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Palhaçaria no audiovisual

Sou profissional circense e palhaça no Nariz Solidário, que trabalha com o que chamamos de ‘palhaçaria’ para auxílio à humanização de pessoas desde 2014, em Curitiba.

Além de formações, realizo visitas cênicas a hospitais de toda região. Com a pandemia e o cessar das atividades presenciais

nos adaptamos às visitas remotas e à construção de vídeos de palhaçaria, unindo a arte do palhaço e a produção de conteúdo para trazer mais leveza ao ambiente hospitalar. Além de temas cotidianos e datas comemorativas.

Dessa forma, com esses vídeos, poderíamos alcançar mais pessoas. O conteúdo dos vídeos eram mais para trazer leveza, um momento de respiro para esse período tão difícil e obscuro que atravessamos.

Porém, alguns vídeos vinham com um pouco mais de reflexão do que ‘palhaçaria’ – proposital ou naturalmente, devido ao nosso processo criativo e à imersão na realidade em que estávamos vivendo.

É a figura da palhaça, da palhaçaria

Sobre esse reverberar natural, gostaria de compartilhar um relato a respeito do vídeo que fiz sobre o Dia das Mães. Já estou sem minha mãe há três anos, sinto-me conformada. Porém, fazer algo que homenageia quem não está mais presente sempre traz um nó na garganta.

Estava um pouco resistente e sem ideia. Depois de algum tempo, comecei a pensar no que seria meu roteiro para fazer o vídeo. E pensei em olhar as fotos que tenho guardadas em casa.

O álbum de fotografias

Ao olhar todas, percebi que não tinha mais nenhuma foto da minha mãe, nem me lembro o porquê disso, mas me frustrou, pois não havia mais a lembrança física de minha mãe naquelas fotos.

De repente, como um pequeno filme, a cena de pegar as fotos e buscar pela minha mãe em algum retrato me apareceu aos olhos como o meu roteiro – a minha verdade.

Voilá…

Pronto! Teria ali um possível vídeo, ainda inacabado, mas já com alguma estrutura. Outra questão me surgiu: como uma palhaça conta que gostaria de se lembrar da mãe, mas não tem nada visível que possa ajudar? Como colocar um assunto tão delicado de uma forma que não deixe um vídeo pesado para um momento tão intenso?

Existe uma forte comparação do palhaço e de suas ‘palhaçarias’com as crianças, de que, para se tornar um bom palhaço, é necessário buscar a sua memória mais pueril. E, de certa forma, foi a maneira que encontrei para resolver o meu vídeo.

Trouxe à tona os meus rabiscos. “Se não tenho mais foto, então eu desenho aquilo que me vem à lembrança.”


Relato produzido pela Associação Nariz Solidário para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia