Em agosto de 2019, depois de nove anos de trabalho, fui desligada da empresa que trabalhava por conta da terceirização do setor. Pouco tempo depois, sofri com a partida de minha mãe.
Isso aconteceu no início do mês. Quando o final deste mesmo mês chegou, internei minha mãe às pressas por conta de uma hemorragia no estômago.
A minha sorte foi poder contar com o dinheiro do acerto para poder fazer tudo da forma mais rápida possível para a minha mãe, tentando dar a ela o maior conforto que a situação permitiu.
Entramos no internamento na terça. No domingo, o médico veio conversar conosco muito animado com o resultado dos últimos exames, falando até da possibilidade de alta para o dia seguinte.
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Com essa informação, fui para casa passar a noite e, no dia seguinte, quando cheguei ao hospital para vê-la, a enfermeira veio conversar comigo.
Tinham preparado minha mãe para uma tomografia, que nem chegou a ser realizada, pois ela havia tido outra hemorragia e acabou indo para o cuidado intensivo.
Permitiram-me vê-la, e ela disse que estava cansada e que só queria que eu fosse feliz.
A partida
Foi o tempo de chegar em casa e receber uma ligação. Após levarem-na para a UTI e de eu ficar esperando por 3 horas na porta do local para ser chamada, entrei e não reconheci minha mãe, que já havia tido uma parada cardíaca e estava sem saber o que se passava com ela.
Disseram que eu podia ir embora, pois a situação dela era estável, porém, nada boa.
Foi o tempo de chegar em casa e receber uma ligação pedindo que eu voltasse ao hospital para saber da notícia do óbito.
O trabalho social
Em 2020, depois da partida de minha mãe, toda essa experiência me fez escolher fazer o projeto comunitário da universidade em que estudo, junto com a Associação Nariz Solidário, organização que trabalha levando a arte do palhaço para dentro de leitos dos hospitais.
Com isso, recebi o convite para atuar como voluntária permanente pela associação.

Minha mãe sempre esteve atrás da câmera
Em 2021, iniciamos um projeto de edições de vídeos para o YouTube, tendo em vista que as visitas aos hospitais não estavam mais sendo permitidas desde o início da pandemia da Covid-19.
Em uma das edições, especificamente a do Dia das Mães, tive a sorte de escolher para editar o relato da Lupita (uma das palhaças do elenco), que também havia perdido a mãe e, na ocasião, não tinha nenhuma fotografia com ela.
A minha mãe sempre esteve atrás das câmeras para registrar a nossa infância. Contudo, era raramente fotografada conosco.
Foi um dos vídeos mais difíceis da minha trajetória
A similaridade de situações mexeu muito comigo durante a edição eu editava o vídeo, que iria ser transmitido nos leitos de um hospital infantil durante todo o projeto.
Quando o assisti pela última vez antes de exportar o arquivo, não consegui conter as lágrimas.
Foi um dos vídeos mais difíceis da minha trajetória neste trabalho voluntário, fiquei pensando na partida de minha mãe e em todas as outras partidas; de mães e pais que perderam seus filhos, filhos que perderam seus pais e mães subitamente em reflexos da pandemia.
Desejo força a todos vocês. Como a minha mãe me disse nos seus últimos momentos de lucidez: “elas só querem que sejamos felizes”.
Relato produzido pela Associação Nariz Solidário para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia