Me chamo Cleiton da Paixão estou aqui no centro de ressocialização de Cuiabá e estou aqui desde 2019. Fui preso porque cometi um ato lá fora, uma indisciplina e tenho que pagar por isso. Já fui condenado e agora estou aqui pagando minha pena, sem olhar para trás e de cabeça erguida. Reconhecendo que eu errei como muitos que estão aqui dentro.
Eu quero dizer que de 2019 até 2022 estou vivendo uma experiência aqui de mudança na minha e da minha família. Quando eu vim em 2019 eu tive que me adaptar ao sistema, coisa que eu nunca imaginei que ia parar aqui dentro. Então essa adaptação foi muito dificil porque lá fora eu tenho uma vida, era casado, com meus filhos, um bom marido, miha mãe, minha família, meus irmãos, minhas irmãs, mais por consequencia de um erro estou aqui. Como eu disse, de 2019 pra cá a adaptação foi complicado que eu não tinha experiência nenhuma de como era aqui.
Em 2019, depois de um ano recluso comecei a me adaptar e comecei a ver uma nova visão do que é um sistema prisional. Na ressocialização, eles dão muita oportunidade que é educação, religião e trabalho. Então reeducando na reclusão, quando ele tem essas oportunidades tem que no mínimo agradecer a Deus, a direção e ao Estado que está oferecendo essa oportunidade de trabalhar, estudar e claro ter fé em Deus que isso é principal na vida de cada um.
Por consequência disso eu conseguir me adaptar em 2019, conseguir um trabalho na empresa, estou estudando, tudo graças ao sistema e sim, é claro, a direção que me deu oportunidade de está trabalhando aqui de auxiliar de administraçao.
Em 2019 veio a noticia que o mundo estava se deparando com um virus e até então estava tudo normal. Estou trabalhando, estudando, vendo a familia. Nisso em 2020 soubemos do virus que estava se espalhando pelo mundo nessa pandemia. Não só eu mais o mundo inteiro, familia teve que se adaptar a uma nova realidade que é um virus mortal alias.
E como que um recluso fica nessa situação. Então são duas vezes de adaptação. Primeiro aqui dentro, segundo a impotência de não poder fazer nada com a família lá fora e acho que isso é a coisa pior que tem pro recluso, saber que está acontencendo as coisas lá fora e essa impotência de não poder ajudar seja ela qual for. Isso ai é uma experiência que eu vou guardar pra minha vida. Mais diante disso, minha familia a gente não falhou mais como todos aqui perdeu o contato com a familia então isso ai foi dificil, mais uma adaptação, mais uma experiência horrível na vida de um recluso.
Porque vem as preocupações, vendo pelo mundo ai fora, muita gente morrendo, familiares, irmão, pai, a mãe, filhos, avós , todo mundo morrendo e como que a gente ficou aqui dentro com essa preocupação e sabendo da gente não poder fazer nada , na mesma situação de agora se o virus entrar aqui dentro o que vai acontecer.
Então essa é uma experiência que não só eu mais como todo mundo aqui teve que ter forças, confiar em Deus e saber que a esperança de que tudo vai dar certo. A esperença de confiar em Deus que a família lá fora vai está bem e ao mesmo tempo a gente preocupado com a família lá fora. A minha experiência é saber como a minha família ficou lá fora preocupada comigo.
Porque além de preso e recluso com a impotência de não saber, não poder ajudar lá fora mais ao mesmo tempo sabendo que minha família estava preocupada comigo aqui dentro. Então são duas coisas, são dois sentimentos e acho que só Deus mesmo que nos deu forças até hoje para entender e viver essa realidade que a gente está vivendo até hoje. Veio a pandemia e a gente perdeu o contato com a família ficamos uns três meses, quatro meses sem contato nenhum com a família.
O sistema providenciou um lugar aqui para ter contato com a família através de video chamada de dez minutos a cada uma vez por semana. Podemos ver e falar com a família e saber o que está se passando lá fora. Então esse pouquinho de minuto já foi aquele alívio enorme de quatro meses preocupado sabendo como deveria está lá fora. Quem está doente, como que as pessoas estão no hospital, clamando a Deus, perdendo a vida, sabendo que pegou uma doença e não tem cura. Então acho que isso aí para a humanide e para muitas famílias foi um desespero. Além de você pegar essa doença , saber que não tem cura ainda.
Então era mais uma preocupação ainda. Diante de tudo isso por mais essa experiência, essa adaptação, esse sentimento de preocupação, a gente tem experança que houvesse uma vacina contra esse vírus. Graças a Deus, depois de muito tempo a gente ficou sabendo que veio essa vacina pelo mundo inteiro. Então graças a Deus essa vacina chegou até o Brasil, chegou até nós, aqui em Mato Grosso – Cuiabá. Chegou até os nossos familiares, para nós aqui dentro, isso foi um grande alívio que a gente tinha essa esperança de poder ser imunizados.
Graças a Deus todo mundo aqui foi imunizado, a gente sabendo que a família nossa estava sendo imunizada, graças a Deus eu não perdi ninguém da minha família pra esse vírus, essa doença que dizimou metade da população brasileira em todo mundo mais a minha família graças a Deus eu não perdi ninguém mesmo.
Mais essa experiência vivendo aqui dentro é uma superação porque é uma coisa que a gente não vai esquecer de adaptar, de estudar e de ter fé principalmente. A esperança de rever a família lá fora e claro sair daqui de cabeça erguida. Ser um bom cidadão lá fora, contribuir com a sociedade e com a família em primeiro lugar.
Relato de Cleiton da Paixão, produzido pela Associação Mais liberdade para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia