Durante a pandemia, nós, benzedeiras, ficamos mais em casa fazendo nosso benzimento com o nome das pessoas, ensinávamos remédios. Algumas pessoas chegavam só na cerca, não entravam e outras ligavam pedindo oração, benzimento, ou para ensinarmos o chá.
Trabalhamos todo o tempo durante a pandemia. A maioria das pessoas pediam os chás por causa do estresse da pandemia. Então, eles queriam tomar um chá calmante, por isso, sempre ligavam perguntando qual chá era bom. As benzedeiras têm esse papel. Mesmo que a gente, às vezes, não faça as curas pessoalmente, a gente atende por telefone.
Nós fizemos trabalhos de benzimento, orações e simpatias de longe, chá calmante e acho que foi todo tempo da pandemia assim mesmo que ficar em casa, fizeram o trabalho desse dom.
Fazemos benzimento para crianças, rezamos bastante, e cada benzimento em casa tem seu oratório. Pedimos saúde para o povo do mundo inteiro, não só da cidade, e para que achassem remédio para pandemia, e que Deus afastasse a doença. Então, o trabalho das benzedeiras continua na pandemia. Não saíamos, porque não estávamos vacinadas, mas não parávamos.
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São Sebastião Santo De Deus muito amado Nos livrai das pestes Nosso advogado¨ ¨Pelas vossas chagas Pelo vosso Amor Nos livrai das pestes Nosso defensor¨
Relato de Ana Maria Benzedeira, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Não parei de atender na pandemia, quem precisava de mim minha casa tava com as portas abertas.
Eu costurava, (…), é, as pessoas entravam assim, vinham chegavam de máscara ¨porque isso sufoca muito a gente¨, então elas diziam pra mim: posso tirar a máscara? Eu digo pode, dentro da minha casa pode ficar à vontade. E eu nunca tive medo dessa doença, nunca, nunca mesmo. Nunca ninguém chegou assim na minha casa: ¨A senhora pode atender¨? Eu nunca disse não. Sempre com fé em Deus e graças a Deus, não peguei essa doença. Dá minha família só uns lá que pegaram, mas graças a Deus tão tudo bom e é isso da ai, agente tendo fé em Deus, nada acontece.
Relato de Nilza Silva, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Ilda Kosloski, sou brasileira de Lutcher Irati, e na pandemia toda, atendia o pessoal todo com grande alívio que todo pessoal vinha e precisava da gente e nunca deixei de atender nenhuma pessoa. ¨rezimento¨ para crianças pequenas é arrumar o peitinho das crianças.
Atendimento e amparo
Faço ¨rezimento¨ pra picada de aranha, picada de cobra é pra cobreiro e outras coisas que eles pedem sempre. Então o atendimento a gente sempre dá um amparo. Às vezes chegam de noite pedindo pra a gente atender, a gente atende. Então eu acho que é uma coisa importante, e mais: A gente sente falta das outras curandeiras por causa da pandemia né, mas a gente continua lutando pra frente.
Relato de Dona Ilda kosloski, produzido pelo Instituto de Educadores Populares para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Zulay Martínez, tenho 45 anos e sou indígena Kariña. Faz três anos qu estou no espaço Ka’Ubanoko e, sim, tive Covid-19.
Eu fui atendida por representantes da organização “Médicos Sem Fronteiras”. Eles fizeram o primeiro atendimento que incluíma me levar a um espaço que fica atrás da Petrix e eu não aceitei.
Na minha família, minha mãe, minhas filhas e eu tivemos Covid-19 e meu pai cuidou de nós com remédio caseiro. Nós, indígenas Kariña, só tivemos acesso aos remédios naturais.
Passei 21 dias com febre e acho que estive a ponto de morrer. Não conseguia respirar, perdi o olfato e não comia. Tudo foi muito crítico para mim.
O pior momento foi quando eu não conseguia nem sequer ir ao banheiro porque não respirava bem, não conseguia me levantar. Minhas filhas tiveram que me dar banho.
Todos os dias meu pai preparava remédios caseiros, de diferentes formas e eu consegui vencer o Covid-19. Ele preparava: sálvia com limão. Fazia uma espécie de poção e colocava um pouco de mel. Eu não usei medicamentos recomendados pelos médicos porque não quis.
Mensagem
Tanto para os migrantes indígenas como para os que não são, para todos os venezuelanos, eu digo que tomem todas as precauções necessárias para a prevenção do Covid-19.
Quando estive com Covid-19, nós vivíamos em um abrigo e vejo que é preciso se cuidar porque nem todas as pessoas levam isso a sério, usam máscaras. Mas é muito importante usar máscaras, álcool em gel e lavar as mãos.
*** Observação: o relato acima, em português, foi uma tradução livre do relato feito originalmente em espanhol. Abaixo está o conteúdo original. ***
Versión original en español: “Nosotros, indígenas Kariña, solo teníamos acceso a unos remedios naturales”
Mi nombre es Zulay Martínez, tengo 45 años y soy indígena Kariña. Hace tres años que estoy en el espacio Ka’Ubanoko y sí, ¡tuve Covid-19!
Fui atendida por representantes de la organización “Médicos Sin Fronteras”. Ellos hicieron los primeros auxilios que incluía recogerme en el espacio que queda detrás de Petrix y no lo acepté.
En mi familia, mi madre, mis hijas y yo tuvimos Covid-19 y mi padre nos cuidó con remedio casero. Nosotros, indígenas Kariña, solo teníamos acceso a unos remedios naturales.
Durante 21 días, tuve fiebre y creo que estuve a punto de morirme. No podía respirar, había perdido el olfato, no comía. Todo fue muy crítico para mí.
El peor momento fue cuando no lograba ni siquiera ir al baño porque no respiraba bien. No podía levantarme. Mis hijas tenían que irse entre las dos a bañarme.
Todos los días mi padre preparaba remedios caseros, de diferentes formas y logré superar el Covid-19. Él preparaba: sábila y limón. Era algo como un brebaje con un poco de miel. No consumí medicinas recomendadas por el médico porque no quise.
Sobre la vacuna, ya voy por la segunda dosis. Pero superé todo con las medicinas naturales que mi padre preparaba.
Mensaje
Tanto para los migrantes indígenas como para los criollos, para todos los venezolanos, les digo que tomen todas las provisiones necesarias, todas las provisiones necesarias para la prevención del Covid-19.
En la época que estaba con Covid-19 vi que es importante que nos cuidemos. Hay personas no toman en cuenta a raíz de las mascarillas. Pero es muy importante usar las mascarillas, el alcohol en gel y lavarse las manos.
Relato de Zulay Romana, produzido pela Rede Amazoom para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Vilso Junior Santi, eu sou professor da Universidade Federal, coordenador do Amazoom e responsável, aqui em Roraima, por operacionalizar a coleta de depoimentos para o Memória Popular da Pandemia.
Primeiro, é muito legal participar de uma iniciativa como essa. Acho que no contexto da pandemia, até na universidade, a gente tinha pensado em realizar alguns projetos para dar suporte, principalmente no esclarecimento das dúvidas, em relação às notícias falsas que estavam circulando sobre a pandemia. Infelizmente, por uma série de questões, a gente não conseguiu operacionalizar isso.
Quando apareceu a oportunidade do projeto, de registrar essas memórias, também foi uma oportunidade para a gente retomar essas ideias. E tentar, de alguma forma, contribuir para o registro e discussão desse momento que a gente está vivendo, desse momento trágico que estamos vivendo.
É importante aproveitar a oportunidade para trazer os relatos a partir de Roraima. As pessoas que a gente buscou para dar esses depoimentos no projeto foram pessoas que representam o que é Roraima hoje, o que é Boa Vista hoje, o que é o Estado hoje. Quem é de Roraima talvez não se dê conta disso, ou talvez não goste de pensar nisso, mas, Roraima é um estado de migrantes, um estado indígena por excelência. A gente quis representar essas populações nos depoimentos que a gente colheu.
Buscamos falar com representantes dos povos indígenas, presentes no estadoe conseguimos obter depoimentos muito interessantes das populações indígenas e também representantes da população migrante, principalmente dos indígenas da Venezuela; dos venezuelanos em si; dos haitianos, para dar conta do que é esse contexto migrante de Roraima.
Nós todos, praticamente, que estamos em Roraima somos migrantes! E Roraima precisa lembrar disso porque essa é a cara de Roraima!
Projetos interrompidos na pandemia
Aproveitando o que a gente ouviu, é preciso dizer que a maioria dos relatos deixam claro que a pandemia interrompeu projetos! Muitos projetos! Projetos de vida, inclusive!
As pessoas morreram! Várias pessoas, inclusive pessoas próximas da gente. No meu caso, a pandemia chegou “metendo o pé” na porta de alguns projetos. Um deles foi o projeto de pós-doutorado.
Depois de ter passado oito anos, seis anos de gestão na coordenação do curso e na direção do centro aqui da UFRR, eu fui para o pós-doutorado no México. Eu viajei para o México no final de fevereiro e fiquei exatamente 30 dias no país até tudo ser fechado por conta da pandemia. Acabei ficando no México, em isolamento, até o início de agosto, quando eu consegui voltar para casa. Foi uma situação bem complicada, porque, enfim, estava em um outro país, longe das pessoas que conhecia. Estar longe de casa, das pessoas mexe com o psicológico. Comecei a questionar um monte de coisas e me revoltar, inclusive, com a situação. Eu não aguentava mais estar lá! Eu queria voltar para casa e, felizmente, isso deu certo. Consegui retornar alguns meses depois para casa e aí sim viver o resto do processo em casa.
O governo do Estado não fez o que é o seu papel; o governo federal não fez o seu papel; o sistema de saúde não tinha capacidade para absorver e as pessoas ficaram jogadas, sem renda, sem trabalho, sem ter o que comer
Negligência do Estado
Meu retorno deu um pouco mais de tranquilidade por um lado, mas, por outro, também causou muita apreensão. Porque a gente vivia uma situação terrível em Manaus e uma situação terrível aqui em Roraima. Quem é daqui sabe que o sistema de saúde é caótico. Não é culpa da migração, é culpa sim de anos de negligência do Estado, da falta de investimento público! A pandemia deixou isso escancarado, evidente!
Inclusive as pessoas se aproveitaram disso para superfaturar compra de respirador, por exemplo. Coisa que também demonstra um pouco do que é a cara do estado de Roraima e das pessoas que gerenciam as políticas públicas do Estado.
O governo do Estado não fez o que é o seu papel; o governo federal não fez o seu papel; o sistema de saúde não tinha capacidade para absorver e as pessoas ficaram jogadas, sem renda, sem trabalho, sem ter o que comer. Elas precisaram ir para a rua e se contaminaram.
A vacina demorou em chegar e com essa negligência muitas pessoas morreram. Isso revolta a gente porque a gente fica imobilizada, sem saber o que fazer.
Por mais que a gente diga que está preparado para a morte, ver alguém morrendo é horrível
Perdas na família
Meus pais moram no Rio Grande do Sul e a pandemia demorou em chegar na região onde vivem, já que são lugares isolados e com pouco trânsito de pessoas. Quando a pandemia chegou, as pessoas já tinham comprado a versão de que não era muito grave e não era muito sério.
Porém, pouco depois, as pessoas conhecidas começaram a morrer: vizinho, tio avô, avô dos meus sobrinhos, amiga que era técnica de enfermagem, e minha tia, que chegou a ficar internada por 90 dias na UTI e não resistiu.
No meio desse contexto, perdemos meu avô de 93 anos. Dizem os médicos que não foi por Covid-19, mas nossa família desconfia. Meu avô morreu logo depois das eleições municipais e meu avô teve contato com pessoas que viajaram para participar da votação. Agora já não tenho mais nenhum dos meus avós vivos. A geração toda se foi.
Por mais que a gente diga que está preparado para a morte, ver alguém morrendo é horrível. Minha tia, por exemplo, não tinha doença nenhuma, não tinha complicação, não tinha histórico clínico grave. Ela não morreria agora se não fosse a pandemia e esse conjunto de negligências.
Oportunidade de contribuir
Chamo a atenção para a questão de oportunizar a chance de contribuir com o registro da Memória Popular da Pandemia, da memória das pessoas que sofreram com a pandemia. É uma oportunidade para pensar como que a gente, usando o jornalismo, pode intervir na vida das pessoas de uma maneira mais ativa para tentar construir uma realidade melhor do que essa que a gente vive. Esse é o grande sentido do que está por trás do que a gente tenta fazer.
Relato de Vilso Santi, produzido pela Rede Amazoom para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Marcos Correa e sou imigrante venezuelano. Tenho 43 anos e sou médico. Vim ao Brasil depois que o município de Boa Vista (RR) decretou situação de calamidade pública por causa da pandemia e começaram a contratar médicos estrangeiros.
Fui trabalhar no hospital de Campanha. Meu contrato era por seis meses. Depois do período de capacitação, comecei a trabalhar no atendimento de pacientes contagiados por Covid-19. O caso deles era muito grave. Um deles tossiu perto de mim e acabei me contagiando. Comecei a apresentar sintomas de dificuldade respiratória, não conseguia respirar. É algo muito ruim.
O Covid-19 é um vírus que primeiro ataca a parte respiratória, depois a parte neurológica. A pessoa fica confusa.
Fiz exames no hospital e o diagnóstico foi que eu estava com fibrose pulmonar devido à Covid-19.
Quando eu fiquei doente, eu tive depressão. Em uma semana eu emagreci muito, não conseguia dormir e fui ao Posto de Saúde. Aos poucos fui me recuperando sem precisar ser internado.
Após me recuperar, fiquei com ansiedade e não parava de comer. Então engordei e voltei a ter dificuldade em respirar. Fiz exames no hospital e o diagnóstico foi que eu estava com fibrose pulmonar devido à Covid-19. Foi então que um colega me passou um tratamento um pouco mais agressivo para tratar a doença e eu me recuperei.
Uma das coisas que aprendi com essa doença é que, como médico, eu tenho que estudar e pesquisar mais sobre as causas da doença e seus efeitos. Hoje ajudo muitas pessoas na Venezuela e no Brasil.
Quero chamar a atenção para a importância da vacinação. Ela salva vidas e diminui os efeitos da doença. Todos temos que nos vacinar.
Relato de Luana Lemos, produzido pela Rede Amazoom para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Eu me chamo Luciana Lima, tenho 47 anos e sou servidora pública.
Com 68 anos, a minha mãe foi a primeira vítima fatal do Covid-19 em minha família. Foi uma experiência horrível.
Ela era diabética, gostava de sair e não se cuidou. Ela tratou em casa e quando já estava começando a ter consciência, pegou uma gripe forte e foi internada. Ficou 15 dias no hospital de Campanha de Roraima, conseguiu ter alta, mas ficou abatida, se sentiu fraca e voltou ao hospital. Quando fez os exames, estava com 60% do pulmão comprometido e foi pra UTI. Ela só foi entubada nas últimas horas, quando estava perdendo a consciência, porque não queria passar por esse processo. Ficou na UTI por duas semanas e não conseguiu resistir.
Eu acabei pegando Covid-19 da minha mãe, quando eu a acompanhava no hospital. Mas foi leve, fui uma pessoa praticamente assintomática.
No trabalho, alguns colegas morreram. . O primeiro deles morreu bem no começo da pandemia. Era um amigo muito querido por todos, muito amável. Ele acabou morrendo em três dias. É muito triste.
Vacinação
Assim como muitas outras pessoas, minha mãe tinha medo da vacina. A minha mãe seguia o que o presidente dizia e por isso não se vacinou. A gente vê em nosso trabalho, na repartição pública, que muitas pessoas velhas têm medo e não querem se vacinar e tentam fazer tratamento por meio de remédios naturais.
Temos que nos cuidar, tomar a vacina para não acontecer o que aconteceu com nossos entes queridos que morreram. A pandemia ainda não acabou e temos que ter consciência que é preciso continuar se cuidando.
Relato de Luciana Lima, produzido pela Rede Amazoom para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Olá, meu nome é Francivania Leocaldio, tenho 41 anos e sou da etinia Wapixana. Trabalho como auxiliar administrativo e tenho dois filhos.
O principal impacto da pandemia na minha vida foi a morte da minha mãe, em junho de 2021. Ainda que sua morte tenha ocorrido em junho de 2021, ela teve Covid-19 em maio do ano anterior e conseguiu se recuperar. Porém, ela teve várias sequelas e com o tempo acabou não resistindo.
Sua morte mudou totalmente a rotina da família, porque ela era a base de tudo. Ficamos sem chão e ainda estamos encontrando forças para seguir a vida, tentando lembrar dos momentos bons com ela, de seus ensinamentos.
Além da minha mãe, que morreu das sequelas do Covid-19, perdi também um tio. Ele chegou a ser internado, intubado e não resistiu à doença. Isso foi em março de 2021, quando ainda não havia vacinas. Por isso, é importante que haja vacinas para todos, para que essa pandemia acabe logo.
Contaminação
Ainda que só meu tio e minha mãe tenham morrido em decorrência do vírus, em casa todos fomos contaminados e eu fui a que mais sentiu a doença. Eufiquei quase um mês sem andar e por opção, não quis ir ao hospital. Na minha cabeça, ir ao hospital era morrer lá.
Então eu me mediquei com remédios naturais e industrializados. Durante esse tempo, fiquei muito cansada, não aguentava andar, eu me arrastava para ir ao banheiro.
No momento mais crítico, eu me preocupei por meus filhos. Mas, graças a Deus, ainda estou aqui para contar essa história.
Futuro: medos e esperanças
Com a morte de pessoas queridas por causa da doença, passamos a valorizar mais a família. Houve uma união maior entre nós e sempre falamos: “Ninguém sabe o amanhã! Ninguém sabe se vai estar aqui, então vamos viver o hoje!”.
O meu filho mais novo tem seis meses de vida e nasceu prematuro. Meu medo é que, com a volta às aulas, ele possa pegar a doença de alguém, dos outros filhos meus que vão à escola. Se isso acontecer, ele não vai resistir porque o pulmão dele é muito fraco.
Eu penso muito nos meus filhos, já que a criança não sabe o perigo que está correndo. Nós, adultos, ainda nos protegemos com álcool gel, mas não se pode controlar as crianças na escola. Lá elas vão brincar e interagir com outras pessoas e podem ser contaminadas com o Covid-19.
A mensagem que deixo aqui é sobre a importância da vacinação. Só com a vacina todos estarão imunizados.
Relato de Francivânia Leocádio, produzido pela Rede Amazoom para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Erinelson Valentim, tenho 49 anos e vivo em Roraima. Sou o primeiro sobrevivente do Covid-19 em meu Estado.
Eu sou técnico de radiologia e atendi dois pacientes com sintomas de Covid-19 antes de conhecermos casos da doença do Estado. Uma semana depois, os primeiros casos foram declarados e eu comecei a sentir os sintomas: coriza e dor de cabeça.
Mesmo não querendo, minha esposa me levou ao hospital e não queriam me internar porque não havia testes. Eu piorei e voltei ao hospital e fui internado com urgência., já que 80% do meu pulmão estava comprometido pelo Covid-19. Fiquei 18 dias entubado.
Também sofri uma parada cardíaca e um AVC [acidente vascular cerebral , mas consegui resistir. Fui o primeiro do estado a resistir à intubação e ao vírus.
Depois que saí da internação, fiz duas ressonâncias magnéticas para saber o grau da gravidade que o Covid tinha me deixado. Uma sequela da doença é que passei a ser hipertenso e tomo medicamentos para controlar a pressão.
Passei por dois neurologistas e eles disseram que eu já estava apto a trabalhar. Porém, nos primeiros dois meses eu percebi que não estava bem. Passei setenta dias em casa me recuperando e contei com muita ajuda familiar.
Volta ao trabalho
Mas eu digo com toda sinceridade que eu renasci das cinzas. Depois desses 18 dias que eu passei internado, penso que eu quero trabalhar na Saúde, trabalhar com o público e com o pessoal da Saúde.
Acho importante conscientizar as pessoas de que a pandemia é real, existe e temos que nos precaver. Sou muito grato e agradeço a Deus todos os dias por estar vivo e poder ajudar outras pessoas, que vão precisar do nosso trabalho.
Relato de Erinelson Serrão, produzido pela Rede Amazoom para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Daniela Esther. Eu tenho 49 anos, sou farmacêutica e estudante de jornalismo – estou quase concluindo o curso. Sou servidora municipal e estadual e trabalho em posto de saúde e também na Vigilância Sanitária do Estado.
A pandemia me afetou em todos os aspectos, com exceção do financeiro porque eu sou funcionária pública. Mas, em relação aos aspectos emocionais e estruturais, ela me afetou.
Eu presenciei os primeiros casos de Covid-19. Ainda em fevereiro de 2020, quando fui a Fortaleza (CE) para passar o carnaval eu já previa que essa pandemia chegaria ao Brasil e seria um sufoco.
Ao voltar de viagem, em março do mesmo ano, tivemos o primeiro caso aqui em Roraima. Em maio de 2020, recebi um telefonema de uma tia avisando que meu pai estava com Covid-19 e que não havia vagas no hospital para interná-lo. Meu pai morava em um abrigo de idosos no Rio de Janeiro e ele morreu sem atendimento. Não consegui viajar para ajudá-lo. Eu fiquei desesperada. Nem o direito de viajar e ver meu pai eu tive porque não havia voos disponíveis.
Essa foi a minha primeira perda. Depois, vi pais de minhas amigas e pessoas do meu ciclo de amizades morrerem.
Comecei a ter muita ansiedade e me automedicar achando que os remédios iriam me proteger. Tomei inclusive ivermectina, mesmo sabendo que não tinha efeito algum contra o vírus
Medo da contaminação por Covid-19
Há dois anos eu fiz cirurgia bariátrica e trabalhei durante a pandemia com muito medo, com pavor. Trabalhar no atendimento, recebendo documentos, receita médica, com medo de se contaminar é complicado. Eu passava álcool em gel a todo momento, era quase um TOC [ transtorno obsessivo-compulsivo]. Às vezes eu dormia com máscara de tão acostumada que eu estava a usá-la. Era muita tensão. Eu não sabia se iria sobreviver ou não.
Comecei a ter muita ansiedade e me automedicar achando que os remédios iriam me proteger. Tomei inclusive ivermectina, mesmo sabendo que não tinha efeito algum contra o vírus.
Vacina: menos sintomas e nenhuma sequela do Covid-19
Em janeiro de 2021 eu me vacinei e tomei a segunda dose em fevereiro. E, em junho do mesmo ano, eu peguei o Covid-19. Foi uma situação muito complicada, mas graças à ciência eu não tive sequelas e os sintomas foram mais fracos.
Porém, o isolamento social me causou muita dor, já que a minha vida é muito dinâmica: das 7h às 22h eu faço muita coisa e tive que mudar totalmente esta dinâmica durante os 15 dias de isolamento.
Outras mortes por causa do vírus
Quando voltei ao trabalho, meu chefe, que era um homem sozinho e tinha problemas de diabetes, morreu de Covid-19. Eu acompanhei todo o processo: eu o levei ao hospital e os exames que ele fez. Mas, em uma semana ele estava morto. Eu senti muito a sua morte. Convivia diariamente com ele. Ele tinha 65 anos, praticamente a idade do meu pai, que morreu com 68. Eu sempre dava carona a ele.
Em abril de 2021, o esposo da minha tia mais nova também morreu. Ele não se vacinou porque ainda não havia vacinas para a idade ele. Fiquei muito abalada com sua morte porque ele era uma pessoa de luz. É muito grande a dor de perder uma pessoa pela falta da vacina.
Assim como eu reconheci minhas fragilidades e procurei ajuda, é importante que outras pessoas possam procurar ajuda. É importante conversar, desabafar. E, além disso, é importante se vacinar e conscientizar outras pessoas sobre a importância da vacinação
Retorno ao tratamento psicológico e psiquiátrico
Com todas essas perdas, eu me desestruturei. Fiquei com um nível altíssimo de ansiedade, voltei a beber e a comer – mesmo não podendo por causa da cirurgia bariátrica. Então eu decidi voltar a fazer tratamento psicológico.
Alguns meses depois, em julho de 2021, percebi que o acompanhamento psicológico não era suficiente porque eu estava com depressão. Então fui a um psiquiatra. Conversamos bastante e entrei com medicação para melhorar a ansiedade.
Estou bem melhor e nesta quarta-feira vou tomar a terceira dose da vacina. Estou muito feliz.
A esperança está na vacinação. Com o avanço da vacina, há menos vítimas do Covid-19. Vamos superar, vamos conseguir passar por isso.
Gostaria de dizer que, assim como eu reconheci minhas fragilidades e procurei ajuda, que outras pessoas possam procurar ajuda. É importante conversar, desabafar. E, além disso, é importante se vacinar e conscientizar outras pessoas sobre a importância da vacinação. Temos que ouvir a ciência, ouvir a razão. Vacinem-se!
Relato de Daniela Xavier, produzido pela Rede Amazoom para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
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