandemia me trouxe uma tristeza muito grande pois fui obrigada a me ausentar do Curral. Passar meses fora daqui foi a maior tristeza que senti. Fiquei muito abalada quando vi as pessoas morrerem e deixei de assistir o jornal. Foi um desespero, fiquei muito nervosa e acabei trazendo isso para a minha vida. 

Agora já estamos vivendo momentos melhores e espero que não voltemos mais àquela situação. Ainda que o momento mais crítico da pandemia tenha passado, a gente continua a sentir tristeza pelas pessoas que morreram e, dessa forma, a pandemia deixa marca. Perdi amigos queridos e isso me entristece muito. Eu não gosto muito de falar porque sinto uma dor muito grande no meu coração. 

Espero que isso [a pandemia] termine definitivamente. Por ser uma cidade pequena, Parintins foi bastante afetada. Pessoas como eu ficaram desesperadas por não poder trabalhar.

Minha experiência na pandemia

Quando chegou em agosto de 2021, o presidente [do Boi Caprichoso] me perguntou se era hora de voltar ao trabalho e eu retornei ao Curral porque já não aguentava mais o sofrimento de ficar em casa sem poder fazer nada. Muitos sócios queridos do Caprichoso morreram e ao ficar em casa, sem poder fazer nada, me deixava ainda pior. 

Eu espero que, daqui para frente, tudo volte ao normal. Espero que possamos viver como antes, com alegria, com festas. Quero poder passear, tirar um dia para lazer sem a preocupação de não poder estar em determinado lugar por causa do Covid-19.

“A pandemia ainda não passou e pode voltar a seu estado mais crítico, mas se a gente se respeitar e continuar usando a máscara, a gente vai ter um final muito feliz.”

Eu também espero que as pessoas se respeitem uns aos outros, que continuem usando máscara até que tudo isso passe. Se todos colaborarem, a pandemia acaba. Espero que, na idade que estou, não presencie mais uma pandemia dessas. Ela foi tão triste para nossas vidas. Não só pra mim, para todos.

Agora em diante, gostaria que todo mundo respeitasse uns aos outros, continuasse se distanciando, usando máscara, se prevenindo. A pandemia ainda não passou e pode voltar a seu estado mais crítico, mas se a gente se respeitar e continuar usando a máscara, a gente vai ter um final muito feliz.

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25 a 39 anos Ensino Superior Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Parda Raça/Cor Santa Catarina

“Tenho mais medo da violência do que das doenças”

Acho que hoje tenho muito mais medo da violência do que das doenças. Por sorte, vivemos em um lugar ainda bastante seguro.

Mas meus anseios são quanto à segurança, principalmente com meu filho. Durante a pandemia, eu até certo ponto fiquei tranquila em saber que ele estava ali, dentro de casa, protegido não somente do vírus, mas do mundo.

Consegui me desligar um pouco do mundo e entender um pouco mais sobre o que eu gostava de fazer. A pandemia me trouxe isso, saber o que eu gosto, quais são os meus interesses e as minhas prioridades.

Na pandemia eu me dei prioridade.

É claro que essa doença avassaladora destruiu o emocional da população. Muitas baixas. Mas vejo como um sinal do mundo dizendo: “hei, pessoas, parem, respirem, vejam o céu azul, o vento…”

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25 a 39 anos Branca Mulher Cis Paraná Pós-Graduação Completa Sem categoria

“A pandemia isolou minha gestação”

A gestação de minha filha foi ainda antes de todo esse contexto de pandemia, mas fiquei bastante frustrada por ter que vivenciar algo tão desejado, como a gravidez, em isolamento, distante até mesmo de minha família. Foi, então, que, durante um desabafo com o Eduardo, fundador da ONG Nariz Solidário, ele me provocou dizendo: “você é palhaça, seja criativa!”. Fiquei com aquilo na cabeça e pensava: “mas como?”

Tenho 33 anos, sou pedagoga, contadora de histórias, e trabalho de forma voluntária como palhaça na ONG Nariz Solidário, espaço em que busquei doar meu tempo e que me proporciona crescimento em cada uma das ações.

A arte sempre me colocou sob a necessidade de escutar o outro, mas, primeiramente, precisava ouvir a mim mesma. Foi assim que os treinamentos do Nariz Solidário me ensinaram sobre aceitação pessoal. Entre encontros e oficinas, redescobri a essência de minha palhaça: reencontrei-me enquanto pessoa, reconciliando-me com a minha infância e descobrindo uma nova mulher. Só a partir daí realizei um dos meus maiores sonhos: a maternidade.

Paracegover: Nesta foto, Elenice está sentada na grama ao lado de Eduardo. Ela está de calça preta com bolinhas brancas, usando nariz de palhaço e tiara laranja na cabeça. Elenice veste um top que cobre apenas seus seios e deixa sua barriga amostra. Ao seu lado, Eduardo está agaixado e fitando sua esposa com um largo sorriso no rosto. Eduardo é um homem branco de meia estatura, veste uma camiseta preta, calça jeans, óculos e boina preta.

Mas aí veio a pandemia…

Queria exibir meu barrigão e minha alegria para o mundo e não podia nem sequer sair de casa. Fui refletindo e, um dia, me veio a ideia de fazer autorretratos em casa, para não perder cada fase do crescimento daquela vida que vinha crescendo em mim.

Antes, minha ideia era fazer um book de gestação na montanha, já que sou montanhista e minha gravidez estava tranquila e saudável. Mas, com a necessidade de cumprir com o distanciamento social por conta da pandemia, meu mundo passou a girar em torno de quatro paredes.

Além disso, a provocação de Edu fez surgir em mim a ideia de registrar uma das atividades que compunham parte de meu trabalho remoto: a contação de histórias. Realizava duas vezes por semana lives para crianças da educação infantil e, ao final de cada enredo, eu me fotografava. Foi lindo. Usava figurinos e elementos específicos para cada temática. O tempo passava mais rápido e mais leve. Em agosto de 2020, minha Ana Clara nasceu.

Outro misto de alegrias e dores

Estava muito feliz por, enfim, ver meu bebê. Mas triste por ter que evitar contatos externos. Mesmo durante a licença maternidade, preferi não me afastar da família Nariz Solidário, mantendo contatos remotos, devido à pandemia. E, apesar de ter menos tempo devido às novas demandas exigidas pela maternidade, não abandonei as oficinas oferecidas pela ONG. As aulas trouxeram um sentido para o meu viver, já que, através delas, e por meio da “arte da palhaçaria”, consegui levantar diariamente com entusiasmo para enfrentar os obstáculos do isolamento social.

Com 22 semanas de gestação, hoje, uma nova vida cresce em mim, e sinto-me a pessoa mais realizada do mundo. Tudo isso devo às oficinas do projeto “De Nariz para Nariz”. Ao realizar os treinamentos em casa, brinco com a minha pequena e improviso cenas simples, que me divertem e a fazem rir.

Paracegover: A foto mostra Elenice, uma mulher branca com cabelos curtos de coloração castanha, sentada em uma poltrona, com um violão ao lado. Na parede, há corações rosas colados e um urso panda apoiado  sobre a almofada da poltrona. Elenice veste uma tiara de laço vermelho com bolinhas brancas, mesmas cores de sua camiseta polo. Na foto, Elenice está sorrindo e com a mão apoiada em sua barriga grávida de aproximadamente 5 meses.

Ana Clara tem menos de dois anos, mas sua pureza e encantamento com pequenas coisas a fazem rir de situações que, geralmente, nós adultos, reclamamos. Cada gargalhada que ela solta quando eu bato o cotovelo sem querer na mesa, por exemplo, me permite refletir e fazer daquilo um jogo lúdico, repetindo a ação apenas para ver seu sorriso.

A arte me prepara

A arte me prepara e me ensina. Sua presença em nossas vidas transborda tanto amor, que eu e meu esposo escolhemos ter nosso segundo bebê. Hoje, temos o Francisco a caminho! Nos últimos tempos, aprendi que a vida está aí para ser vivida: intensamente, dentro de qualquer possibilidade!


Relato produzido pela Associação Nariz Solidário para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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60 anos ou mais Distrito Federal Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Prta Raça/Cor

“Essa pandemia não vai acabar”

Relato de Heddy Lamar, produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

A pandemia não vai acabar. Eu acredito que não.  E vai ser como a vacina para a H1N1, todo ano a gente vai ter que tomar. Agora, ela é uma coisa mais grave do que a H1N1, bem mais grave, então tenho certeza de que a gente vai conviver com isso para sempre. E estou pensando agora, que já liberaram o carnaval do Rio de Janeiro, tenho neta que mora no Rio de Janeiro, eu ia muito ao Rio, para Copacabana assistir ao desfile.

No início, quando a gente via todas aquelas coisas na televisão, apavorantes, eu ficava sem acreditar. A televisão é um meio de comunicação que te envolve muito, causa medo. No entanto, achava que aquilo era um filme que estava assistindo. A ficha caiu mesmo foi quando eu peguei a doença, mesmo tendo ficado em quarentena. Não saia, ia ao mercado às 7 horas, logo que abria. Quando estava abrindo, eu estava entrando.

A gente sempre acha que irá acontecer com o vizinho, mas não com a gente, mas aconteceu, mesmo já estando vacinada com as duas doses, tive Covid. 

A pandemia pode não acabar, por isso já estou imunizada    

Eu já tomei a terceira dose da vacina contra a Covid, mas se tiver a quarta, eu tomo também. No início, eu julguei a vacina, mas eu tomaria, não deixaria de tomar por nenhum motivo. É um teste para meus netos, para meus filhos, para meus bisnetos. Eles têm que começar pelos mais velhos. Então foi aperfeiçoando mais, logo as crianças vão começar a tomar. Acho que está tudo certo agora, pois uma vacina para ter uma eficácia cem por cento, ela tem que ser testada de dois a três anos, e não por meses.

Hoje eu penso: meu Deus, o tumulto que é no ano novo. Todo mundo gosta, quem não gosta? E já liberou, então já vai ter réveillon neste final de ano, e vai ter carnaval também. Então, o que você acha que vai acontecer ano que vem? Tudo de novo!

Por exemplo, aqui em Brasília, como estava passando desde ontem na reportagem sobre novos hospitais de campanha. O governador respondeu: “prevenindo”. Por que prevenindo? Por que ele tem a certeza de que a bomba vai estourar novamente? E por que vai liberar? O financeiro, o poder público… vai liberar por isso. Então, tenho certeza de que o ano que vem a Covid vai voltar com força total. 

“Se tiver terceira ou quarta onda vai ser muito pior”

Então, se não estivermos em cima das pesquisas para a vacina, para que ela seja eficaz, isso aí vai ser para o resto da vida. E se tiver terceira ou quarta onda, vai ser muito pior. Um ou dois anos acredito que não, exatamente que falei no início, é o período do tempo para uma vacina ser segura ser feita é de três anos para lá. Então, dois anos ainda para frente, a nossa guerra ainda vai continuar. Mas a gente não pode deixar de ser otimista.  

As vezes a gente responde assim, enganando a si próprio, porque quero ver todo mundo bem. É isso que a gente quer. Mas não é isso que os governantes estão ajudando a gente a conseguir. A cada dia que ligo a televisão e falam sobre isso, fico mais para baixo, sem confiança, sem esperança de que isso irá melhorar rápido. Não é isso que eles querem.  Se eles virem que a Covid vai render muito financeiramente, isso aí não vai acabar. Por isso lhe digo que minha perspectiva não é das melhores. Por dois anos pela frente, não! A não ser que mude muita coisa aí.

“Como acreditar que a pandemia vai acabar?”

Enfim, quando eu vi, isso é uma coisa que ficou gravada na minha mente, fiquei imaginando uma pessoa a pegar um corpo de um ente querido, de um familiar.

Os corpos sendo refrigerados dentro de contêineres, no estacionamento de um hospital, como aconteceu lá em Manaus! Isso é muito triste, gente. Isso é uma coisa de arrepiar. E pessoas morrerem por falta de ar, por não terem cilindros de oxigênio para respirar porque os hospitais não têm. Como é que a gente acredita em um país desse? Como acreditar que pode melhorar em pouco prazo?  

Mas, enfim, por isso acredito que a pandemia não vai acabar tão cedo. Não sei se estou certa ou estou errada, mas eu penso desta forma. Eu fico muito triste com isso, porque eu amo tanto meu Brasil. A gente tem uma riqueza tão grande, a gente podia ser um país tão lindo e maravilhoso. Se eu tivesse condições,  pegaria meu povo todo e sairíamos daqui!  

Eu tive cinco filhos, e perdi o mais velho, com AVC, com quarenta anos, era o Marcel, e quatro meninas. Um homem e quatro mulheres. Desses cinco filhos, foram onze netos e três bisnetos. Eu sou de Belo Horizonte, sou nascida em Belo Horizonte, morei um tempo no Rio de Janeiro, mas me considero pioneira, moradora de Brasília. Eu vim passear em Brasília em 1965, e estou passeando até hoje. Aqui eu formei minha família, então, agora, minha vida é em Brasília. Todos os meus filhos e netos nasceram aqui. Só uma bisneta, das três que eu já tenho, nasceu em São Paulo, é paulista, mas as outras todas nasceram aqui em Brasília.

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“Durante a pandemia eu orava pedindo a Deus que me acalmasse”

Relato de Marilza Xavier, produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

quando começou a pandemia, eu fiquei com muito medo. Fiquei nervosa, então quando eu ia dormir assim na noite, nossa eu falei assim: ai meu Deus, se eu amanhecer com essa coisa né, aí eu ficava orando pra Deus me dar calma, porque eu fiquei muito nervosa, eu chegava parecia que eu tava andando assim nas nuvens, pisando assim. Foi de nervoso né, e até hoje ainda eu estou nervosa. 

Eu tenho medo, eu falo assim: “ôh meu Deus, a gente não tem com essa doença traiçoeira, né? a gente não tem, sei lá , segurança”. Imagina, eu tomei as duas doses e vou tomar no dia 04 agora de novembro o reforço, a terceira dose. 

Os acontecimentos que mais marcaram esse processo da pandemia, foram as mortes das pessoas. Todo dia vendo notícia da televisão que informava: morreram tantos! Isso daí me impressionou muito, e pressiona muito, né? Foi quando eu deixei mais, assim, de ir na reunião da igreja, sabe, vejo mais tudo pela televisão, os cultos que vai ter, né? Não vou mais quase em feira, em mercado. 

Diminui a ida aos cultos na igreja

É porque eu gostava muito de ir à igreja, eu ia quarta, sexta, aí eu diminuí, tenho tudo aqui dentro de casa.  Porque eu tenho cisma, sabe? Se eu cismar com uma coisa, aí que eu fico nervosa, parece até que eu estou doente já, de nervoso. Depois que eu ainda perdi essas pessoas, né, os entes queridos, ainda que me dá mais angustia! Aí eu não saio muito não, porque se eu sair e se aparecer mais de dez pessoas, nossa aquilo pra mim já estou vendo um povão, sem tá vendo, parece que é na minha mente né, ai eu deixo vim embora. 

Cheguei aos 81. Em maio, eu faço outro aniversário, se Deus quiser. As meninas farão um bolo. Eu vivo assim mais estou vivendo bem. Eu me alimento bem direitinho, faço as coisas nada assim, como só quando eu devo, não fico me enchendo de besteira, comendo bobagem, doce. Que eu gostava muito de comer doce. Agora eu mesmo, por mim, estou cortando, porque às vezes a gente se sente mal. E assim eu estou vivendo. Se eu fiquei sem Joãozinho, sem a Ju, foi porque Deus quis. 

Eu até que não chorei muito porque eu pedir tanto a Deus, Deus eu não quero, eu sei que eles faleceram, a morte não tem volta, a gente tem que pedir isso a Deus. Quando bate uma saudade boa, eu lembro que eu passeava muito com ela, ela me levava para passear, me levava no shopping. Então aí eu vou. 

Quando a pandemia passar eu também vou à ceia da igreja, se Deus quiser, quando eu estiver bem segura assim que eu possa ir nos lugares. Todos os anos eu ia à ceia.

Perspectivas para o futuro

Eu tenho assim né mais pra frente, eu acho assim que eu já perdi, eu não sei né, eu acho que era só esses agora, então aí vou ver se eu vivo melhor né, não ficar assim pensamento só em morte, coisa ruim né, nem nessa pandemia passando, aí pronto, eu acho que eu vou viver bem! Até no dia que eu tiver ter que ficar aqui nessa terra né. E sempre eu sou assim mesmo, eu sou sempre eu fui caseira, eu saia assim com a minha neta que se foi sabe, viajava saia muito. Mais eu sempre fui muito caseira assim, não fui muito de ficar assim passeando sabe, em festas, mais nisso tudo eu vivo bem. Está entendendo. 

É, boas expectativas do futuro né. Vamos ver, entrando o ano dos meus 82, 83, como vai ser né. Se eu vou ficar assim forte como eu ainda estou né. Eu não ando não é porque eu não posso é porque eu não gosto e pra mim eu não posso ver muita gente, tumulto eu não posso porque ataca meus nervos e parece que aquilo já é uma coisa muito ruim para mim. Então, eu prefiro ficar mais isolada. E assim nós vamos vivendo chegando na nossa idade feliz, porque a morte não traz muitos,  não é feliz, mais deu pra me superar bem né, que eu não fiquei assim com a minha cabeça doente, que eu acho digo assim na minha cabeça me atormentando né, porque eu só tenho saudade boa. 

Eu vou levando agora quando eu falo né, agora a gente tem que levando a vida né, que a vida se segue né. Cada um de nós tem uma missão e ela acaba no momento certo. Se vai um mais velho, se vai um mais novo e fica mais velho, é porque era o seu destino.


Leia também o relato de Joana Apako Caramuru Tuxá, do município de Rodelas, na Bahia: “Passei a não assistir mais aos jornais e procurava não ler sobre o assunto”

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60 anos ou mais Distrito Federal Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Prta Raça/Cor

“Tudo o que está acontecendo já era predestinado”

Relato de Margarida Silva, produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

Tragédias como pandemia e vulcões que estão acontecendo no mundo, tudo já estava predestinado a acontecer, e virão, ainda, outros desastres pelo que eu sei. Logo, a solução é se prevenir e esperar, ver o que é que Deus tem pra fazer com cada um de nós, porque ninguém tá livre de nada. Só que eu não tenho medo, apesar de esperar viver mais tempo, ainda. Eu perdi uma irmã há pouco tempo, ela tinha 90 anos, nem óculos usava. Fazia até labirinto, um bordado feito em grades.  

Quando eu me casei, tinha medo de morrer e deixar os meus filhos pequenos sofrerem o que eu passei. Eu e outras irmãs passamos por isso. Hoje, quero viver até a hora que Deus achar que está bom. Embora eu tenha alguns problemas, a minha mente não foi afetada. Ao contrário, a minha mente é lúcida, tranquila. Tudo o que eu fiz, tudo o que eu consegui, foi já depois de idosa. Eu era louca para estudar, terminar meus estudos e não conseguia. Trabalhava muito, era aquela correria toda. Até que decidi fazer um concurso. Passei na Fundação Educacional, terminei o segundo grau, fiz curso de inglês, tudo depois de idosa, com 50 anos. 

Enfim, tudo o que eu consegui, hoje não preciso mais, graças a Deus. Hoje, estou só curtindo. Minha mente está boa, eu resolvo tudo sozinha. Eu vou ao banco, eu vou para todo o canto que eu tiver de ir e vou sozinha. 

Destino predestinado

Nasci em Fortaleza, no Ceará. Cheguei em Brasília em 1967, depois que meu pai faleceu. Eu e minhas irmãs ficamos desgarradas, porque ele já tinha outra família, havia casado pela segunda vez e tinha um monte de filho pequeno. Eu e minhas irmãs já éramos adultas. Fiquei em Fortaleza trabalhando com bordados para uma espanhola.

Um dia, após a morte do meu pai, cheguei de roupa preta à casa da espanhola, para trabalhar, quando ela me perguntou: “o que foi que houve? Porque você está com essa roupa?” Respondi: “é porque meu pai faleceu”. Eles se conheciam. Ela, então, me sugeriu uma viagem, dizendo que eu estava muito abatida. Eu disse que queria ir para outro canto, então ela me disse que arranjaria, mas se fosse numa casa de família.

Só queria sair dali um pouco. Queria ser enviada ao Rio ou à Bahia, porque era onde ela tinha parentes. Entretanto, o destino estava predestinado. A espanhola me enviou à Brasília com um pessoal. Eu vim e, logo em seguida, arranjei meu namorado aqui. Sei que abri caminho em Brasília para a maioria do meu povo. Hoje, eu tenho uma sobrinha formada em Relações Internacionais, com mestrado na Inglaterra, e morando na Ceilândia. Ela trabalha na ONU, aqui em Brasília. Ou seja, todo mundo que veio para minha casa, saiu bem empregado.

Racismo

Eu não tinha ninguém por mim, era só eu e Deus. Eu vim pra cá confiando em Deus, porque a família do meu marido é branca. Meu marido era loiro do olho azul e os parentes dele não gostavam de mim, por causa da minha cor. A família dele não me tolerava. Eu não sabia que o nome para isso era racismo.

Meu marido era simples demais, muito tranquilo, o mundo podia pegar fogo, e ele era o último que saía da casa, ele não tinha pressa para nada. Eu sempre fui mais agoniada, queria resolver as coisas rápido. Tanto que, uma vez, eu disse a mim mesma: eu vou fazer o concurso, nem que seja para limpar chão, eu quero.

Pra dizer a verdade, nada na vida me marcou tanto, porque eu tinha cuidado. A vida me obrigava a ter cuidado comigo mesma, porém, nunca tive medo. Nunca deixei de ir ao mercado, à farmácia ou à igreja. Alguma coisa me dizia que eu não ia pegar a Covid. Talvez, um ser tenha me dado essa luz que eu não ia ter Covid, porque eu rezava muito por mim e por eles. A minha filha, que é o meu braço direito, também não pegou Covid. Eu sempre dizia: “meu Deus, cuida da minha filha, cuida do meu filho, pois eles precisam trabalhar”.

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40 a 59 anos Distrito Federal Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Não frequentei a escola Parda Raça/Cor

“Soube de um rapaz que perdeu seis pessoas da família”

Relato de Nilza Soares, produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

No começo da pandemia foi difícil, porque a doença nos pegou de surpresa. Muitas pessoas se viram paralisadas diante da notícia.  No começo, no dia 5 de fevereiro, contraí a Covid. Passei por esse processo, assim como minhas irmãs. Meus pais, graças a Deus, não pegaram a doença, pelo fato de eles estarem afastados e não precisarem sair para trabalhar. A gente que trabalha fora, precisa se deslocar de um local para outro. Dessa forma, acabei contraindo o vírus.

Foi um processo difícil de quinze dias que, realmente, não tem explicação. Mas, graças a Deus, a gente conseguiu passar. Meus filhos não contraíram a Covid, acredito que nem o meu esposo tenha pego, porque, segundo os médicos, se pegou não foi o caso de ser internado. Neste caso, o organismo dele teria reagido muito bem. 

Neste momento, milhares de pessoas no Brasil e no mundo inteiro perderam familiares. Ainda bem, não perdemos nenhum familiar ou pessoas conhecidas. Nada que a gente esteja sabendo até agora. Aliás, perdemos a esposa de um primo meu, muito jovem. Ela faleceu aos 26 anos. Graças a Deus, todos que estão aqui já passaram por esse processo. Algumas das minhas irmãs também contraíram, por trabalharem fora. 

“Tem dias que parece que vou paralisar”

Quando tudo estava um caos, a gente tinha que manter a calma, ter paciência e tranquilidade, porque tudo passa. De um jeito ou de outro, tudo vai passar. Eu fiquei com sequelas após a Covid: dores no corpo, começam nas costas e vão se movimentando. Tem dias que parece que vou paralisar. É horrível. Só sabe quem já passou por esse processo.

Voltei a trabalhar normalmente, e minha expectativa é que virão dias melhores pela frente. Se cheguei até aqui, com certeza é porque virão dias melhores. Essa é minha expectativa. Eu sobrevivi a uma doença pela qual muitas pessoas não conseguiram passar. Quantas pessoas próximas perderam parentes, entes queridos, ou até a família inteira? 

Teve um caso  de uma pessoa que trabalha com a gente. Ela é secretária e perdeu o tio, a tia, dois sobrinhos. Eles foram para Maceió e acabaram sendo internados. Dois dias depois, foram entubados e não retornaram.  Soube do caso de outro rapaz que perdeu seis pessoas da mesma família.  

“Minha família me deu forças nesses tempos sombrios”

Então, quando a gente ouve tudo isso que acontece ao nosso redor, e sabe que estamos passando pelo processo, é importante confiar em Deus e acreditar que tudo vai ficar bem. É manter a serenidade, a calma, porque tudo é um processo. Um processo no qual a gente tá vivendo, e por ser algo que é geral, que o mundo inteiro está passando, não adianta a gente entrar em pânico, a gente tem que manter a calma. E acreditar que se há países como a China, a Itália, e outros que se recuperaram, onde a sociedade já leva uma vida normal, para a gente aqui no Brasil não será diferente.  

Essa doença trouxe um grande caos, porque os preços dos alimentos e do combustível aumentaram muito. Muitas pessoas haviam parado de trabalhar. Muitas fábricas, empresas e lojas foram fechadas. Atualmente, as coisas já estão normalizando. Para o mês de novembro está previsto a gente não usar mais máscaras, mesmo assim a gente tem restrições. É que a pandemia não acabou. O vírus ainda está aí e precisamos nos precaver, sempre mantendo a calma.

Quando se tem uma crença, uma fé, ajuda bastante a passar por essa situação. Conto também com a ajuda e colaboração de meus filhos, esposo, netos, porque eles não saíram de casa durante a pandemia. Lógico, tive todos os cuidados necessários também. Ficava em meu quarto e a cada semana, meus filhos e netos faziam os exames para detecção da Covid. Os testes sempre atestavam negativo. Dessa forma , fiquei mais tranquila com a família por perto para a gente superar essa barra juntos. Assim é mais fácil.

   

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Minha avó dizia: “vêm quatro doenças pra vocês e vai aparecer uma gripe muito forte”

Relato produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

Eu já sabia dessa gripe. Minha avó dizia: “vêm quatro doenças pra vocês e vai aparecer uma gripe muito forte”. Acredito que seja essa a gripe a qual ela se referia.

Mudando de assunto, vou falar do que eu gosto. Gosto de plantar, gosto da roça. É boa mesmo. Está cheia de maracujá, abacate, manga, que estão para aflorar. Gosto de plantar, gosto da roça, mas a força não tenho mais. A coragem ainda tenho, mas a força não dá mais, vai se acabando. Eu gostava de caminhar, gosto é de sair. Não gosto de ficar parada não. Mas agora estou plantada, porque se eu sair… Tem um ditado assim:

Felicidade quem planta é um pé de pau. 

Felicidade quem planta é um pé de planta.

Que é o pé de planta para ficar de baixo dele?

Casa de filho não tem como ser casa da gente

Então, eu fiquei enrolando. Durante um tempo, morava lá na casa do meu filho. Noutro tempo, eu alugava um barraco para morar. Mas, até que enfim, esse filho meu apareceu após doze anos, com uma mulher e uma filha, uma menina. 

Olhe, tá difícil! Eu não irei mais ver isso, não. Mas os filhos e netos irão ver coisa brava! Brava de você chorar e não ter mais jeito.  Fora isso, estou gostando daqui, achando bom demais. Tô sossegada. Mas é bem ali, né? Não me aperreando… Aqui, nem digo nem ouço. É verdade! Pois, agora tô tranquila! Graças a Deus e ao meu neto. Ele é muito estudioso! Aos quatro aninhos de idade, ele já dizia que queria “ser professor e pronto”. Virou mesmo! Ele é tranquilo. Gosto muito dele. 

Meu nome é Antônia Ferreira da Costa, tenho 86 anos. Minha mãe é Santilia e meu pai é Cândido José Ferreira. Sou do Piauí, Teresina. Me casei no Piauí, mas o meu marido morreu e fui embora para Nazaré. Tive dois filhos: Maria da Lurdes e José. José ganhou o mundo aos 18 anos.  

Relato de Antônia Ferreira da Costa, produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia