Categories
25 a 39 anos Branca Mulher Cis Pós-Graduação Completa São Paulo

“Eu também me questionei”

Durante esse período e até agora, pergunto-me se tem alguém que não tenha questionado a vida, a morte, a passagem do tempo, o valor das coisas; pergunto-me se tem alguém que não questionou seu próprio ofício, suas escolhas, sua estabilidade financeira ou emocional.

Em março de 2020, eu morava fora do Brasil, mas estava constantemente ligada ao meu país através das memórias, do amor e de meu trabalho com a ONG Nariz Solidário.

“Como prosseguir sem me questionar?”

Questionei-me também ‘como prosseguir’ e, principalmente, como eu poderia ser útil para além de minhas próprias buscas pessoais.

Nesse momento, meu amigo Eduardo Roosevelt, do Nariz Solidário, fez-me uma proposta: E se colocássemos em movimento ideias antigas nossas, como o Curso Online “O humor e a Saúde”?

Este curso seria voltado apenas para palhaços de hospital, mas, naquele momento, poderia ser para qualquer um que quisesse aprender!

Pensávamos que, além de ajudar a transformar a vida de outras pessoas, estas atividades poderiam, de certa forma, desacelerar nossa vulnerabilidade e ainda ajudar a ONG Nariz Solidário.

Quais os próximos passos?

Resolvemos fazer esse teste e nos vimos mexidos e modificados com essa experiência.

Pensei que eu iria ajudar, mas fui a maior beneficiada. Pudemos nos conectar com pessoas de todas as idades, em todo o Brasil e, algumas vezes, até pessoas que moravam fora compartilhando experiências íntimas, medos e brincando juntos.

Lembro-me de situações delicadas e especialmente impactantes, como uma das alunas que assistiu alguns dos nossos encontros ao vivo, juntinho com sua mãe, da cama do hospital.

Mandava-nos fotos ou vídeos e nos tornamos tão íntimos nesses momentos, conseguindo nos fortalecer nesse período tão delicado.

Nadja Moraes no curso online "Humor e Saúde", ministrado pela ONG Nariz Solidário.

Foi quando vimos que era possível

É possível, independente das circunstâncias, encontrar um farol de luz, caminhos que nos deem suporte, leveza e alegria, mesmo em momentos de grandes desafios. Mesmo em contato com a morte.

Tivemos uma mãe solo que passava por uma depressão, com uma filha especial, e pudemos ver em primeira mão o seu progresso, sua abertura, sua vontade de viver e de brincar, despertando através de nossas trocas.

Tivemos um palhaço de circo tradicional na ONG Nariz Solidário, com tanto a ensinar, com tanta estrada e picadeiro em suas memórias, aberto para aprender e compartilhar conosco suas histórias.

Ele, que faleceu recentemente, deixou-nos um legado incrível de humanidade. Cada troca enriquece a todos. Eleva-nos e nos mostra que existem caminhos mesmo em meio à dor.

O potencial dessa semente iniciada durante a pandemia só nos mostra que mesmo à distância, é possível construir pontes.

Mesmo na dor, é possível se ver sorrindo e encontrar fagulhas de alento e alegria e contribuir cada vez mais para uma sociedade onde possamos nos ajudar sempre, contar uns com os outros e cuidar de nossas feridas juntos.


Relato produzido pela Associação Nariz Solidário para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *