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“Essa pandemia não vai acabar”

Relato de Heddy Lamar, produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

A pandemia não vai acabar. Eu acredito que não.  E vai ser como a vacina para a H1N1, todo ano a gente vai ter que tomar. Agora, ela é uma coisa mais grave do que a H1N1, bem mais grave, então tenho certeza de que a gente vai conviver com isso para sempre. E estou pensando agora, que já liberaram o carnaval do Rio de Janeiro, tenho neta que mora no Rio de Janeiro, eu ia muito ao Rio, para Copacabana assistir ao desfile.

No início, quando a gente via todas aquelas coisas na televisão, apavorantes, eu ficava sem acreditar. A televisão é um meio de comunicação que te envolve muito, causa medo. No entanto, achava que aquilo era um filme que estava assistindo. A ficha caiu mesmo foi quando eu peguei a doença, mesmo tendo ficado em quarentena. Não saia, ia ao mercado às 7 horas, logo que abria. Quando estava abrindo, eu estava entrando.

A gente sempre acha que irá acontecer com o vizinho, mas não com a gente, mas aconteceu, mesmo já estando vacinada com as duas doses, tive Covid. 

A pandemia pode não acabar, por isso já estou imunizada    

Eu já tomei a terceira dose da vacina contra a Covid, mas se tiver a quarta, eu tomo também. No início, eu julguei a vacina, mas eu tomaria, não deixaria de tomar por nenhum motivo. É um teste para meus netos, para meus filhos, para meus bisnetos. Eles têm que começar pelos mais velhos. Então foi aperfeiçoando mais, logo as crianças vão começar a tomar. Acho que está tudo certo agora, pois uma vacina para ter uma eficácia cem por cento, ela tem que ser testada de dois a três anos, e não por meses.

Hoje eu penso: meu Deus, o tumulto que é no ano novo. Todo mundo gosta, quem não gosta? E já liberou, então já vai ter réveillon neste final de ano, e vai ter carnaval também. Então, o que você acha que vai acontecer ano que vem? Tudo de novo!

Por exemplo, aqui em Brasília, como estava passando desde ontem na reportagem sobre novos hospitais de campanha. O governador respondeu: “prevenindo”. Por que prevenindo? Por que ele tem a certeza de que a bomba vai estourar novamente? E por que vai liberar? O financeiro, o poder público… vai liberar por isso. Então, tenho certeza de que o ano que vem a Covid vai voltar com força total. 

“Se tiver terceira ou quarta onda vai ser muito pior”

Então, se não estivermos em cima das pesquisas para a vacina, para que ela seja eficaz, isso aí vai ser para o resto da vida. E se tiver terceira ou quarta onda, vai ser muito pior. Um ou dois anos acredito que não, exatamente que falei no início, é o período do tempo para uma vacina ser segura ser feita é de três anos para lá. Então, dois anos ainda para frente, a nossa guerra ainda vai continuar. Mas a gente não pode deixar de ser otimista.  

As vezes a gente responde assim, enganando a si próprio, porque quero ver todo mundo bem. É isso que a gente quer. Mas não é isso que os governantes estão ajudando a gente a conseguir. A cada dia que ligo a televisão e falam sobre isso, fico mais para baixo, sem confiança, sem esperança de que isso irá melhorar rápido. Não é isso que eles querem.  Se eles virem que a Covid vai render muito financeiramente, isso aí não vai acabar. Por isso lhe digo que minha perspectiva não é das melhores. Por dois anos pela frente, não! A não ser que mude muita coisa aí.

“Como acreditar que a pandemia vai acabar?”

Enfim, quando eu vi, isso é uma coisa que ficou gravada na minha mente, fiquei imaginando uma pessoa a pegar um corpo de um ente querido, de um familiar.

Os corpos sendo refrigerados dentro de contêineres, no estacionamento de um hospital, como aconteceu lá em Manaus! Isso é muito triste, gente. Isso é uma coisa de arrepiar. E pessoas morrerem por falta de ar, por não terem cilindros de oxigênio para respirar porque os hospitais não têm. Como é que a gente acredita em um país desse? Como acreditar que pode melhorar em pouco prazo?  

Mas, enfim, por isso acredito que a pandemia não vai acabar tão cedo. Não sei se estou certa ou estou errada, mas eu penso desta forma. Eu fico muito triste com isso, porque eu amo tanto meu Brasil. A gente tem uma riqueza tão grande, a gente podia ser um país tão lindo e maravilhoso. Se eu tivesse condições,  pegaria meu povo todo e sairíamos daqui!  

Eu tive cinco filhos, e perdi o mais velho, com AVC, com quarenta anos, era o Marcel, e quatro meninas. Um homem e quatro mulheres. Desses cinco filhos, foram onze netos e três bisnetos. Eu sou de Belo Horizonte, sou nascida em Belo Horizonte, morei um tempo no Rio de Janeiro, mas me considero pioneira, moradora de Brasília. Eu vim passear em Brasília em 1965, e estou passeando até hoje. Aqui eu formei minha família, então, agora, minha vida é em Brasília. Todos os meus filhos e netos nasceram aqui. Só uma bisneta, das três que eu já tenho, nasceu em São Paulo, é paulista, mas as outras todas nasceram aqui em Brasília.

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