Meu nome é Marcos Correa e sou imigrante venezuelano. Tenho 43 anos e sou médico. Vim ao Brasil depois que o município de Boa Vista (RR) decretou situação de calamidade pública por causa da pandemia e começaram a contratar médicos estrangeiros.
Fui trabalhar no hospital de Campanha. Meu contrato era por seis meses. Depois do período de capacitação, comecei a trabalhar no atendimento de pacientes contagiados por Covid-19. O caso deles era muito grave. Um deles tossiu perto de mim e acabei me contagiando. Comecei a apresentar sintomas de dificuldade respiratória, não conseguia respirar. É algo muito ruim.
O Covid-19 é um vírus que primeiro ataca a parte respiratória, depois a parte neurológica. A pessoa fica confusa.
Fiz exames no hospital e o diagnóstico foi que eu estava com fibrose pulmonar devido à Covid-19.
Quando eu fiquei doente, eu tive depressão. Em uma semana eu emagreci muito, não conseguia dormir e fui ao Posto de Saúde. Aos poucos fui me recuperando sem precisar ser internado.
Após me recuperar, fiquei com ansiedade e não parava de comer. Então engordei e voltei a ter dificuldade em respirar. Fiz exames no hospital e o diagnóstico foi que eu estava com fibrose pulmonar devido à Covid-19. Foi então que um colega me passou um tratamento um pouco mais agressivo para tratar a doença e eu me recuperei.
Uma das coisas que aprendi com essa doença é que, como médico, eu tenho que estudar e pesquisar mais sobre as causas da doença e seus efeitos. Hoje ajudo muitas pessoas na Venezuela e no Brasil.
Quero chamar a atenção para a importância da vacinação. Ela salva vidas e diminui os efeitos da doença. Todos temos que nos vacinar.
Relato de Luana Lemos, produzido pela Rede Amazoom para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Foto em preto e branco do rosto de Dulce Maria Andrade de Souza, autora do relato "Eu não poderia chegar perto de ninguém, por ter tido leucemia"
Relato produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Pra mim, o mais difícil foi não poder ir à igreja, tendo de ficar confinada dentro de casa. Eu não podia chegar perto de ninguém, nem conversar com alguém pessoalmente, porque eu tive leucemia. Ainda hoje, os meus filhos têm um cuidado especial comigo. Eu viajo muito com eles, mas eles não me deixam chegar perto de ninguém. Até os talheres, que são entregues para mim junto à comida, eles pegam antes e esterelizam tudo. Eu não fico perto de ninguém, porque eles me afastam de todo mundo.
No começo, eu me sentia um pouco fragilizada ao ponto de não poder ter a vida que eu tinha antes, já que eu saia muito. Eu fiquei um ano e tanto sem ir à Caldas Novas, por exemplo, porque a cidade foi fechada. Não tinha nenhum lugar aberto, porque fecharam as entradas. Eu poderia até entrar, pois eu tenho residência lá. Mas, o que eu ia fazer lá, se estava em pandemia e tudo fechado?
De reflexão, ficou pra mim o seguinte: hoje em dia, a gente deve ter cuidado. Perdi muitas amizades por Covid. Muitas amigas, amigos do meu marido, dos meus filhos. Morreram todos jovens. Morreu o cunhado do meu filho que tinha apenas quarenta anos! Muita gente faleceu por causa da Covid.
Isolamento
Além disso, não havia a possibilidade de sair, de parar no meio das estradas para almoçar, encostar em um restaurante para comer, devido à minha doença. Vai que eu estou servindo a comida, passa uma pessoa perto de mim ou chega perto de mim para se servir? Tudo isso é perigoso.
O meu dia a dia está mais livre, agora, as coisas voltaram ao normal. Vou para onde eu quero. Inclusive, viajei no ano passado. Fui para o Arraial D’Ajuda, na Bahia. Agora, estou viajando sempre. Não paro em casa, não.
No início, fiquei apavorada com esse negócio. Nem saía de dentro de casa! Nem pra descer no térreo, onde fica a loja que alugo. Mas, agora, eu vou para onde quero: à garagem, ao jardim. Vez em quando, até saio aqui na minha rua.
Primeiro, comecei descendo para o jardim. Sempre acompanhada dos meus filhos e do marido. Era aquela coisa toda, e eu não podia estar sem máscara, não olhava pra canto nenhum, não podia pegar nada. Só descia quando não tinha muita gente. Meu marido ia lavando a calçada, desinfectando o local com álcool, borrifava o produto em todo local por onde eu passaria. Era desse jeito, um terror.
Pensando no futuro, eu quero viver muitos anos de vida, em nome de Jesus Cristo. Quero pregar a palavra de Deus. Peço que Ele me abençoe ricamente cada dia mais. Sempre conto meu testemunho de que já vi Jesus três vezes. Não é pra qualquer pessoa ver Jesus. Ninguém consegue ver Jesus, mas eu já vi Jesus arrebatado no sonho. Orei a Deus pedindo para esquecer. No entanto, um mês depois, sonhei às cinco da manhã com aquele homem de branco, bem alto, em pé na cabeceira da minha cama, com uma espada e uma fumaça que não me deixava enxergá-lo direito.
O diagnóstico: leucemia crônica
Eu vim morar em Brasília no dia 10 de maio de 1964. Eu tive leucemia crônica e, há quatro anos atrás, quase perdi a vida. Mas, Deus não deixou e eu nunca baixei a cabeça para essa doença que me deixou branca como o algodão. Foi quando o médico disse ao meu filho caçula: “doutor Robson, não vou liberar sua mãe, porque eu tenho muito medo de ela emagrecer. Pode sofrer uma trombose, alguma coisa no coração, então não vou liberar. Sua mãe deve ter leucemia. E, se for na medula, não tem cura. Porque sua mãe já é de idade, não tem transplante.”
Então, o meu filho cancelou a viagem. Logo depois, sairam dois resultados da biopsia apontando que o meu caso não era grave. Então, fui liberada para viajar. Fui para o Rio de Janeiro, fiquei lá, não tive nada. Passeei à vontade no Rio, voltei e não senti coisa nenhuma. Quando cheguei aqui, peguei o resultado do exame e levei para o médico.
“Jesus vai me curar”
O médico leu o resultado, olhou sorrindo pra mim e me disse assim:
“Você é a mulher mais feliz do mundo. Você teve uma leucemia da mais branda que existe, a que não mata ninguém! Só tem que tomar remédio, viu, dona Dulce Maria? Para o resto da vida.”
Eu disse ao médico: “não vou tomar nada, Jesus vai me curar, pode deixar”. É que eu já estava sabendo disso, Deus já tinha me revelado em um sonho em que eu ia à São Paulo. No sonho, Ele me mostrou a estrada, um asfalto preto e com umas catingueiras na cor verde que faziam um arco.
Do lado esquerdo, no sonho, havia uma cratera como se fosse da altura do teto da minha casa. E eu dizia assim: “Senhor, o que é que vai ser de mim, ninguém sabe que eu estou aqui. Se eu gritar ninguém vai ver, ninguém vai me tirar daqui agora.” Eu não vi como entrei, também não vi como saí. No entanto, Deus me deixou ver uma coisa.
Nas bordas da cratera, havia mato verde. E, eu me lembro bem que eu tocava o mato, encostava a barriga nas bordas da cratera e saía me arrastando. E, caminhava naquela grama bem verdinha. Sabemos que verde é esperança. Eu pegava o asfalto e ia embora.
Por fim, disse ao médico: “Doutor, eu já sabia que eu ia passar por isso, também estou sabendo que eu não vou morrer por isso, porque Deus já tinha me dito tudo isso, então já sei que eu ei de vencer a doença”.
Relato de Dulce Maria, produzido pela associação Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
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