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“Minha mãe foi a primeira profissional da saúde a morrer por Covid-19 em Roraima”

Luana testemunhou a morte da mãe e lidou com esse luto quando estava grávida. Em seu relato, ela fala sobre esse processo

Meu nome é Luana Lopes Lemos. Tenho 32 anos e sou de Rorainópolis, onde trabalho como servidora pública. 

Durante esse período da pandemia eu tive uma perda irreparável, que foi a da minha mãe. Ela era técnica de enfermagem, servidora municipal e estadual, e na pandemia ela esteve afastada de suas funções na rede estadual por apresentar comorbidades e fazer parte do grupo de risco. Porém, na rede municipal ela seguia trabalhando e, em maio de 2020, contraiu a doença.

Quando nós tivemos a confirmação que ela testou positivo para a Covid-19 foi um desespero. Nós sabíamos da gravidade da situação.

No dia 7 de maio de 2020 foi transferida de ambulância para Boa Vista, chegou no hospital da cidade consciente, mas não reagia às medicações e foi entubada. Infelizmente, no dia 22 de maio, ela morreu. Desde então, o meu mundo foi desabando.

Ela foi a primeira profissional da saúde a vir a óbito por Covid-19. Fazia oito anos que ela trabalhava na rede estadual e, no município, ela tinha sido empossada no ano anterior e trabalhava na UBS (Unidade Básica de Saúde), no atendimento de triagem – recepcionar o paciente, preparar seu prontuário, dar seguimento ao atendimento médico. No Estado, ela já trabalhava em toda a área do hospital, fazia escalas e plantões. Trabalhava na enfermaria e na emergência. Além de técnica de enfermagem, ela era pedagoga e sempre trabalhou com muito amor. Ela tinha 53 anos quando morreu.  

Luto

Nessa época eu estava grávida e aproveitava muito essa gravidez, que foi planejada, e a morte da minha mãe me pegou de surpresa. Presenciei a situação que ela viveu no hospital, consegui passar o dia das mães com ela, mas ela não resistiu. Não consegui nem me despedir dela. 

Infelizmente essa pandemia fez isso com todo mundo. Ninguém teve o seu último adeus. Foi um ano bem difícil, com muita dor, angústia e sofrimento. Ao longo do tempo a gente vai se anestesiando dessa realidade porque tem que seguir em frente, a vida continua, mas foi bem difícil. 

A única coisa boa de 2020 é que neste ano meu filho nasceu. Com seu nascimento, consegui preencher o vazio causado pela morte da minha mãe. Foi muito confortante, ele me trouxe alegrias.

Eu acredito que a vacina é a única maneira de a gente conseguir essa imunização tão esperada, o controle pandêmico

Vacinação

Eu e meu esposo nos vacinamos. Além do meu filho que nasceu em 2020, tenho outro de 11 anos que ainda não se vacinou por conta da idade. 

Com certeza a vacina ainda é o melhor caminho e é preciso conscientizar a população sobre sua importância. Hoje em dia ainda existe um negacionismo muito grande em relação aos efeitos da vacina. 

Eu acredito que a vacina é a única maneira de a gente conseguir essa imunização tão esperada, o controle pandêmico. Não adianta eu tomar a vacina, meu esposo tomar a vacina e no meu próprio local de trabalho outras pessoas não tomarem. Isso aconteceu comigo. Eu trabalho na área da Educação e tenho colegas que não estão vacinadas. 

Para que a gente possa voltar ao nosso normal – que nunca mais será normal – as pessoas precisam estar imunizadas. É muito importante as pessoas se vacinarem!

Relato de Luana Lemos, produzido pela Rede Amazoom para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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