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“O governo não está fazendo seu trabalho, e não podemos ficar parados”

Neste momento de pandemia, a gente deu uma parada para atuar com a questão da contribuição com as cestas básicas, como material de limpeza e higiene, com as famílias que nós trabalhamos. Agora, neste momento, estamos aqui em Jacarepaguá.

Trabalhamos com mais ou menos 15 unidades em parceria com a teia da zona Oeste, com ação e cidadania, vaquinha virtual e contamos ainda com a Fundação Oswaldo Cruz. Nós conseguimos ajudar mais ou menos 900 famílias com bolsas de alimentos.

Entendemos que o governo não está fazendo seu trabalho, e não podemos ficar parados. O movimento de moradia escolheu a opção de trabalhar com doação de cestas básicas, por entender que as pessoas estão precisando.

O grupo que a gente tem hoje em Jacarepaguá são 190 famílias, 80% mulheres. Dentro desses 80%, muitas delas são mães solteiras, chefes de família que precisam trabalhar. Tem muitas diaristas, empregadas domésticas… e nós sabemos que essa demanda é exatamente a demanda que está fora do mercado de trabalho.

“Uma casa onde viviam oito pessoas, hoje comporta dez, ou mais.”

Independente de estar fora do mercado de trabalho, tem uma outra questão que agrava ainda mais a situação, é o seguinte: a mãe que tem filho na escola, que tem filho na creche, hoje não leva seus filhos, então ela não consegue trabalhar e não tem com quem possa deixar o filho.

Outra coisa que a gente percebeu quando a gente estava fazendo distribuição das cestas (fizemos um cadastro das famílias), é que as famílias na grande maioria eram agregadas. Ou seja, o filho que casou e foi embora morar de aluguel, devido à pandemia, teve que retornar para casa de pai e mãe. Então, uma casa que comportava 8 pessoas hoje comporta mais 10, ou mais.

Tudo isso é uma situação que vem se agravando a cada dia e a gente, enquanto o movimento de moradia, sente muito. Principalmente eu que já tenho minha casa, porque vejo famílias, à noite, procurando uma marquise para forrar e colocar os filhos para dormir.

Trabalho em pequenas comunidades

Não chega nenhuma ajuda do Governo Federal em comunidades menores. A única coisa foi o auxílio emergencial que é um direito nosso. Agora, piorou. 300 reais não dá para pagar o aluguel, água e energia. Imagina que essas pessoas também precisam de alimentação! Aqui em Jacarepaguá não chegou nenhum tipo de ajuda a não ser dos parceiros que a gente vem falando.

Então, as cestas básicas que foram doadas foram muito bem-vindas naquele momento e continuam sendo bem-vindas, porque a gente precisa continuar com esse trabalho. Até porque, não sabemos quando isso vai acabar.

Até os hospitais de campanha estão todos fechando, sem contar os hospitais sucateados. Não tem nada o que a gente possa fazer para atender toda essa população! Precisamos de ajuda.

Obrigada à plataforma pela possibilidade da gente publicar o nosso sentimento em relação à Pandemia.

Sou Jurema da Silva Constâncio, coordenadora da União Nacional de Moradia Popular. Estou falando da Cooperativa Xangrilá. A União de Moradia Popular é o movimento que trabalha a questão de moradias para famílias de baixa renda com mutirão e autogestão.

Veja também: “Durante o isolamento vi o quanto o ser humano é importante”

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“Situação de pobreza extrema na comunidade de Xangrilá”

Durante a primeira onda da pandemia, descobrimos que as pessoas estavam vivendo em pobreza extrema. Então, nos reunimos na comunidade de Xangrilá e eu pude dar uma contribuição pouca, porque Graças a Deus, permaneci trabalhando. Diferente de muitos colegas, não fiquei desempregada. Deparei-me com várias pessoas, famílias, pais de famílias, todos desempregados e necessitando de uma ajuda financeira ou do governo.

Com o pouco recurso que tínhamos, conseguimos ajudar as pessoas com cestas básicas, que foram muito bem vindas. As pessoas ficaram muito gratas. Com um breve relato que elas fizeram, pudemos perceber que as pessoas ficaram sem chão, sem saída, durante esse período.

Pessoas que tinham um emprego formal e hoje se depararam com uma situação tão difícil. Ontem, não havia nem comida.

Mesmo com o auxílio emergencial, as pessoas não conseguiram se manter. O valor do auxílio de 600,00 foi muito pouco. Com poucos recursos, conseguimos atender pelo menos um pouco na alimentação, pois o principal também é a pessoa estar bem, bem alimentada.

A gente percebeu que as pessoas estavam passando necessidade, em pobreza extrema.

Algumas pessoas choravam, e a gente estava aqui, tentando ajudar, de uma forma ou de outra. A gente fez de todo coração esse trabalho. E foram chegando cestas básicas. Mas agora, infelizmente, a gente não tem mais como ajudar as pessoas nessa parte da alimentação. E como a pandemia ainda não acabou, praticamente 90% das pessoas daqui ainda estão sem emprego formal, muitos estão correndo atrás de trabalhar na rua para tirar alguma forma de sustento.

Pedido

Quem puder ajudar, as cestas básicas serão muito bem-vindas novamente, porque a gente tá precisando muito. Quem puder, fique em casa E quem estiver trabalhando, segure o seu trabalho, porque a gente não sabe como será o ano de 2021. Eu acredito que vai ficar um pouco pior, mas a gente tá aí para poder ajudar, na maneira que for possível, e da forma que for necessária.

São mais de 900 famílias nas redondezas de Xangrilá. Imagine o que o nosso povo não está passando nessa situação de pandemia! Tomara que a vacina seja eficaz para podermos nos reerguer, não dependendo do governo, porque o governo de hoje não está aí para ajudar o povo.

Meu nome é Jaqueline de Almeida, sou moradora de Xangrilá.

Veja mais: “Precisamos de cestas básicas durante a Pandemia”