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“O governo não está garantindo o direito básico à água”

“Como higienizar as mãos, lavar a casa, as roupas, fazer comida se não tem água na favela?”, disse uma moradora da Maré, favela localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro e com aproximadamente 132 mil moradores. E, assim tem sido os dias de inúmeros outros moradores de favelas da Zona Norte e Oeste do Rio. O pior é vivenciar isso em meio a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), sendo a água uma das principais recomendações para que a população não corra o risco de ser contaminada pelo vírus. 

As autoridades públicas do Rio, em entrevistas às mídias, afirmaram que o abastecimento da água no município só será normalizado no final do mês de dezembro. Até o momento, só no município do Rio mais de um milhão de pessoas já está sendo afetadas. De acordo com a Cedae, são 30 bairros que estão neste momento sofrendo com a falta do abastecimento de água. 

Mas, infelizmente, sabemos que a falta d’água não começou agora nos locais mais pobres da cidade. A maioria das favelas e periferias do Rio de Janeiro nunca tiveram esse direito humano básico garantido na sua totalidade. O que se tem hoje dentro das favelas e periferias, foi construído pelas próprias mobilizações locais para sobrevivência dos que habitam este espaço. E essa cruel situação só vem se agravando. 

A luta pela água, um direito básico

Ainda no início deste ano, lá em março, quando o mundo passou pela primeira onda da Covid-19, várias denúncias sobre a falta d’água começaram a surgir em diferentes pontos da cidade. A favela do Amorim, também na Zona Norte do Rio, foi uma das que tiveram que fazer protesto na avenida para chamar atenção das autoridades públicas em relação a este grave problema. 

Os moradores só conseguiam água porque a Fiocruz disponiblizava uma mangueira para os moradores durante o dia. Uma das moradoras na época disse a seguinte frase: “Eu não consigo ir no local que dá para pegar água porque estou numa cadeira de rodas, sou idosa, estou dependo das pessoas da rua para ter água em casa”. Este e outros relatos chegam diariamente e de diferentes partes da cidade.

O nosso povo está morrendo de fome, de Covid-19, de desemprego, de sede. Enfim, a realidade na favela nunca foi fácil e, agora, em tempos de pandemia, tudo só tem piorado. Sinceramente, se isso não é genocídio, eu não sei o que é! Lutemos juntos e juntas para sobrevivermos a tudo isso!

Sou Gizele Martins, moradora da Maré, comunicadora comunitária, jornalista e mestre em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas. Sou ainda defensora de direitos humanos e há quase 20 anos circulo as favelas do Rio, do país e do mundo para conhecer de perto as violações cotidianas de direitos. Faço disso matéria, artigo, mobilização e muita luta cotidiana em defesa do direito à vida!

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“A pandemia mostra a face da desigualdade social no país”

Moradores de favelas se organizam para suprir as suas próprias necessidades, mas o governo escolheu flexibilizar colocando em risco toda a população

O novo coronavírus (Covid-19), infelizmente, chegou e vem mostrando durante todo esse ano a face da desigualdade social e do racismo enfrentado historicamente pela população que habita nas favelas e periferias do país.

No Rio de Janeiro é cada vez maior o número de casos confirmados e veiculados pela Prefeitura do Rio, mas sabemos que não é o real, já que os números continuam subnotificados. Sabemos que os testes feitos na rede pública não atende a toda população e a maioria das pessoas que conseguem é porque pagam pelo teste na rede privada.

O fato é que quem vive nas favelas já sabia o quanto sofreríamos com a pandemia, já que é neste local que há ausência de qualquer tipo de direitos. A própria saúde pública ainda é um direito a ser conquistado por essa população empobrecida.

Desde o final de 2019, por exemplo, foram diversos os postos de saúde e clínicas da família fechados, profissionais da saúde foram demitidos ou tiveram cortes salariais, deixando inúmeros favelados e periféricos sem atendimento na atenção básica.

Tem gente passando fome

Com a recomendação do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que toda a população fique em casa e siga as orientações do isolamento social para a diminuição da transmissão do vírus, fez outra necessidade da favela gritar, a fome. Ou seja, esta população se viu num beco sem saída: ou continua tentando trabalhar diante de uma pandemia colocando a própria vida e de seus familiares em risco; ou fica em casa, mas sabendo que vai faltar a comida, o gás, a verba para o pagamento das contas, dentre diversos outros problemas.

Para suprir parte dessas necessidades, esta mesma população tem enfrentando filas dos bancos em busca do auxílio emergencial, nem todos conseguiram se cadastrar, nem todos receberam. E quem recebe, sofre agora com a ameaça de não ter mais esse apoio emergencial por causa dos cortes do governo. Diante de tantos problemas que esta população vem passando, é dever de toda a sociedade apoiar a favela na cobrança de direitos e cuidados por parte do poder público.

A favela vem em todo esse ano tentando se organizar com campanhas de comunicação para prevenção, além da busca de doações de alimentos e materiais de higiene para sobreviver. Mas com a flexibilização ordenada pelos governantes, as doações só caíram e, infelizmente, o nosso povo está sofrendo com estas e outras necessidades como trabalho, recursos, alimentos, remédios, água, habitação, saneamento, dentre diversos outros problemas nunca antes garantido pelas autoridades e que neste ano de pandemia, tudo só fez piorar e deixar velado a face da desigualdade social brasileira.