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“Passei a não assistir mais aos jornais e procurava não ler sobre o assunto”

Desde dezembro de 2018 participo do Projeto Cunhataí Ikhã ( Meninas na Luta), do qual sou uma das monitoras da região Norte da Bahia. O objetivo do projeto é estimular que as meninas indígenas reconheçam os seus direitos e deveres, que elas possam lutar por todos eles e façam suas próprias escolhas. E um dos principais objetivos é que a menina indígena tenha os 12 anos de educação escolar completos.

Teríamos a formação de 60 meninas indígenas, porém com a chegada do vírus ao nosso país ficou impossível acontecer, pois são meninas de todo o estado da Bahia. Diante disso estamos realizando encontros onlines todas as quintas, manter o vínculo durante a pandemia, e nossas coordenadores nos traz temas interessantes a serem discutidos. 

Em maio de 2020, aqui em minha comunidade foi realizada uma reunião pelo CONTAM (Conselheiros Tuxá da Aldeia Mãe), que ficaria restrito o acesso à nossa comunidade. No portão ficava uma pessoa para monitorar a entrada somente de indígenas e entregas de alimentos ou gás.

O portão era aberto às 06h da manhã e fechado às 22h da noite. Porém, foi por um período muito curto. Entretanto, algumas famílias tiveram que continuar com suas atividades para assim poderem colocar comida em suas mesas. Já outras tiveram que permanecer em casa, pois suas atividades foram suspensas para evitar aglomerações.

Para suprir as necessidades da comunidade, principalmente de quem ficou desempregado na pandemia, a Funai, em parceria com a Conab, disponibilizou a entrega de cestas básicas para a comunidade e cada família foi contemplada com duas cestas básicas.

Covid-19 na aldeia

Eu achava que esse vírus não chegaria na comunidade, até que chegou, e, a partir de então, começou a mexer com meu psicológico. Eu já estava a morrer de medo, todas as noites tinha pesadelos e não conseguia mais dormir direito. Passei a não assistir mais aos jornais e procurava não ler mais nada que tivesse relação com notícias de mortes sobre o vírus.

Sabemos que todo cuidado é pouco, mas, mesmo com toda cautela, o primeiro caso na nossa aldeia surgiu no mês de setembro. Graças ao bom Deus o homem em questão tomou todas as medidas preventivas para que o vírus não proliferasse e se curou.

Aulas remotas

Em relação à universidade, como as aulas presenciais tinham sido suspensas, a coordenadora, junto com os professores, resolveram fazer um projeto (Ação Pedagógica) com a turma, que durou três meses. Não foi fácil, pois éramos acostumados a nos vermos, a termos contato físico e, de uma hora para outra, estávamos lá nos olhando através de uma tela. Mas cada um conseguiu desenvolver do seu jeito, sendo orientados pelos professores.

No mês de novembro do corrente ano, as aulas voltaram de forma remota e teremos 45 dias de aulas. Um meio que para muitos parecia que seria fácil, está sendo complicado. Muitas pessoas não têm acesso à rede de internet e, mesmo para quem tem, a rede não pega tão bem, prejudicando, assim, o estudante em participar das aulas ou fazer os devidos trabalhos.

Sabemos que vai ser difícil essa pandemia acabar, mas eu anseio que tudo acabe bem, que todos venham a sair com vida e esperança para um mundo melhor.

Me chamo Joana Darc Apako Caramuru Tuxá, tenho 23 anos e sou indígena. Moro na Aldeia Tuxá – Mãe, município de Rodelas, norte da Bahia, nordeste brasileiro. Sou filha de Lucy Meire Sena do Nascimento (indígena) e José Humberto Alvino de Souza (não indígena). Atualmente estou cursando o IV período da Liceei-Uneb (Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena – Universidade do Estado da Bahia – CAMPUS VIII), em Paulo Afonso-BA.

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