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“Vi minha família ser exposta ao vírus no auge da incerteza da pandemia, e presenciei uma nova faceta de medo”

Eu sou Steffane, mulher negra feminista e jovem pesquisadora. Nesse ano estranho, me deparei com medos outros, vi minha família ser exposta ao vírus no auge da incerteza da pandemia, e presenciei uma nova faceta de medo. 

Há muitos medos que nos cercam quando somos mulheres negras em uma sociedade racista e sexista, mas presenciar a ânsia de ver minha família ser contaminada por um vírus desconhecido tomou, e ainda tem tomado, conta de mim ao longo desses meses em que tudo tem estado incerto. 

Assistindo à minha família sendo obrigada a sair para trabalhar todos os dias, eu me reconectei com a minha espiritualidade na medida em que me vi pedindo por proteção.

Escancarando desigualdades, a pandemia impulsionou o massacre sobre nossos corpos e corpas negros.

Enxergando muitos de nós se contaminando por estarem em postos de trabalho de base e sobre a visualização de outras maneiras genocidas sobre nossos corpos. Por isso, eu digo que senti medo de outras formas. Na verdade, é muito porque eu temo o luto. 

Tenho medo de perder os meus, os que estão comigo, os muitos de nós que tem suas vidas cooptadas. Eu temo. Vendo a casa não me caber, me dei conta que vida se faz agora e todo esse aparato supressor capitalista que roubou de nós, os nossos, não os trará de volta.

Que nossos corpos precarizados valem menos que outros eu já sabia. 

Operacionalizar o medo

Esse momento assustador me deu ânsia de continuar lutando, me organizando e estando junto aos nossos. Só é possível continuar se formos juntas, juntes e juntos. A pandemia me apresentou outras formas de medo, mas me lembrou como que é preciso operacionalizar. 

O resistir para nós, é o continuar, sobretudo porque ainda estamos distantes de uma ruptura que nos salve. Através dos desafios que não temos como contornar, nós inventamos novas formas de viver, porque há muito em jogo, porque nossa família não espera, o cuidado não espera. Cada vez mais eu tenho certeza que alguém em alguma medida olha por nós. 

Sigamos reexistindo e nos cuidando.