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40 a 59 anos Branca Ensino Superior Completo Escolaridade Estado Gênero Homem Cis Idade Raça/Cor Santa Catarina

“Aprendi a conviver melhor com as pessoas”

Aprendi a conviver mais com os familiares, a entender melhor as dificuldades e anseios das pessoas. Aprendi a olhar pra mim mesmo, fazer uma retrospectiva e buscar uma vida com mais qualidade.

A vacinação, para mim, foi um momento de segurança e esperança: confio plenamente na ciência e na vacina. Meu sentimento ainda é de preocupação, pois as pessoas, a maioria delas, tem um comportamento como se a Covid-19 não existisse mais, o que me faz ficar mais apreensivo.

Por outro lado, o retorno do contato com as pessoas melhora o meu emocional. O futuro vai ser com as pessoas refletindo melhor sobre seus atos, se entendendo melhor e com mais compaixão com os outros. Tenho esperança em ter um controle eficaz da Covid-19.

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40 a 59 anos Branca Distrito Federal Ensino Superior Incompleto Escolaridade Estado Gênero Homem Cis Idade Raça/Cor

“Apenas uma parte da sociedade ficou protegida dentro de casa”

Relato de Valdemar Vasconcelos, produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

Para mim, o momento indiscutivelmente tocante não foi quando a pandemia foi formalizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas foi quando eu vi a sociedade em geral sendo dividida em duas: uma que ficava reclusa e protegida dentro de casa, e a outra que precisava por inúmeros motivos se expor. Eu achei que aquilo era uma coisa muito mal analisada, muito mal cuidada. Foi um impacto que, ainda hoje, eu guardo. Acho que manifestamos, naquela situação, a forma como a gente lida em sociedade até hoje.

Ficou muito evidente que uma boa parte das pessoas tinha que estar na frente, e a outra parte em estado de “proteção”. Se é que isso existiu. Aliás, acabou que isso não existiu, porque é impossível fragmentar a sociedade e colocar um muro na frente dela, e ela não interagir. Mas, sem um julgamento de valores, mas foi impactante ver os ônibus lotados, com uma divisão física, que nem pode-se dizer que é uma divisão de classes, pois muitos, de várias classes precisaram estar nos hospitais, nos caixas, nos Ubers, precisavam fazer entregas por aplicativo. Enfim, sei que outros precisavam estar em casa também. E este muro foi muito chocante para mim. E ainda é.  

“Desafios também podem gerar traumas”

Meu coração diz sempre que todo desafio pode gerar aprendizados, se optarmos pelo aprendizado. No entanto, desafios também podem gerar traumas. Os traumas também, em determinados momentos, podem ser bem-vindos, no sentido de nos frear. É estranho dizer que um trauma é bem vindo, não é bem isso. Enfim, é uma experiência que pode deixar um alerta. 

Minha expectativa, que é meio que um sonho, é que todo esse processo, tudo isso, faça com que a gente olhe para nossa vulnerabilidade. Não com o objetivo de nos sentirmos fracos, mas pra saber que possamos caminhar mais unidos, porque a pandemia veio na experiência deste século, em que a comunicação já estava evoluída a ponto das pessoas se verem e se falarem instantaneamente, por qualquer parte do planeta, por meio de uma videochamada. Porque houve outras pandemias, mas até a noticia chegar… Hoje não, foram fatos horríveis,  aterrorizantes, a começar na Itália,  principalmente, e isso aterrorizou muita gente, gerou muitos traumas. Mas, percebeu-se que não se tratava de se fechar a Itália,  não se tratava de fechar a China, porque era uma questão do mundo lutar junto. 

Então, a minha expectativa é que essa pandemia deixe esse legado, ainda que a humanidade ainda não tenha conseguido, até esse momento da pandemia, olhar numa única direção para todo o planeta, com mesmo cuidado, com mesmo carinho, para que todos possam se proteger. O convite foi esse. A pandemia concedeu um convite muito claro nessa direção. Até o momento isso não aconteceu, inacreditavelmente.  

“Uma oportunidade mal aproveitada de nos tornarmos uma sociedade melhor”

Mas eu acho que o chamado ficou e ele vai estar nos livros de história do ensino médio, como sendo uma oportunidade mal aproveitada de nos tornarmos uma sociedade melhor. Vejo também como um alerta concreto de que para a sociedade ser melhor, é preciso que a humanidade pense como um todo. Que as apartações, de quaisquer níveis, econômicos, sociais, geográficos, tudo isso, sejam vistas de uma outra forma, de um outro lugar, porque não há mais isso. A tecnologia e a dinâmica atropelam os muros que a gente constrói. A pandemia atropelou todos os muros, ela passou como uma grande tsunami sobre esses muros. 

Qual será o mundo que existirá quando a próxima onda voltar, que será edificado sobre os destroços do Tsunami.

Sou de Minas, mas moro em Brasília desde 9 anos, em 1971. Faço parte de uma família de migrantes, dessas clássicas. Viemos à Brasília buscar uma vida melhor e nos encaixamos aqui e construímos uma vida por aqui. Eu sou ex-funcionário público, pedi demissão, então não me aposentei, e hoje faço parte de uma organização não-governamental. Essa é a minha ocupação atual. Ocupação não remunerada, voluntária. Eu tenho três irmãs, duas sobrinhas netas, três sobrinhos netos. Tenho um filho adotivo e um filho de sangue. Tenho dois netos. Alguns não moram mais em Brasília, moram no estado do Rio. Minha mãe e meu pai já faleceram. Era uma família extensa.

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60 anos ou mais Distrito Federal Ensino Fundamental Incompleto Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Parda Raça/Cor

“O maior impacto foi ter ficado parada e sofrer de ansiedade”

Relato de Lindalva Batista, produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

Tenho 86 anos e oito meses. Vim morar aqui aos 14 anos. Antes [de morar no Distrito Federal], vivia no Rio de Janeiro. Nós moramos uns 20 anos no Rio de Janeiro. Casei no Rio, tive seis filhos. Nós viemos para procurar coisa melhor. Veio todo mundo, eu, os filhos e o marido. Chegando aqui, tive mais dois filhos. Primeiro, eu tinha sete, aqui tive mais dois. No total, são nove filhos, e estamos aqui até hoje.

A pandemia marcou mais a minha vida por eu ter que ficar parada, por ter que ficar em casa. Antes eu saía, mas nesse período passei o ano todo sem sair, só para ir pro médico. A ansiedade piorou. É que a gente escuta “um morreu lá, outro morreu acolá”, por isso fiquei com muita ansiedade. Tinha dia que eu ia dormir e acordava durante a noite pensando que estava doente. Muita ansiedade mesmo.  

O trabalho parou e isso foi horrível, pois eu era muito ativa. Todo dia ia pra loja. Eu moro na casa de um dos meus filhos. Então, a pandemia atrapalhou a minha rotina. Gostava muito de sair, de festa, não tinha uma festa que eu não estivesse. Tenho uma família muito grande, então cada vez tem um filho para visitar. Eu gostava muito de sair, passear, shopping era toda semana, almoçava fora, tinha uma vida melhor. De repente, parou tudo. Fiquei sem chão. 

Vou receber a terceira dose depois de amanhã.  Agora já não tenho mais ansiedade, passou. Já vou até viajar. O aprendizado que eu tive foi ter muita fé em Deus, muita oração pra conseguir passar essa fase, e graças a Deus consegui. 

“O isolamento me fez lembrar dos tempos da Ditadura”

A expectativa que eu tenho é de que a situação melhore, que tudo volte ao normal. Acho que normal mesmo não volta mais. Essa doença aí deu medo em todo mundo. Não tem como ficar calma. Acho que desses dois anos, só agora que eu estou mais calma. Então, fizemos assim, cada um que fazia aniversário só chamava a família, só os de casa. Mas, eu mesma, só fiquei em casa. 

Passeio de shopping acabou, as festas… Ainda não estou indo na missa. Porque ainda tenho medo. Porque dizem que mesmo quem se vacinou duas vezes ainda pode pegar a doença. Então, assisto a missa na televisão. Vamos ver se essa pandemia acaba nesse ano que vem.  

Essa situação de ficar em casa me fez lembrar da Ditadura, que era quando não podíamos sair na rua. Ficávamos trancafiados dentro de casa, íamos apenas ao mercado fazer compra. Foi uma época bem ruim também que passei. Hoje, o que eu mais quero é saúde para mim e todo o mundo. Que as coisas voltem a ser como eram antes. Acredito que vai melhorar, se Deus quiser, vai melhorar.