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60 anos ou mais Bahia Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Prta Raça/Cor

“Empatia: cuidando do outro estamos ajudando a nós mesmos”

Eu sou uma pessoa que ama a vida, tenho empatia e acredito que eu vim com uma missão. Me chamo Iara, e este nome é dado às mães. Então, eu acredito que vim para cuidar das pessoas. Muitos me chamam de altruísta, mas altruísta ou não, eu sei que vim com uma missão.

Durante esse processo que está acontecendo com toda a humanidade, muita coisa mexeu comigo. Nós, seres humanos, temos o compromisso, um com o outro, de cuidar do outro, em todos os aspectos e ter empatia. Muitas pessoas tiveram surtos e acredito que deveriam disponibilizar psicólogos e terapeutas para mostrar os cuidados e como lidar com a pandemia.

E sabendo que nós somos produto do meio, temos também de nos adaptar, principalmente na questão da higiene, pois nossas vidas foram fortemente impactadas. Eu me coloquei na posição de ajudar. Coloquei à disposição o meu número de telefone para que as pessoas possam entrar em contato comigo para conversar. Já cheguei ao ponto de ter que chamar uma moto ou um carro para providenciar os medicamentos necessários para pessoas doentes, porque elas não teriam como comprá-los.

Porque devemos ter empatia

A gente precisa fazer alguma coisa pelo outro. E essa questão das pessoas dizerem que não tem ajuda governamental não interessa, pois o mais importante é que a gente possa fazer algo pelo outro, independente de termos ajuda. E se dividirmos o que temos, a gente vai viver bem melhor. Pois esta pandemia veio justamente em um momento em que as pessoas estavam extremamente desgarradas. É como se tivesse perdido o amor um pelo outro.

Essa situação ao mesmo tempo tem unido as pessoas, que estão dando mais atenção a quem está na rua com fome, a quem está nu, a quem está precisando de medicamentos. Estamos fazendo muito e eu quero continuar fazendo a minha parte, porque isso é com Deus.

A partir do momento que estamos ajudando o próximo, estamos ajudando a nós mesmos. Eu, mesmo apresentando problemas de saúde (tenho 10 parafusos em minha coluna), não me sinto impedida de pensar que existem problemas maiores lá fora, muito maiores que os meus. Precisei até acolher pessoas de outros países em minha casa que estavam sendo escravizadas. Enfim, uma série de problemas. Pessoas que vieram do interior, com parentes aqui internados e que não tinham onde ficar, e eu acolhi.

Ajudar nunca é demais

E é assim: a gente toma conta da gente e toma conta do outro. A gente faz o que tem que ser feito é não ter e tem que ter para dar. Ajuda nunca é demais, e o que a gente precisa fazer de melhor é isso, é
olhar o outro como um todo, estando no lugar dele. É você ter estar ao lado de fora de um hospital com um paciente lá dentro e não poder entrar, mas ter alguém para lhe dizer: “olhe, eu estou aqui”.

Eu faço isso mas não quero nada em troca. Estou fazendo isso porque é de mim, é minha índole, e espero que isso tenha sido de grande valia.

Para finalizar, que isso não se mantenha apenas durante a pandemia, pois nossa vida já foi modificada. A partir do momento em que tudo isso mudou a nossa vida, a gente também precisa mudar. Mudar nossos conceitos errôneos em pensar em não ajudar para não virar um circulo vicioso. Não, se a gente tem roupas nós oferecemos roupas; se a gente tem alimentos, a gente vai oferecer alimentos, e assim sucessivamente porque a vida vai continuar.

E nós estaremos diferente por ter sofrido essas agressões, mas temos que cuidar. E a palavra de ordem é gratidão, empatia e e cuidado. A partir do momento que acende uma luz, eu estou iluminando o meu próprio caminho.

Eu sou de Logun Edé, espiritualista ecumênica oriunda do candomblé da nação Angola e com raízes na Casa Branca, sou neta de Julieta Alves de Oxum, ladê Durvalina da Anunciação de Oxóssi. 

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18 a 24 anos Bahia Ensino Superior Incompleto Escolaridade Estado Gênero Idade Indígena Mulher Cis Raça/Cor

“Passei a não assistir mais aos jornais e procurava não ler sobre o assunto”

Desde dezembro de 2018 participo do Projeto Cunhataí Ikhã ( Meninas na Luta), do qual sou uma das monitoras da região Norte da Bahia. O objetivo do projeto é estimular que as meninas indígenas reconheçam os seus direitos e deveres, que elas possam lutar por todos eles e façam suas próprias escolhas. E um dos principais objetivos é que a menina indígena tenha os 12 anos de educação escolar completos.

Teríamos a formação de 60 meninas indígenas, porém com a chegada do vírus ao nosso país ficou impossível acontecer, pois são meninas de todo o estado da Bahia. Diante disso estamos realizando encontros onlines todas as quintas, manter o vínculo durante a pandemia, e nossas coordenadores nos traz temas interessantes a serem discutidos. 

Em maio de 2020, aqui em minha comunidade foi realizada uma reunião pelo CONTAM (Conselheiros Tuxá da Aldeia Mãe), que ficaria restrito o acesso à nossa comunidade. No portão ficava uma pessoa para monitorar a entrada somente de indígenas e entregas de alimentos ou gás.

O portão era aberto às 06h da manhã e fechado às 22h da noite. Porém, foi por um período muito curto. Entretanto, algumas famílias tiveram que continuar com suas atividades para assim poderem colocar comida em suas mesas. Já outras tiveram que permanecer em casa, pois suas atividades foram suspensas para evitar aglomerações.

Para suprir as necessidades da comunidade, principalmente de quem ficou desempregado na pandemia, a Funai, em parceria com a Conab, disponibilizou a entrega de cestas básicas para a comunidade e cada família foi contemplada com duas cestas básicas.

Covid-19 na aldeia

Eu achava que esse vírus não chegaria na comunidade, até que chegou, e, a partir de então, começou a mexer com meu psicológico. Eu já estava a morrer de medo, todas as noites tinha pesadelos e não conseguia mais dormir direito. Passei a não assistir mais aos jornais e procurava não ler mais nada que tivesse relação com notícias de mortes sobre o vírus.

Sabemos que todo cuidado é pouco, mas, mesmo com toda cautela, o primeiro caso na nossa aldeia surgiu no mês de setembro. Graças ao bom Deus o homem em questão tomou todas as medidas preventivas para que o vírus não proliferasse e se curou.

Aulas remotas

Em relação à universidade, como as aulas presenciais tinham sido suspensas, a coordenadora, junto com os professores, resolveram fazer um projeto (Ação Pedagógica) com a turma, que durou três meses. Não foi fácil, pois éramos acostumados a nos vermos, a termos contato físico e, de uma hora para outra, estávamos lá nos olhando através de uma tela. Mas cada um conseguiu desenvolver do seu jeito, sendo orientados pelos professores.

No mês de novembro do corrente ano, as aulas voltaram de forma remota e teremos 45 dias de aulas. Um meio que para muitos parecia que seria fácil, está sendo complicado. Muitas pessoas não têm acesso à rede de internet e, mesmo para quem tem, a rede não pega tão bem, prejudicando, assim, o estudante em participar das aulas ou fazer os devidos trabalhos.

Sabemos que vai ser difícil essa pandemia acabar, mas eu anseio que tudo acabe bem, que todos venham a sair com vida e esperança para um mundo melhor.

Me chamo Joana Darc Apako Caramuru Tuxá, tenho 23 anos e sou indígena. Moro na Aldeia Tuxá – Mãe, município de Rodelas, norte da Bahia, nordeste brasileiro. Sou filha de Lucy Meire Sena do Nascimento (indígena) e José Humberto Alvino de Souza (não indígena). Atualmente estou cursando o IV período da Liceei-Uneb (Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena – Universidade do Estado da Bahia – CAMPUS VIII), em Paulo Afonso-BA.

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18 a 24 anos Bahia Ensino Superior Incompleto Escolaridade Estado Gênero Idade Indígena Mulher Cis Raça/Cor

“Meu sonho é voltar formada para cuidar da saúde do meu povo”

Sou estudante de Fisioterapia na Universidade Federal da Bahia e dentro da universidade busco quebrar estereótipos e falar sobre a saúde indígena nos diferentes espaços. Faço parte do grupo de pesquisa PET Comunidades Indígenas, onde debatemos as temáticas indígenas, como saúde, território, educação e outros. No PET, faço parte do Observatório de Saúde Indígena onde fazemos atividades e pesquisas voltadas para essa área.

Neste momento de pandemia me encontro em minha aldeia, aguardando as aulas presenciais para retornar a Salvador. Me formaria este ano, mas devido a pandemia isso não foi possível. Aulas online foram oferecidas pela universidade, porém na área da saúde as últimas disciplinas são práticas, não podendo ser oferecidas no semestre online. 

Atualmente, tenho me focado na minha loja online de artesanatos, criada como forma de divulgar a cultura e beleza da arte indígena e como uma forma de renda para me manter estudando em Salvador. Durante a pandemia a procura pelos artesanatos se tornou maior. 

Hoje, o meu sonho é poder retornar para minha comunidade formada e cuidar da saúde do meu povo, foi o motivo pelo qual escolhi um curso de saúde.

Me chamo Wany Tuxá, sou indígena do povo Tuxá, minha aldeia fica localizada no sertão baiano, às margens do velho Chico. Venho de uma família de lideranças indígenas dentro da minha comunidade e cresci na luta do meu povo que teve seu território inundado pela construção de uma barragem. Hoje ainda lutamos pela demarcação do nosso território.

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14 a 17 anos Bahia Ensino Médio Incompleto Escolaridade Estado Gênero Idade Indígena Mulher Cis Raça/Cor

“Nossos rituais sagrados foram prejudicados devido à mudança de rotina”

Sou estudante do Colégio Estadual Indígena Capitão Francisco Rodelas, onde curso o segundo ano do ensino médio. Diante da nova realidade que enfrentamos devido a pandemia, tivemos que aderir ao ensino através das aulas remotas.

Esse formato era um grande desafio tanto para os alunos como para os professores que não estavam acostumados com esse modo de ensino. Contudo, a nossa escola conseguiu desenvolver um bom trabalho diante das circunstâncias.

No entanto, um fator que ficou prejudicado com o isolamento social, foi a prática dos nossos rituais sagrados. Tivemos que mudar também a nossa rotina, para nos proteger e assim proteger nossos anciões.

O meu maior desejo é que tudo isso passe logo para que possamos voltar a nossa rotina, cheios de esperança por um mundo mais solidário e humanizado. E que as pessoas aprendam a dar valor às coisas importantes como um abraço, e que continuem valorizando o que temos de mais importante que é a família.

Meu nome é Aline Apako Arfer Jurum Carraté Tuxá, tenho 17 anos, moro em Rodelas-BA, e sou indígena pertencente ao povo Tuxá Aldeia Mãe.

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Bahia Mulher Cis Pós-Graduação Incompleta Prta

“Por aqui ser uma comunidade da zona rural, muita gente vinha do centro da cidade para cá para poder ir para bares e continuar uma socialização”

Eu estava acompanhando a pandemia desde o início, desde que começaram os primeiros casos na China. E estava um pouco apreensiva desde lá. Minha família até brincava comigo que eu estava sendo precipitada.

À medida que as coisas começaram a avançar e começaram a surgir os primeiros casos da pandemia aqui na Bahia, em Feira de Santana e depois em Salvador, eu já comecei a tomar os cuidados.

Porque Salvador é uma cidade que a gente precisa de transporte público, enfim, na própria universidade a gente acaba tendo contato com muitas pessoas no dia a dia. Então, quando foram chegando os primeiros casos, eu já comecei a tomar os cuidados. Inicialmente, eram o uso de álcool em gel, chegar em casa tirar a roupa e tomar logo banho, esses cuidados assim. Ainda não estava inserido o uso de máscara e dessas questões.

Infodemia

Mas o primeiro impacto que eu senti quando começou mesmo o isolamento social foi psicológico. Eu me lembro que, nos primeiros dias da quarentena, eu ficava ali imersa nas notícias.

Eu acordava e a primeira coisa que eu fazia…eu pegava meu celular, entrava nas redes sociais, no Twitter, no Instagram, nos sites de notícias que eu costumo ver pela manhã, ouvia podcast. Geralmente meu pai estava também com a televisão ligada, então eu acabava consumindo essas notícias assim que eu acordava. E, durante o dia, eu ia atualizando o número de casos, quantas pessoas morreram, enfim, estava totalmente imersa e isso estava me fazendo um mal muito grande.

Até que minha mãe falou para mim: “você só fala disso agora, para de falar disso!”. Foi até engraçado na época, que ela só faltou me dar um sacode. E foi quando eu vim cair na real que aquilo estava me fazendo mal, porque eu estava muito ansiosa.

Eu não estava conseguindo fazer nada além de vivenciar a pandemia. Tomando os cuidados, mas vivenciar que eu digo a nível de informação. Então eu estava totalmente imersa nesse contexto e, depois que minha mãe falou isso, eu falei: “realmente, eu tenho que tomar algumas medidas de cuidado mesmo, para que eu não adoeça nesse processo”.

Uma pausa nas redes

E aí eu comecei a silenciar as palavras nas redes sociais. Comecei a silenciar no Twitter, no Instagram, parei de seguir algumas páginas também – que durante os “tempos normais”, digamos assim, tem um um conteúdo jornalístico diferente, mas que nesse período não tem como os veículos não estarem dando uma atenção maior a questão da pandemia.

Então eu fui adotando essas medidas mesmo de consumir menos notícias possíveis sobre a pandemia. Eu passei a ver umas duas vezes no dia, mais ou menos, para ver o que estava acontecendo. Não me deixando de me informar, porque é importante também, mas não deixando que as notícias chegassem a mim de qualquer forma.

Incialmente, eu achei que ia durar menos tempo do que tem durado. A gente já está avançado para uns quatro meses, mas inicialmente eu acreditava que seria uma coisa de uns dois meses. Enfim, eu estava acompanhando a realidade dos outros países também, então eu estava com um pouco mais assim de esperança, mas, ao mesmo tempo, com muito medo do que estava acontecendo. E de quando isso ia chegar na minha família, quando ia chegar nas pessoas mais próximas.

Da cabeça para o corpo

No início do ano, eu tinha iniciado uma psicoterapia que estava me ajudando bastante. Era presencial, agora é através das vídeo chamadas. Nos primeiros dias, eu falei assim “ah, eu acho que eu não vou continuar, porque acho que não vai funcionar, acho que vai durar pouco tempo também”. Mas, de fato, essa tem sido uma ferramenta que tem me ajudado muito, porque as coisas continuam acontecendo.

Nas nossas famílias, vão acontecendo problemas e, enfim, o mestrado, tantas outras coisas vão acontecendo também para além da pandemia, fora as milhares de notícias ruins que vem acontecendo nos últimos meses.

Então é um acúmulo de coisas muito grande, que eu tenho aprendido ainda a lidar, mas que o principal impacto que eu senti inicialmente foi isso – psicológico – mas que depois se reverteu no meu corpo também. Um cansaço físico enorme. Mesmo que eu não estivesse em um movimento muito grande de sair.

Mudanças na rotina

Minha vida é ir para universidade, fazer as coisas em Salvador, uma mobilidade muito grande durante o dia, não costumava ficar dois dias sem sair de casa. Ficava um dia, era o máximo. Então eu comecei a ter um cansaço físico muito grande, tive até um problema dermatológico, que eu acredito que tenha sido por conta disso. Porque eu nunca tinha tido, e aí, enfim, foram essas coisas assim que aconteceram.

Primeiro impacto que eu senti foi em relação ao meu psicológico, depois eu senti o meu corpo respondendo a isso, e à medida do tempo, fui tentando traçar estratégias para poder amenizar esses impactos sobre mim.

Universidade, estudo e militância

Atualmente faço mestrado no programa Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, na Universidade Federal da Bahia. Sou formada em serviço social pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Quando a pandemia começou, estava bem no início das aulas, tanto na UFBA, quanto na UFRB. As atividades estavam sendo retomadas. Inclusive, eu só fui à universidade dois dias se não me engano.

Atualmente, faço parte do Portal Black Fem, um portal de artigos, notícias, conteúdos nas redes sociais, que é formado também por jovens negras de vários lugares do Brasil. A gente produz conteúdos que são publicados nosso site e Instagram, que são as duas ferramentas de comunicação sociais que a gente utiliza.

Também faço parte, desde 2018, do Coletivo Angela Davis, um grupo de pesquisa e ativismo em gênero, raça e subalternidades que se propõe, para além de estudar e fazer as pesquisas acadêmicas, também praticar um ativismo político junto a outros grupos e organizações, principalmente de mulheres negras.

Reuniões eram também socialização…

Quando começou a pandemia, o coletivo estava nesse processo de retomar as atividades. Semestralmente, a gente faz um calendário de atividades, já para o semestre inteiro, e a gente estava nesse processo ainda.

Anteriormente, nossas reuniões eram quinzenais, presenciais. Então quem não morava em Cachoeira se deslocava até Cachoeira. Além de ser um momento de reunião, era também um momento de confraternização, de troca mesmo. Depois, a gente saia para tomar uma cerveja, para almoçar, para fazer alguma coisa. Os laços se estreitavam a cada vez que a gente se encontrava.

…e passaram a ser online

A primeira estratégia que a gente encontrou, assim como outros grupos, foi de fazer as reuniões online. E as reuniões passaram a ser semanais. No cotidiano não teria como ser semanal, não daria tempo das pessoas se deslocarem. E como atualmente estamos todas em casa, ficou um pouco mais fácil de fazer as reuniões semanalmente.

Durante esse percurso, a gente foi encontrando formas de fazer as reuniões. A gente também foi pensando algumas ações que não deram certo e tiveram que ser reorganizadas. Muito porque é tudo muito novo. Embora a maioria das pessoas tenha acesso à tecnologia, já tenham mais familiaridade no uso das plataformas, ainda assim é tudo muito novo.

E tem acontecido muita coisa na internet, no Instagram, nas redes sociais, tem acontecido uma grande produção de conteúdo. A gente também estava tentando se inserir e pensar o que fazer para que as nossas reuniões não ficassem só entre nós.

O coletivo normalmente propõe ações e atividades para fora das pessoas que fazem parte do grupo. Foi um processo de adaptação, que teve erros, percalços, e, à medida do tempo, a gente foi encontrando alternativas. Nossa principal forma de comunicação hoje são as reuniões e o grupo no whatsapp, que já era bastante utilizado para mandar os informes.

Webinários e formações

Nós estamos com um projeto promovendo alguns webinários nas temáticas que envolvem o tema do racismo e do antirracismo atrelados a outras questões no contexto do Brasil e dos Estados Unidos. Pensando nos últimos acontecimentos, na morte do George Floyd, e em algumas outras coisas que o coletivo já queria propor, foi formada a Rede de Estudo e Formação em Racismo e Antirracismo. Atualmente, a rede vem desenvolvendo atividades.

Outra coisa que a gente tem promovido é um curso de formação nos estudos de gênero e raça. É um curso que costuma ser proposto para os integrantes do coletivo e que, nesse contexto de pandemia, curso foi aberto para mais pessoas.

Estou como aluna do curso também, então tem sido um momento muito interessante de aprendizado. Para ouvir outras pessoas do coletivo que são facilitadoras das temáticas, para ter contato com os textos, e também para ampliar a rede de pessoas. A gente percebe que tem muitas pessoas de outros estados, outros movimentos sociais, e algumas estudantes da graduação, que estão se interessando ou iniciando as pesquisa nesse campo de gênero e raça.

Viver a pandemia em zona rural

Meus pais moram na zona rural de Cachoeira, o que me traz de certa forma um pouco mais de tranquilidade. Porque aqui a gente não fica restrito ao espaço físico da casa. A gente tem um quintal grande, uma área grande. Durante o dia, meus pais, que são do grupo de risco, conseguem realizar outras atividades.

Aqui na minha comunidade, no início, as coisas não tinham mudado tanto, por conta do baixo índice de casos que tinha aqui em Cachoeira. Mas, à medida que o tempo foi passando, e as próprias pessoas da comunidade foram diagnosticadas com Covid-19, as coisas mudaram um pouco.

As pessoas passaram a ter uma outra articulação. Por ser uma comunidade de zona rural, as pessoas têm muito costume de dar uma coisa a outra, o que é produzido é compartilhado entre os vizinhos, ou de ir muito na casa dos vizinhos, ou de parar para conversar. Essa realidade tem sido um pouco mudada. A rua que eu moro é uma rua em que moram pessoas mais velhas, então passou-se a ter esse cuidado.

Por aqui ser uma comunidade da zona rural – como Cachoeira no início estava com os bares fechados – muita gente vinha do centro da cidade para cá para poder ir para bares e continuar uma socialização. Isso foi algo que estava me preocupando bastante, estava preocupando meus familiares e outras pessoas, porque era uma forma da comunidade estar um pouco mais vulnerável.

Aqui também a questão de transporte era muito específica, tem transporte com horário específico para sair, horário para voltar, isso também mudou.

Zona rural, reorganização financeira e novas tecnologias

Muitas pessoas que moram aqui vivem da feira, e tiveram que se reorganizar vender seus produtos. Conheço algumas pessoas que, por serem mais velhas, tiveram que dar um tempo de realizar a venda e comercializar os produtos que costumam vender, porque isso se tornou perigoso. Algumas pessoas da comunidade rural também implantaram o delivery, que era algo que antes não tinha.

Percebi que as pessoas foram buscando estratégias para conseguir uma renda. Muita gente aqui vive do que produz na roça, ou de algum trabalho não fixo. E agora que a gente está vivendo o contexto de pandemia, muitos trabalhos que não são fixos tiveram que parar ou diminuir. Por isso, de maneira gradual, as pessoas foram buscando essas estratégias de sobrevivência financeira.

Minha mãe, por exemplo, é professora. É uma pessoa de referência aqui na comunidade, é professora dos filhos dos alunos dela de vários anos atrás, porque ela já é professora há mais de 25 anos. E a vida dela de educação no campo é complemente diferente do que tem sido agora. Então ela está nesse processo de aprendizado e de tentar usar as tecnologias, que é algo que ela não utilizava. E eu tenho que auxiliar ela nesse processo de enviar atividade, de produzir atividade – ainda que seja difícil inclusive para mim, que não tenho nenhum domínio pedagógico, mas tem sido assim uma troca. Isso também impacta na vida dos alunos dela e das famílias. Porque acho que a escola aqui é muito um lugar de encontro, onde tem mais contato com as famílias e com as crianças.

No meio rural, ao ar livre, precisa de máscara?

O principal momento em que as pessoas passaram a se conscientizar e tomar medidas um pouco mais severas, como o uso da máscara…porque aqui a gente está ao ar livre, então algumas pessoas diziam que não precisa. Por estar está ao ar livre, no meio de árvore, encontramos poucas pessoas. Se eu estou aqui fora de casa, vejo uma pessoa passar agora e outra daqui a 10/15 minutos. Não tem uma quantidade de gente muito grande, principalmente na rua em que eu moro.

Planejamento de um futuro incerto

Antes da pandemia, eu nunca fui uma pessoa de me organizar muito para o futuro, pensar: “ah, minha vida daqui a 5 anos vai estar de certa forma”. Por exemplo, quando eu sai da graduação, não tinha tanto um projeto de vida traçado. Sabia que queria fazer um mestrado, a temática, mas, com o passar do tempo, eu comecei a pensar numa perspectiva mesmo de futuro

Tenho que escolher algo que vai me trazer um retorno. Claro que tem que ser algo que eu goste, mas estou caminhando para frente e preciso traçar um futuro assim do que eu quero, até porque traçar um futuro vai permitir traçar estratégias para chegar onde você almeja – pensava. Então na minha cabeça estava isso bem planejado.

Então, à medida que eu fui amadurecendo, ficando mais velha, entrei no mestrado, eu tinha um plano de vida traçado. Estava pesquisando programas de doutorado, pensando um projeto que eu pudesse encaixar.

Altos e baixos

Aí, quando chegou a pandemia, à princípio, eu estava pensando que ia ser uma coisa de dois meses . “Vou aproveitar para estudar, aprofundar minha pesquisa, ler mais” – pensava.

Mas, durante a pandemia, foi exatamente acontecendo o inverso. Muitos momentos de altos e baixos. Tinha semanas que eu super focada nos estudos. E outras semanas em que ficava sem fazer nada. Pegava algo para ler e não conseguia. Tentava assistir alguma coisa e não conseguia.

Eu perdi durante um tempo essa capacidade de articular um futuro. Ficava vivendo uma dia atrás do outro. Cheguei naquele momento de pensar: todos os dias são iguais, não sei quando vou sair disso, não tenho mais motivação para planejar nada, porque eu não sei quando é que as coisas vão voltar a acontecer.

Mas eu acho que, à medida que as coisas foram acontecendo, eu vi que algumas estratégias estavam dando certo, que as pessoas estavam encontrando estratégias para fazer as coisas acontecerem. Obviamente, não da mesma maneira que antes, mas as coisas estavam acontecendo. Eu precisava de alguma forma acompanhar isso; não podia parar e esperar a pandemia passar.

Atualmente eu tento encontrar uma perspectiva de quando as coisas vão melhorar. Porque passar vai demorar um tempo. Eu acredito que as coisas vão mudar muito, já tem mudado. Eu, pelo menos, sou uma pessoa muito afetiva, de encontrar as pessoas, abraçar, beijar, de ter o toque mesmo, então eu fico pensando muito sobre isso, de encontrar algumas pessoas e pensar “abraço ou não abraço?”.

De perto e de longe

Uma coisa que aconteceu ontem. Eu tenho um primo que eu considero como irmão. E ele já está aqui há três meses. Assim que começou a pandemia, demorou umas duas semanas, e ele veio para cá e está passando a pandemia meio com a gente.

E todas as vezes em que a gente se encontra, a gente se abraça. Só que dessa vez a gente não pode se abraçar. Foi a primeira vez que a gente se encontrou, ficou junto e não pode se abraçar. A gente tem uma relação muito próxima de carinho, de abraçar, de beijar. E aí quando foi ontem, foi um momento em família mesmo, eu estava indo para o banheiro e ele passou e me abraçou. Aí não teve como não abraçar de volta.

E minha dinda falou “e pode abraçar?”. Eu falei: “ai, tia, é a primeira vez que a gente passa três meses juntos e a gente não tinha se abraçado ainda”. A gente deu aquele abraço forte como se a gente estivesse há muito tempo sem se ver, quando na verdade a gente está passando a quarentena juntos, mas não podia ter esse momento do toque, do abraço. E eu sinto que foi algo que me marcou muito na hora, eu fiquei presa no abraço pensando “nossa, como isso era comum e agora não é… como de alguma forma a gente tem que se privar de viver isso, ainda que a gente esteja passando a quarentena inteira juntos na mesma casa”.

Isso aconteceu com o meu pai também, mais no início da quarentena.

Eu não tinha bolsa de mestrado e minha bolsa de mestrado chegou nesse processo de quarentena. Isso me deu um certo gás para pensar meu futuro. E no momento em que eu dei a notícia para o meu pai ele me abraçou. Eu não tive como não abraçar de volta. Porque isso era algo que era muito esperado por mim, por ele, por minha mãe, por minhas irmãs.

E eu fico muito pensando como a gente vai lidar com os afetos, com essa falta de abraçar as pessoas, de lidar com as pessoas que a gente ama. Eu fico pensando muito nisso e, ao mesmo tempo, não consigo chegar a uma resposta de como as coisas vão acontecer.

Eu sei que as coisas não vão ser da mesma forma, pelo menos eu não consigo imaginar, mas, ao mesmo tempo, eu não consigo pensar em viver sem encontrar as pessoas, encontrar meus amigos. E não ter aquele toque.

Minha irmã está em Salvador atualmente trabalhando. E isso tem sido uma falta muito grande para mim e para meus pais, porque a gente nunca ficou tanto tempo sem se ver. Tem sido muito difícil. E ela teve uma oportunidade de vir até aqui. Mas ela não veio. Porque ela disse que não ia conseguir chegar aqui e ficar de longe. Chegar e ficar no carro acenando. Para ela seria muito mais doloroso ver a gente de perto e não poder abraçar, do que ela distante fisicamente que é como a gente tem estado nesses últimos meses.

Planejamento sem cronograma

Eu tenho tentado planejar o meu futuro, mas sem pensar muito no tempo, em quando as coisas vão acontecer. Mas voltar aos meus planos antigos. Voltar a por a minha cabeça no lugar. Eu também tenho tentando escrever muitos dos meus pensamentos. Eu passo muito tempo sozinha, às vezes no quarto ouvindo música ou lendo uma coisa, e têm me surgido muitos questionamentos.

Chega uma hora que a gente não tem nenhuma coisa para fazer e o que resta é pensar. Então eu tenho me perguntado muito, feito várias perguntas para mim mesma, escrito as perguntas, lido depois e tentado encontrar respostas. E outras vezes não. Só deixando de registro para que futuramente eu possa acessar isso e tentar ver se o tempo me deu alguma resposta.

Mas, ao mesmo tempo, eu tenho tentado não me cobrar tanto. Porque, no início da pandemia, uma coisa que eu estava me cobrando muito era a produtividade. Tentar fazer as coisas, tentar acordar cedo e fazer isso e fazer aquilo. De certa forma eu consegui adquirir hábitos bons, que eu não tinha antes da pandemia, mas, por outro lado, eu ficava assim: “ah, eu tenho que fazer tudo, tenho que dar conta de tudo, esse é o momento que vou tirar para aprender todas as coisas que eu não tive tempo de aprender”. Só isso que não funcionou, pelo menos para mim. Chegou um momento em que eu não tinha mais energia para fazer as coisas, que eu trocava o dia pela noite, acordava de tarde, aí ficava tentando regular isso e não conseguia.

Tudo o que eu faço agora, me proponho a fazer ou não fazer, isso vai impactar no meu futuro.

Eu tenho aproveitado alguns espaços para fazer algumas coisas que antes eu não tinha coragem de fazer, ou que tinha mais vergonha – tipo aqui, gravar o vídeo, que é algo que eu não tenho nenhuma familiaridade. Durante os webinários eu mediei mesas e para mim foi muito angustiante, porque eu ficava muito com medo de errar, de fazer alguma coisa errada.

E tem muito essa coisa de necessitar da internet. Você combina uma coisa e no dia não tem internet acabou, você desmobiliza tudo.

Ainda tem isso. Além das inseguranças normais acontecem essas que estão fora do nosso alcance mesmo, que a gente não consegue controlar. Então eu fiquei muito angustiada. Mas eu contei com a ajuda de várias pessoas, que têm sido muito importantes nesse momento também. As redes de pessoas com quem eu me relaciono, meus amigos, meus familiares. A gente tem feito muita chamada de vídeo ou conversado muito nos grupos, tentado se ajudar muito, e isso tem me dado uma força. Mas eu tenho tentando usar esse momento também para romper. E isso também é fruto muito do que eu tenho tratado e conversado nos momentos de terapia, que sempre me fazem pensar e buscar algum tipo de estratégia para lidar com algumas questões.

Um alerta

Algumas pessoas costumam dizer que tem o lado bom da pandemia. Não vou dizer que isso em algum momento não passe pela cabeça da gente. Mas eu, particularmente, não consigo ver tanto um lado bom. Mas, ao mesmo tempo, a gente tem tentado encontrar estratégias para amenizar o momento que a gente tem vivido.

A pandemia é algo extremamente ruim em todos os níveis possíveis. Mas, ao mesmo tempo, é um alerta. É um alerta para o nosso corpo, para o nosso tempo, para a forma que a gente se relaciona com o meio ambiente, com a natureza, com o que a gente come.

Agora muita gente entrou nessa de “ah, vou ter uma alimentação melhor, faz minhas coisas em casa, deixar um hábito ruim, porque eu posso estar mais vulnerável na pandemia”. Eu estava vendo e pesquisando bastante coisa nesse sentido da imunidade. Que é uma corrida para conquistar algo que você não conquista em um mês, tem que ser algo gradual, que se conquista com bons hábitos.

Acho que a pandemia trouxe esse alerta, da forma que a gente se relaciona com as pessoas e de alguns hábitos. Eu não consigo me imaginar mais sem o tempo todo limpar meu celular. Mas isso era uma coisa que eu nem fazia antes . Eu via algumas pessoas falando “ah, tem que limpar o celular”. Eu pegava o celular, botava na bolsa, fazia todo esse movimento sem nenhuma preocupação. Então isso para mim não existe mais. Eu não consigo pensar mais em alguns hábitos que antes eram comuns como normais e isso vai acabar perdurando por mais tempo. Eu acho que a pandemia trouxe isso como alerta.

E uma nova forma de se organizar

Acho que trouxe também isso de criar uma nova forma de se organizar. Pensar as organizações, os grupos, da gente criar um sentido maior de comunidade. Eu acho que isso é algo muito importante, que os coletivos de pessoas negras geralmente tentam propor de se articular num contexto de comunidade. E a pandemia traz essa reflexão de comunidade. Por exemplo: eu moro em uma comunidade rural, mas, se eu for sair sempre, se for atender todos os meus desejos e minhas vontades, eu não vou estar pensando no senso comunitário. Porque a partir do momento que eu saio de casa, que eu saio sem máscara, que eu deixo de tomar algum cuidado, eu estou impactando na vida não só da minha família, mas de várias outras pessoas.

Então eu acho que trás para a gente esse sentido de comunidade – para além das paredes da nossa casa, para além dos nossos familiares e das pessoas mais próximas – de pensar num senso maior, pensar no coletivo, pensar de construir isso para um momento que não só esse.

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25 a 39 anos Bahia Ensino Superior Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Indígena Mulher Cis Raça/Cor

“Não teve dor maior que sentir a despedida do Pataxó de Coroa Vermelha”

Perdemos o primeiro parente Pataxó de Coroa Vermelha para a Covid-19 e não houve despedida. Por isso, foi ainda mais doloroso. Após ficar internado durante um tempo, o nosso Pataxó saiu do hospital com o corpo completamente lacrado. Ou seja, foi tirado de nós o último adeus. Não pudemos nem velar seu corpo, como é de costume na despedida em nossa cultura.

Foram momentos de calamidade esses. Além de não termos tido a chance da despedida do nosso Pataxó, para mim teve outra situação que também é muito difícil. Pois, tenho um filho que tem problemas respiratórios e imunidade baixa. E, devido a essa situação, ele precisou ficar mais tempo na casa da minha mãe. Porque eu sabia que ele precisava de mim por perto, mas minha mãe compreendia que eu precisava, juntamente, com meus colegas ajudar outras famílias em estado de vulnerabilidade.

Nossa equipe se colocou na linha de frente. Arriscamos as nossas vidas e a vidas das pessoas que mais amamos para tentar amenizar os problemas que nossas comunidades enfrentavam, além das saudade e da falta da despedida de seus entes.

Nada de despedidas, mas muitas dificuldades

A gente aqui em Coroa Vermelha, sempre tivemos muitas dificuldades, mas nenhuma se compara à qual estamos lidando nos últimos meses. Meu pai e minha mãe contam sempre das tribulações que tivemos nas épocas da baixa temporada e de inverno. É que aqui a gente já cresce nessa cultura de confeccionar e vender, para se preparar para as épocas ruins.

No início da pandemia, eu chorava muito dentro de casa em ver a situação de muitas famílias dentro da nossa aldeia. A nossa maior fonte de renda e de boa parte das famílias era resultado de vendas de artesanatos, de redes de hotéis e do funcionalismo público. Mas o dinheiro sumia a cada dia e as necessidades só aumentava.

Os hotéis fecharam e muitas pessoas ficaram sem seus respectivos empregos. Os funcionários públicos que trabalhavam na área da educação foram todos dispensados até sem direito ao auxílio emergencial, logo nos 3 primeiros meses. 

Muitos pais e mães de famílias estavam indo para as pedras pescar, pegar mariscos, mas havia dias que voltavam com nada, porque a concorrência passou a ser alta.

Solidariedade

Comecei a mobilizar um grupo menor do CONJUPAB, fizemos nossas primeiras reuniões online para vermos o que poderia ser feito. Então, fomos buscar parceria com alguns apoiadores. Fizemos a campanha do quilo; fomos aos comércios que se encontravam abertos para pedir alimentos, remédios, fraldas descartáveis, produtos de limpeza e máscaras; fizemos rifas, a gente conseguia os alimentos e dividia em cestas para doarmos as famílias que mais necessitavam no momento. Eram muitas, muitas mesmo!

Em algumas casas onde a gente chegava foi preciso doar duas cestas por semana, porque eram cheias de crianças. A gente saia com mais vontade de lutar para enfrentar aqueles dias terríveis, mas que foram de grande aprendizado.

Nosso conselho da juventude conseguiu atender mais 300 famílias vulnerabilizadas. Conquistamos 150 cestas básicas por meio do Instituto Mãe Terra e fizemos um rodízio para ajudar as outras comunidades dos municípios de Porto Seguro, Prado e Itamaraju. Fizemos algumas rifas solidárias: uma foi especifica para um dos nossos guerreiros que semana passada nos deixou, o Arauí Pataxó. Foi quando um parente, o Daniel Pataxó, nos doou um cocar de penas de arara no valor de 700 reais para ser rifado em prol do guerreiro. Fizemos uma mobilização arretada e com a graça de Tupã e força dos nossos encantados conseguimos entregar em mãos para a sua família o valor de R$3.700,00.

Eu sou Taiane Pataxó, nasci e me criei na aldeia Coroa Vermelha, tenho 30 anos de idade. Sou professora formada na área de humanas pelo IFBA- Campus Porto Seguro. Sou a segunda secretária do CONJUPAB -Conselho da Juventude Pataxó da Bahia, atualmente trabalho como secretaria execultiva na SEMAI- Secretaria de Assuntos Indígenas de Santa Cruz Cabrália.

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40 a 59 anos Bahia Ensino Superior Completo Mulher Cis Parda

“É um momento que desencontra o nosso pensamento, no que pensamos sobre a Pedagogia de Terreiro, que aprendemos e construímos juntos”

Sou da comunidade do Caxuté e criadora da Pedagogia de Terreiro. Este é um momento difícil. Não só de hoje, mas de outrora. É um momento de encontro e desencontro. Desencontra o nosso pensamento, no que nós pensamos sobre a Pedagogia de Terreiro, que aprendemos e construímos juntos. Este é um momento que está separando nossos corpos dos nossos filhos e filha, dos nossos passados e antepassados, e dos viventes de hoje, que nos encontramos nessa pandemia.

Nós não podemos dialogar bem, e não podemos sentir o calor do outro. Isto é um momento de muita angústia no coração das comunidades tradicionais, porque as comunidades tradicionais se embasam no afago, no acalento, no colo, no carinho, na mãe.

A troca de experiência e viver e saber: um pesca seu peixe, o outro marisca, e trazem para nós quando não temos dinheiro, assim nós fazemos essa troca. Não podemos mandar ir os pescadores ao mangue; trazer o peixe, o caranguejo, o siri, o aratu para o nosso sustento.

Hoje, nós precisamos estar sempre de longe, sem poder encostar no outro por causa de uma pandemia de branco. E hoje temos um vírus que está virando tudo: virou nossos pensamentos, virou nosso viver, nossos saberes, nossos fazeres das nossas comunidades.

No mês de agosto, muitas pessoas de diversas localidades vêm à comunidade do Caxuté para participar da Kizomba Maianga de Kitengo. Este ano, não pôde ter essa troca de experiência por causa da evitação de aglomeração. Já que não podemos juntar nossos corpos, sentir os nossos calores, estamos vivendo um momento muito triste. Precisamos o tempo todo recorrer à nossa ancestralidade: que a gente se cuide, se fortaleça enquanto comunidade. A gente só tem a gritar ao nosso povo para ir ao mato, para ir para às matas, recorrer à nossa mata atlântica.

É difícil viver essa pandemia para os povos de matriz africana

Aí vem um outro lado: como nossos filhos da cidade podem encontrar esses matos, como é que uma casa com 10 ou 15 pessoas tem como se livrar de uma pandemia? Como é que tem como se alimentar e sair dessa aglomeração? Pois nós sabemos que nossos governantes não vão fazer nada para mudar isso, pois isto é a construção de uma política de derrotar o nosso povo preto, os nossos povos indígenas. É esse olhar que nós, de longe, avistamos quem vem; a gente vê quem vem, porque quando os pássaros gritam nas matas, a gente sabe quais são os pássaros que estão gritando forte ou fraco, nos seus cantos.

Quando nós estamos angustiados, quando nós estamos sofrendo, isso nos mata. Como tem matado nas travessias dos navios negreiros.

Então, a gente vê que isso é uma troca de negociação com nosso povo preto, nós temos que ter muito cuidado, porque é uma negociação que nos faz ver que nossos povos não podem ir ao hospital; então vamos para nossa mata. Corremos muitos riscos, vamos morrer nas casas, nas ruas, nos leitos de hospitais, pois não tem recursos para nós. Então, é difícil compreender, entender e viver nessa pandemia para os nossos povos de matriz africana, nossos povos de terreiro, nossos povos tradicionais. Estamos vivendo em um momento de muita angústia e a pior dor, o que mata, é o coração e a mente. Quando nós estamos angustiados, quando nós estamos sofrendo, isso nos mata. Como tem matado nas travessias dos navios negreiros.

O pós-pandemia não vai trazer o fim disto tudo, vai apaziguar, ela vai continuar; como o sarampo, a rubéola, outras e outras.

O que nós precisamos pensar nessa caminhada?

O que nós precisamos pensar nessa caminhada? Porque não vai acabar. Quando passar esse tempo… Porque há o tempo bom e o tempo ruim, nós estamos vivendo o tempo ruim.

Nós estamos nos fortalecendo com os nossos, começando a nos preparar com os nossos, a dialogar com os nossos, para que nós nos fortaleçamos. Na comunidade do Caxuté, é sempre dito pelo Caboclo, o Caboclo Pena Branca, o Caboclo Correia das Neves, ele diz assim: “Vamos plantar para os nossos filhos comer, para não comer batata de cemitério.”

Quando ele fala batata de cemitério, ele diz que, se não nos fortalecemos enquanto nós, só vai ter mais fracasso, mais derrotas nas nossas caminhadas. Porque, quem não consegue fazer nada dentro de um ano que para tudo, o que vai existir a não ser a pobreza? O que está acontecendo este ano é que no próximo ano vai existir mais pobreza ainda e comunidades mais fracassadas. Quem não tem terra, quem não tem um mecanismo, acesso a água, a plantar e colher, vai ficar difícil. Vão sobreviver de quê? Esse auxílio esse emergencial não vai existir.

Pedagogia de terreiro

A gente precisa auxiliar as comunidades tradicionais; de uma forma ou de outra abrir as escolas, criando outros mecanismos, outros meios de escola, para ensinar às crianças, como a Pedagogia do Terreiro, que abre a sua sala de aula no mar, no rio, no mangue, na terra. Para essa construção de aprendizagem, desse legado que nossos ancestrais deixaram para nós.

Nós vamos continuar o diálogo; que as comunidades, as escolas e as universidades possam estar cada vez mais contribuindo com isto, principalmente dentro dos espaços das universidades, para que se tenha um outro olhar perante nossos povos. 

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40 a 59 anos Bahia Parda Pós-Graduação Completa

“O que fazer com a comunidade do terreiro, que confia em nós?”

Em março, eu soube que o Brasil estava em pandemia.  Foi um susto para todo mundo. As pessoas começaram a ter sintomas de depressão e nossas comunidades de terreiro começaram a se perguntar:

Como vamos fazer? Vamos esquentar Cavungo ou vamos acalmar Cavungo? Vamos esquentar Obaluaê ou vamos esfriar Obaluaê?

Existiam essas discussões nos grupos. E nada mais que nós pensávamos era simplesmente a gente ter equilíbrio em nossas mentes e voltar para as nossas tradições, para nossos conhecimentos. E isso tem nos provado, porque, até o presente momento, nós não temos remédio eficaz contra a Covid-19.

Então, eu vejo que o melhor remédio nesse momento tem sido recorrer às nossas zonas de mata, aos espaços que não tenham aglomerações de pessoas estranhas a nós, ou pessoas que estejam contaminadas.

Não existe esse pensamento de a gente criar um preconceito, uma discriminação contra quem está com o novo coronavírus. Mas é um momento para as pessoas que estão com Covid-19 terem um cuidado consigo e com as pessoas que estão por perto. Também tem que estar um sentimento de troca e de afetividade. É um cuidado com nossos corpos, para que a gente não tombe. Porque basta de a gente tombar!

A gente já tombou historicamente nos navios negreiros; pela colonização; pela colonialidade do poder, encabeçado por Portugal e as potências europeias, que a gente sabe: não só europeias como potências daqui. Portugal nos escravizou, Portugal nos matou.

A pandemia vem desde o período da colonização do continente africano

Desde o começo, quando vou falar alguma coisa, digo que a pandemia não começou de agora; que esta pandemia nasce desde o período da colonização do continente africano, da colonização da África. Ali, a gente entra em uma colonização histórica; a gente entra em uma necropolítica, a política da morte. É o que tem sido colocado aos nossos corpos.

A gente foi morta. E tem sido morta cotidianamente pelas forças policiais brasileiras. A gente também sabe que tem, dentro das forças policiais, pessoas engajadas no combate ao racismo institucional, ao racismo histórico que sofremos nas instituições públicas.

Quando a gente fala que a polícia foi feita para defender brancos, é isto, justamente. A exemplo da Bahia: a polícia, apesar de ter um corpo policial que é negro, é ensinada a defender um corpo branco. Então é preciso que a gente repense cada dia mais, enquanto comunidades, quais os nossos papéis em defesa dos nossos povos. E cabe a nós, enquanto cientistas sociais – da antropologia, da química, da física, da matemática -, dar educação. 

Redes sociais, povos de terreiro e comunidades tradicionais

É dos saberes e fazeres tradicionais que a gente pensa o que esses momentos de pré-pandemia, pandemia e pós-pandemia nos trarão de impactos no pós-pandemia. Inclusive, na disseminação das redes sociais. O contato continuará a ser muito pelas redes sociais. O que já era antes.

A gente precisa mais do que utilizar essas tecnologias: precisa ver até que ponto essas tecnologias estão favorecendo as nossas comunidades e povos de terreiro. Se essas tecnologias são um vigia do colonizador para nos capturar, ou se elas são um mecanismo de defesa nosso enquanto comunidades tradicionais.

Sempre que eu ouço companheiros, parentes e indígenas, nos é colocado, pelos mais velhos, que a gente não use as tecnologias de forma a esquecer a mente no jogo; acessar o WhatsApp de forma supérflua. É preciso que a gente use o aparelho celular, todo esse aparato tecnológico, para defesa das nossas comunidades, para denunciar os atos de racismo, de intolerância, de perseguição que nós estamos sofrendo.

É importante que a gente sempre esteja atento a essa discussão do racismo dentro, inclusive, deste momento de pandemia. Neste momento, nós, da comunidade Caxuté, por estarmos na zona rural, é importante usar a palavra sororidade, não sei se especificamente neste momento, mas para nós homens negros, índigenas. Não utilizamos de cartão de crédito para oferecer libertação e cura ao coronavírus, como muito pastores de televisão.

Foi muito estranho o começo da pandemia, aquela sensação de que todo mundo ia morrer, pois víamos a mídia, como por ela estávamos sendo alertados. Com a Globo divulgando em grande massa aqui no Brasil, sempre falando da Itália, da China.

Sentimento de insegurança – o que fazer com a comunidade do terreiro, que confia em nós?

De repente, foi o Brasil. E o governo não ajudou em nada. Na gente, aquele sentimento de insegurança. Foi um momento de terror dentro das casas, do terreiro, e dentro das comunidades tradicionais, porque também somos humanos. A gente tem sede, a gente tem fome. A gente é humana, a gente tem sentimentos. As pessoas ficaram nervosas, isso tudo abala o sistema nervoso, tanto do homem como da mulher, e a gente vê as crianças desesperadas. Foram muitos noticiários a respeito do coronavírus, especialistas falando que muita gente iria morrer, pois o vírus é letal.

A gente sabe dos assintomáticos, e cada corpo e cada organismo responde diferentemente. Utilizamos saberes tradicionais, xaropes tradicionais. E nós temos sempre tentado ficar em isolamento social. O que fazer com a comunidade do terreiro, que confia em nós? Sempre ficamos muito tranquilos, pois não agimos como as potências evangélicas do país, que prometem isso e aquilo para a salvação e para a cura. Não utilizamos de cartão de crédito para oferecer libertação e cura ao coronavírus, como muito pastores de televisão.

Quando os terreiros de candomblé começaram a tocar, nós também denunciamos nas redes sociais. Porque no terreiro de candomblé, infelizmente, também temos pessoas que acreditam no desgoverno do presidente Bolsonaro. Logo, o charlatanismo nos persegue; persegue também o Brasil.

A cura

Vemos as pessoas prometendo a cura. A cura nada mais é do que uma cura que vem do nossos corpos, que vem das nossas tradições, que vem pelo afeto; que precisa vir pela ciência. Não há oposição à ciência, mas defendemos sempre que a ela tem que andar com muito respeito com as comunidades tradicionais, pois é lá que buscamos nossos medicamentos, nossas vacinas. Se não fossem nossas folhas, nossas rochas, nossa terra; se não é o ar, o sol, a lua, a gente não tem medicamentos. Assim, precisamos que a ciência aprenda a respeitar as comunidades tradicionais e esses saberes que são repassados a nós.

No pós-pandemia será preciso que a gente se reinvente; é preciso que nossos dogmas sejam repensados.

A normalidade no pós-pandemia, de ensinamento, vem do começo da pandemia: fechamos a comunidade; há pessoas que estão morrendo, jovens estão morrendo. Não poderíamos negar isto ao nosso povo. Fechamos as portas e começamos a ver alternativas. Como o Caboclo sempre diz: “a gente precisa plantar para comer; a gente precisa plantar para sobreviver.” Assim começamos a viver com o que tínhamos na comunidade rural.

O que é normal?

Não acreditamos que voltará à normalidade, pois, o que é normal? Por não ter uma deficiência física, eu sou normal? Por eu não ter um problema psiquiátrico, eu não sou normal? O que não é normal para mim, não é normal para você. A homossexualidade é normal para a comunidade LGBT, mas pode não ser normal para a comunidade hetero. E essa normalidade heteronormativa pode não ser normal para nós que não compartilhamos do mesmo pensamento, já que não podemos permitir um sistema tão sexista, tão misógino, tão homofóbico. Não podemos deixar que essa forma de dominação dos nossos corpos, da nossa vida,  tome conta. A gente não pode deixar as ideologias fascistas tomarem conta da nossa nação. E essa é uma responsabilidade nossa enquanto povo preto; é uma realidade nossa enquanto povos indígenas.

Sempre dizemos na comunidade Caxuté: “Força e resistência. Levante o dedo, pois, se levantarem o dedo para nós, vamos dizer que Marielle existe; que Mãe Bárbara existe; que Mãe Stella existe…”. Queremos falar e temos o direito de falar.

Esse dedo também simboliza o Ogó de Exu; esse dedo sinaliza que é pontiagudo e precisamos, de diversas formas, fissurar esse poder que está aqui, a gente precisa quebrar os muros da colonialidade do poder. A gente não volta a ser normal, coisa nenhuma. Eu, enquanto sacerdote, tenho que me reinventar nesse momento. Então, no pós-pandemia, será preciso que a gente se reinvente; é preciso que nossos dogmas sejam repensados. Nós não podemos ser intocáveis, a gente é humano. Nós somos povos indígenas, somos povos pretos e negros aqui no Brasil.

Que a gente recorra a saberes tradicionais

É preciso que nesse momento de pandemia a gente recorra a nossos saberes tradicionais. Que  agente faça as nossas rezas. Quem não souber o que falar, clame à força que acreditar; pegue quarana, pegue arruda, pegue folhas que você já conhece, boas para rezar. Reze sua casa, sua família. Porque da mesma forma que cada um faz as suas orações, nós temos nossas liturgias.

É preciso que os filhos da casa, do terreiro, das comunidades tradicionais prestem cultos aos nossos ancestrais, às nossas divindades. Do contrário, começamos a potencializar um sentimento de depressão, potencializar o que o colonizador nos diz: que somos fracos.

E, neste momento, de quem é fraco e de quem é forte… Jesus, Oxalá, Lembá e Tupã estão com a responsabilidade de curar o seu povo; ou de matar. Não existe essa força do bem; não existe essa força do mal. Existem dualidades que o cristianismo não permite e que a gente reafirma. Não existe uma religião que seja melhor do que a outra, sem medir forças. É um vírus que atinge a todos, mas principalmente ao nosso povo preto, aos nossos povos indígenas. A gente paga impostos e precisa que os impostos voltem como distribuição de renda.  

“Leva a urucubaca para o lado de lá…”

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25 a 39 anos Bahia Ensino Superior Completo Homem Cis Prta

“Sendo uma bixa preta afeminada, eu já havia vivenciado outros contextos de isolamento social”

Sendo uma bixa preta afeminada, eu já havia vivenciado outros contextos de isolamento social. Entretanto, o isolamento social enquanto única alternativa de proteção contra a Covid-19, durante uma pandemia que tem matado milhares de pessoas no mundo todo, acarreta outras questões. Interpela o contexto socioeconômico, a saúde do corpo e da mente. 

Sendo uma pessoa preta e gay, estou inserido em populações vulnerabilizadas pela sociedade há bastante tempo. De alguma forma, vivenciamos os impactos de isolamento social pelo Estado na negação de nosso acesso aos direitos básicos, principalmente, no que se refere à segurança e à saúde.

Com a pandemia, as desigualdades sociais ficaram mais evidentes para muitas pessoas – mas nunca foram uma novidade para a gente. Temos visto que as principais vítimas da pandemia são justamente as populações mais vulnerabilizadas de sempre. Nem mesmo a pandemia e o isolamento empacaram os números que apontam para o genocídio da juventude negra e de pessoas trans e travestis.

Atividades suspensas, renda suspensa

Eu trabalho nos setores que foram os primeiros a parar por conta pandemia. Sou professor numa escola municipal, que teve as aulas suspensas assim que o primeiro caso foi comprovado em Salvador. Além disso, atuo como produtor artístico e cultural, e tive que cancelar e paralisar projetos voltados para a cena cultural por conta da pandemia.

Pessoalmente, além de ser considerado grupo de risco (o que me deixa muito afetado psicologicamente, com medo de ser contaminado de alguma forma, mesmo tomando todos os cuidados necessários), a questão econômica é um dos fatores que me preocupa. Não tenho um emprego fixo e dependo das atividades que foram suspensas.

Artvismo em contexto de isolamento

Sou um dos idealizadores do Coletivo Afrobapho, um grupo formado por mais de 15 jovens negros LGBT das periferias de Salvador que utilizam as artes como ferramenta de mobilização social e Artvismo. Nós atuamos com ações presenciais como performances, shows, intervenções urbanas, etc.

Com a pandemia, paralisamos as atividades artísticas e culturais. Inclusive, a produção de conteúdo audiovisual. Temos utilizados os aparatos tecnológicos e digitais para comunicação e até mesmo como forma alternativa de continuidade das atividades que desenvolvemos.

Estamos seguindo todas as orientações de isolamento social que a Organização Mundial da Saúde (OMS) determinou. Nesse período, temos recebido alguns convites de trabalhos online e tentado os auxílios governamentais para sobrevivência.

Que normalidade?

Vejo muita gente falar de um “novo normal”, de uma “volta à normalidade”. Mas nós, corpos dissidentes, sabemos que o problema sempre esteve nesse conceito do que é considerado normal nessa sociedade racista e LGBTfóbica.

Entre utopias e distopias, desejo que o pós-pandemia não seja tão caótico para as populações mais vulnerabilizadas. Sabemos que é a base da pirâmide social que vai ter que segurar o rojão do processo de recuperação socioeconômica. São os corpos dissidentes que têm construído e proposto novas narrativas de vida, desde muito tempo.

Espero que consigamos resistir e existir em comunhão contra o projeto opressor que tem se reconfigurado a cada época pra nos fazer falhar, pra nos eliminar. Venceremos.