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60 anos ou mais Ensino Fundamental Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Paraná Parda

“Já vi Nossa Senhora me atendendo quando eu estava doente”

Meu nome é Dejanira, moro em Rebouças, sou benzedeira há quinze anos, muita gente é da Bahia, de longe vem.

Atendo as pessoas de coração, Deus, já vi Nossa Senhora me atendendo quando eu estava doente. Vi Nossa  Senhora. Eu falo com Jesus, porque Deus me deu o poder de eu fazer as ervas medicinais, ensinando, aprendendo tudo e não deixo ninguém voltar para trás. Eu atendo.

Na pandemia, pus  plaquinha uns dia mas eu sentia que eu não podia atender. Pus um  plaquinha que eu não podia atender porque aqui deu muito forte, e em nós não passou nada…

O velho ficou arriado um tempo mas já está bom. Agora que a filha chegou, estamos bem. Nossa filha quer fazer um ano que nós não via.

Relato de Dona Dejanira Machado, produzido pela Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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60 anos ou mais Ensino Fundamental Incompleto Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Paraná Prta Raça/Cor

“Não é porque a pessoa não acredita que ela não vai pegar a Covid-19”

Só depois é que eu fico pensando: Se não acredita, não é que vai pegar. Meu nome é Alzira, moro em Rebouças, e continuei o meu trabalho de benzimento, não fechei  as portas pra ninguém, Porque eu não tenho medo, porque tudo acontece quando Deus quer.

Deus não querendo, nada acontece com a gente. Eu tenho curado até gente do lado de Curitiba. Tem uma mulher que tá pra vir agora, só que eu não conheço ela e ela não me conhece. É, só que, eu mesmo fiz meu trabalho, porque eu acho que eu tenho a obrigação. Eu fiz pra essa mulher, eu fiz de longe né? Ela ligou pra mim eu fiz de longe, mas tem vindo é gente de longe do interior pra vim aqui em casa, porque como diz: Eu não escolho, seja lá quem for, me procurou eu estou fazendo.

Relato de Dona Alzira Kinapp, produzido pela Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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60 anos ou mais Ensino Médio Incompleto Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Paraná Parda Raça/Cor

“Sou benzedeira e precisei me isolar durante um mês, devido à Covid-19”

Eu sempre atendia as pessoas e preparava remédios, garrafas, xarope, pomada, para as pessoas que chegavam no portão, mas precisei me isolar por um mês porque peguei Covid-19. Assim que a doença passou voltei a atender a população, porque foi muito triste ver as pessoas naquele estado.

Lembro que quando tive Covid, foi bem triste, porque fiquei afastada de tudo, das pessoas, não podia visitar nem ser visitada. Tinha que ficar em isolamento por muito tempo e só podia sair pra fazer algumas compras, e voltar logo pra casa.

Eu sempre usava álcool e máscara para benzer as pessoas, que também entravam com máscaras. No entanto, no mês de maio, só benzia de longe. Pois, eu já estava  vacinada com a segunda dose. Agora tomei, depois que melhorei, a vacina da gripe. Já estava vencendo os seis meses para eu tomar a terceira dose da CoronaVac.

E estou querendo voltar a trabalhar de novo com as benzedeiras e começar a fazer as reuniões. Durante a pandemia, perdemos muitas benzedeiras, algumas faleceram e outras não puderam atender mais por serem idosas. Muitas famílias não queriam ver suas avós sob riscos de infecção.

Por fim, não sei o dia de amanhã, mas eu tenho ensinado as pessoas a fazerem pomada, tintura, remédios. Mas, o benzimento ninguém quer aprender a fazer. Acho que essa prática um dia vai se acabar.

Relato de Dona Agda Cavalheiro, produzido pela Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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25 a 39 anos Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Paraná Parda Pós-Graduação Incompleta Raça/Cor

“Muitas benzedeiras acabaram optando pelo isolamento”

Lembro que naquele momento quando veio o boom da pandemia, de isolamento, de superlotação dos hospitais. Com angústia, frustração e medo, muitas benzedeiras acabaram optando por se isolarem, ficando recolhidas dentro de casa; muitas outras mesmo estando no grupo de risco optaram em continuar os atendimentos em suas casas.

Sou doutora em geografia pela Universidade Federal do Paraná e acompanho o movimento de benzedeiras desde 2017. Vale lembrar algumas coisas bem importantes e pontuais que vivemos durante a pandemia. Lembro da nossa última reunião presencial antes desse período, no final de fevereiro de 2020, quando fizemos o balanço do ano anterior e programação para 2020, e que, devido à proporção que a pandemia tomou, não foi possível de ser realizada.

A comunidade precisava, então, de um apoio. E esse é o ofício da benzedeira, né? E me traz muito essa noção de solidariedade, de um outro olhar pra saúde, pra saúde do povo, das plantas medicinais. Enfim, para a saúde que envolve fé, religião, amor ao próximo, coletividade, comunidade e onde nasce o verbo esperançar.

Trocas e Aprendizados

Quando eu olho todo desenhar desse caminhar mesmo com uma pandemia, com as notícias de gente dos familiares morrendo. Mesmo assim é se colocando e dando a mão ao próximo a gente vê o mais singelo gesto de solidariedade e amor ao próximo. O movimento caminhou também ocupando outros espaços que, talvez, se não fosse a pandemia, com certeza, a gente não teria alcançado. Então, o movimento acabou também trabalhando muito com a internet, jogando na rede com gente do país todo.

Foi uma grande troca e um grande aprendizado esse que a pandemia traz, principalmente, relacionado a essa conexão com as redes. Conquistamos, ainda, dois prêmios, e a mensagem que fica é esse ato de solidariedade. E a construção de uma saúde que em nenhum momento nega a medicina, a ciência, mas que trabalha junto com a comunidade.

Relato de Adriane de Andrade, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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40 a 59 anos Ensino Fundamental Completo Escolaridade Estado Idade Mulher Cis Paraná Parda Raça/Cor

“A gente benzia, fazia oração, ensinava remédios a quem pedia”

Durante a pandemia, nós, benzedeiras, ficamos mais em casa fazendo nosso benzimento com o nome das pessoas, ensinávamos remédios. Algumas pessoas chegavam só na cerca, não entravam e outras ligavam pedindo oração, benzimento, ou para ensinarmos o chá.

Trabalhamos todo o tempo durante a pandemia. A maioria das pessoas pediam os chás por causa do estresse da pandemia. Então, eles queriam tomar um chá calmante, por isso, sempre ligavam perguntando qual chá era bom. As benzedeiras têm esse papel. Mesmo que a gente, às vezes, não faça as curas pessoalmente, a gente atende por telefone.

Nós fizemos trabalhos de benzimento, orações e simpatias de longe, chá calmante e acho que foi todo tempo da pandemia assim mesmo que ficar em casa, fizeram o trabalho desse dom.

Fazemos benzimento para crianças, rezamos bastante, e cada benzimento em casa tem seu oratório. Pedimos saúde para o povo do mundo inteiro, não só da cidade, e para que achassem remédio para pandemia, e que Deus afastasse a doença. Então, o trabalho das benzedeiras continua na pandemia. Não saíamos, porque não estávamos vacinadas, mas não parávamos.

                                                                                             

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São Sebastião Santo  
 De Deus muito amado
 Nos livrai das pestes
 Nosso advogado¨
 ¨Pelas vossas chagas
                                                                                               Pelo vosso Amor
                                                                                               Nos livrai das pestes
                                                                                               Nosso defensor¨

Relato de Ana Maria Benzedeira, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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25 a 39 anos Branca Ensino Fundamental Completo Escolaridade Estado Gênero Homem Cis Idade Mato Grosso Raça/Cor

“Cortaram as visitas e ficamos sem ter notícias da família”

Meu nome é Sandro teixeira dos Santos, eu me encontro aqui recluso aqui no Centro de Ressocialização daqui de Cuiabá Mato grosso, e a epidemia ela nos trouxe assim um desconforto porque logo nos cortaram as visitas né, a gente ficou sem ter notícias da família, sem ter notícias dos filhos, que eu tenho uma filha e assim o desconforto foi muito grande porque qual o esposo que não quer estar perto da sua esposa, da sua mãe, dos seus filhos né, então foi algo assim que machucou bastante  a gente né. Atingiu não somente a mim, mas a todos os educandos que estão aqui.

Eu sei que muitos ficaram aflitos com tudo isso né, então logo após veio a videochamada trazendo conforto,  mas não é a mesma coisa de uma visita residencial. Mas já tava melhorando né, foi melhorando, e assim foi uma experiência nova né, experiência nova. Muitas pessoas perderam seus entes queridos para epidemia, muitas famílias foram destruídas porque muitas esposas não aguentaram e foram embora, abandonaram seus esposos, foram cassaram outro rumo de vida né. Então só agradeço a Deus por ter me mantido firme aqui dentro dessa oportunidade aqui onde a gente se encontra né, não houve morte né, todos nós nos encontramos bem.

Relato de Sandro Teixeira, produzido pela Associação Mais Liberdade para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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25 a 39 anos Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Paraná Prta Raça/Cor

“Não perdi nenhum familiar, mas fiquei desempregada”

Meu nome é Bruna, eu sou esposa de um reeducando que se encontra  aqui do CRC. Começo da pandemia foi horrível, fiquei sem visita, sabe como é que estava. Não podia entrar nada foi muito sofrido você entendeu? Graças a Deus agora deu uma melhoradinha né! No começo sem videochamada, sem notícia, você entendeu, foi muito…

Foi um ano e pouco sem nada, sem direito a nada, a gente não sabia como é que tava, ele ficou doente, emagreceu muito, ai agora a gente tá ajudando ele né, levou remédio né. A videochamada foi muito triste que ele tava muito abatido né, mais no mesmo me fez feliz que eu consegui falar com ele né. Eu perdi o serviço mas, não perdi nenhum familiar, graças a Deus. não afetou nossa família né, mais eu fiquei desempregada né. Tava dependendo de sacolão entendeu, mas graças a Deus tamo lutando vencendo a pandemia.

Relato de Bruna Souza , produzido pela Associação Mais Liberdade para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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40 a 59 anos Ensino Fundamental Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Paraná Prta Raça/Cor

“Minha casa estava com as portas abertas para quem precisava de mim”

Não parei de atender na pandemia, quem precisava de mim minha casa tava com as portas abertas.

Eu costurava, (…),  é, as pessoas entravam assim, vinham chegavam de máscara ¨porque isso sufoca muito a gente¨, então elas diziam pra mim: posso tirar a máscara? Eu digo pode, dentro da minha casa pode ficar à vontade. E eu nunca tive medo dessa doença, nunca, nunca mesmo. Nunca ninguém chegou assim na minha casa: ¨A senhora pode atender¨? Eu nunca disse não. Sempre com fé em Deus e graças a Deus, não peguei essa doença. Dá minha família só uns lá que pegaram, mas graças a Deus tão tudo bom e é isso  da ai, agente tendo fé em Deus, nada acontece.

Relato de Nilza Silva, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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60 anos ou mais Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Não frequentei a escola Paraná Parda Raça/Cor

“Não posso parar, porque preciso ganhar para sobreviver”

Meu nome é Lurdes de Andrade de Paula, sou benzedeira, (…), costuro, faço simpatia, (…). As minhas plantinhas tão aqui que eu tenho aqui né, tudo quanto é remedinho eu uso é da terra né. (…). Mas eu continuei, não parei porque não dá pra parar né. Porque eu preciso ganhar (..), então é isso que eu faço.

                                                                   ¨

¨São Sebastião Santo

 Dê Deus muito Amado

 Nós livrai das pestes

 Nosso advogado¨

Pelas vossas chagas 

Pelo vosso amor

Nós livrai das pestes                                                                   

Nosso defensor¨

Relato de Dona Delourdes de Paula, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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60 anos ou mais Branca Ensino Fundamental Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Paraná Raça/Cor

“Trato das crianças desde o primeiro aninho até a sua idade maior”

Eu moro aqui em Irati, Conj. Joaquim Zarpellon, sou benzedeira aqui de Irati.

Trato das crianças desde o primeiro aninho até a sua idade maior, a gente costura, a gente faz ¨batida à míngua¨, fazemos simpatia do bronquite, leio carta, rezamos a nossa Romaria, sempre atendendo o nosso povo. Agora na pandemia a gente até deu uma parada mas não foi tanto por causa que a gente tem que cumprir com os compromissos da gente, atendendo os inocentes, atendendo nossos povos de Irati, aqueles que vêm de fora a gente também têm que atender porque eles vem por que precisam. Sabem que a gente faz um bom trabalho então a gente tem que prestar um bom trabalho, um bom serviço a comunidade.

                                                                 

¨São Sebastião Santo

 Dê Deus muito Amado

 Nós livrai das pestes

 Nosso advogado¨

 ¨Pelas vossas chagas 

                                                                   Pelo vosso amor

                                                                   Nós livrai das pestes

                                                                   Nosso defensor¨

Relato de Dona Jacira de Paula, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia