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25 a 39 anos Ensino Superior Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Minas Gerais Mulher Cis Prta Raça/Cor

“Noventa por cento dos profissionais de aviação foram afastados”

Meu nome é Laiara Amorim. Trabalho no setor de aviação, como comissária de voo e sou graduanda em pilotagem de voo. A pandemia me afetou de diferentes formas em diferentes etapas. Este ano eu fui contemplada através de um programa de aceleração de lideranças negras e este programa consiste em acelerar minha formação como pilota. Por conta da pandemia, eu não pude cumprir minhas horas de voo e, com isso, não foi possível desenvolver o que estava previsto no programa. 

Afetou também o meu trabalho, porque a aviação ficou totalmente parada durante um período, pelo motivo de ser um ambiente confinado, pelo fato de ser um espaço muito pequeno e as pessoas ficarem muito próximas umas das outras. E o transporte está paralisado, as pessoas não estão viajando pelo medo da contaminação e pelas recomendações da agência se saúde. 

Com isso, a aviação foi muito afetada. Noventa por cento dos profissionais foram afastados, e, em algumas empresas, grande parte do quadro de funcionários foi demitido. Houve desligamentos de colegas, e eu mesma fiquei afastada do meu trabalho por seis meses. Estou retornando agora. Era um afastamento não remunerado, então a pessoa tinha que sair do trabalho e criar outras formas de subsistência. 

Novas oportunidades no setor de aviação

Em contrapartida, tive a oportunidade de trabalhar em uma companhia aérea executiva, que trabalhava com transporte de pessoas durante a pandemia, que poderiam ser pessoas infectadas ou não, e que na aviação a gente chamava de Aeromed, que era o transporte de vítimas em estado grave para outros estados para que pudessem ter o devido atendimento, bem como os familiares destas pessoas.

Então foi uma oportunidade que tive em decorrência desta pandemia, e que acrescentou muito em meu currículo, acrescentou em meu conhecimento, pois é uma parte da aviação que não conhecia, que é a parte médica. Então teve dois pontos. O ponto negativo foi ver a aviação comercial parar, ver amigos sendo demitidos, ter este afastamento, o que me gerou certa ansiedade, porque até então não sabia como me manter. 

O outro ponto foi ter o ensejo de trabalhar em outra companhia, aprendendo outra parte da aviação que não conhecia. A pandemia afetou fortemente o turismo, o que ocasionou também pré crescimento econômico, o comércio, os lugares, os hotéis, para os pequenos empreendedores também, que trabalham em feiras, qie vivem desse turismo. Então afetou de diversas formas. 

Máscara e álcool

O turismo movimenta o nosso país de diversas formas. Eu desejo que neste momento, as coisas vão retomando aos poucos, e quem tem que viajar, que viaje, que vão encontrar seus pares, sua família, que vão encontrar seus amores, que viajem, mas que mantenham sempre o cuidado, que usem máscaras, álcool, e que continuem se cuidando para que o virus não possa retomar essa segunda onda em outtos países nao venham nos atingir. 

E que o cenário seja o melhor possível para o turismo, pois movimentando o turismo, conseguimos movimentar todas as outras áreas se nosso país. Turismo é cultura e, para certos lugares, a gente só consegue ir de avião. Por isso, desejo essa melhora para que possamos voltar e enegrecer esse céu aí.

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40 a 59 anos Escolaridade Estado Gênero Idade Minas Gerais Mulher Cis Pós-Graduação Completa Prta Raça/Cor

“Para mim foi muito complicado manter o delivery”

Tive que readaptar meu negócio para o ramo de delivery, devido à necessidade de manter as despesas da empresa. No entanto, entendi que, ao contrário do que se diz da necessidade de transformação, nem sempre a gente vai se adaptar ou o negócio vai dar certo.

Antes da pandemia, oferecia serviços de gastronomia em praças públicas, trabalhava com serviços de catering para camarins, shows e eventos corporativos. Mas com a chegada do coronavírus, tudo isso foi modificado.

A pandemia me fez repensar outras formas de atuação, então dentro da gastronomia afro-brasileira. Então, passei a oferecer serviços de delivery. Mas no meu caso, por exemplo, foi muito complicado manter o delivery. Passou de uma questão financeira a uma questão pessoal e até mesmo de conseguir estar feliz com a minha atuação. Então, em um dado momento decidi não mais continuar com o delivery. Daí começaram a aparecer outras propostas de trabalhos corporativos, os quais têm me mantido hoje em dia.

Aprendizados

O lado transformador foi a possibilidade de poder transitar em outros meios. Porque quando se escreve um projeto para criar uma startup delimitamos um poucos os nichos e dentro do que eu tinha como projeto do ramo gastronômico não tinha delivery. Mas ao mesmo tempo percebi que minha proposta inicial era a que me fazia feliz e a empresa avançar.

Percebi mudanças pessoais também. Hoje vejo que nem tudo está sob controle. Enquanto mulher negra empreendedora percebo que é muito importanto pensar nos obstáculos, nas necessidades de transformação e acreditar na minha certeza, no meu sonho. Hoje creio muito mais em minha capacidade e naquilo que sempre escolhi para ter como ofício.

Aprendi também que nem tudo está sob controle. Especialmente para nós empreendedores. Saber que a qualquer momento uma transformação pode haver é um importante aprendizado. Dessa vez foi a pandemia. Nós, empreendedoras, estamos susceptíveis a mudanças.

Conselho à você, empreendedora

Esteja ancorada de alguma forma. Fique por dentro do que está acontecendo em seu mercado. Qualifique-se para quando acontecer algo imprevisível você possa ter, pelo menos, o mínimo de possibilidade de se manter. É importante ter um suporte financeiro, uma economia preparada para um momento de eventualidades. E nunca deixe de acreditar no seu sonho. Tenha certeza do que você quer e mesmo que o caminho o qual você tenha traçado tenha sofrido algum desvio, lembre-se para onde você quer chegar.

Sou Kelma Zenaide, empreendedora do ramo gastronômico. Moro em Contagem, Minas Gerais.

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40 a 59 anos Ensino Superior Incompleto Escolaridade Estado Gênero Idade Minas Gerais Mulher Cis Prta Raça/Cor

“As super heroínas que não sentem dor nem medo só existem na ficção”

O fato de sermos mães não nos fazem ser super mulheres. Por isso quero dizer a você, mulher: reconheça os seus limites e não se furte em pedir ajuda! E não se culpe por isso. As super heroínas que não sentem dor nem medo só existem na ficção.

Digo isso porque percebi que o isolamento e toda essa situação de ter que ficar dentro de casa, de trazer todas as tarefas para dentro de casa culminou na falta de tempo para a minha família. Antes, logo quando fomos obrigadas a ficar dentro de casa eu acreditava que teria mais tempo com a minha família. Ledo engano.

Porque a gente já acorda no esquema: trabalho, estudo, ensino dos filhos… Então, eu acredito que a pandemia me colocou em um lugar de entender as relações e repensar a minha organização dentro dos ambientes, pois antes era tudo cronometrado.

Antes da quarentena, eu tinha uma rotina de acordar cedo, chamar as crianças, ir para o trabalho. O meu tempo era bem dividivo em dias de semana e finais de semana. Hoje isso tudo mudou.

Desafios

Acredito que o mais desafiador foi o convívio diário, de quatro pessoas dentro de um apartamento pequeno, tendo que dividir as dinâmicas. Os dias e os fins de semana, por exemplo, eram bem definidos, mas hoje não temos mais dia de semana ou fim de semana. Tornou-se tudo uma coisa só. Por isso, digo a você que lê agora o meu relato: não se desespere. Não somos super heroínas.

Porque perdemos aquela escapatória da rotina, de poder sair aos fins de semana. Agora é tudo junto, dentro de casa. Todos os dias.

Lembro de algo muito legal que ocorreu a mim e à minha família. Foi o aniversário da minha filha. Ela estava tão triste, porque não tinha ninguém no aniversário dela. Entretanto fizemos uma surpresa para ela: conseguimos reunir muita gente, familiares e amigos, de forma virtual, numa chamada de vídeo. Minha filha ficou tão feliz! Aquela lembrança da felicidade dela mesmo durante esse período tão turbulento vai ficar marcada para sempre em minha memória.

Luciana tem 43 anos e é mãe de duas meninas: Luana, de 5 anos, e Luiza de 7. A produtora cultural é moradora da periferia e ativista dos movimentos sociais e culturais negros de Belo Horizonte.

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40 a 59 anos Escolaridade Estado Gênero Homem Cis Minas Gerais Pós-Graduação Completa Prta Raça/Cor

“Minha casa e meu espaço de trabalho se fundiram em um mesmo lugar”

Por ser professor do ensino superior, estou, neste momento, trabalhando em home office. Por isso, minha casa e meu espaço de trabalho se fundiram em um mesmo lugar. Tenho tido oportunidade de me dirigir aos meus alunos da minha casa. Sinto que é um privilégio, porque nem todas as pessoas têm condições de poder trabalhar da forma mais segura, sem correr o risco de contato social.

Com isso, percebo um pouco das desigualdades que a gente tem vivido em nosso país. Fatos que a gente registra, sobretudo, no campo das relações raciais. Por exemplo, como negro profissional que está tendo oportunidade de trabalhar em casa, eu me sinto um pouco privilegiado. Porque não são todas as pessoas negras que podem desfrutar dessas condições, mesmo que essas condições signifiquem um trabalho dimensionado de uma maneira muito diferente. 

Hoje o meu tempo de trabalho é absurdamente grande, desde quando eu levanto até a hora em que vou me deitar.

Todo o meu dia está envolvido com questões de trabalho, e é um pouco mais tenso, porque vivo no mesmo espaço. Por isso, a gente tem que criar estratégias para fazer com que este trabalho não signifique uma sobrecarga psicológica.

Contratempos durante aulas remotas

Neste momento, eu tenho uma preocupação muito grande com os meus alunos. Sobretudo com minhas alunas.

Leciono em um curso de pedagogia, e tenho percebido que elas têm enfrentado situações muito difíceis, a começar com as questões de acesso às redes para poder acompanhas as aulas.

Além disso, não são poucas as vezes em que, num momento da aula, algumas das alunas se encontram em trânsito, dentro de um ônibus ou na rua. Aí precisam ligar o celular para poder acompanhar um pouco das aulas. Isso me preocupa, porque sei que o processo de ensino e de aprendizagem precisa de uma mediação maior, em que a gente possa estar mais atento em relação ao desempenho de cada um dos alunos.

O que tenho feito é gravar minhas aulas para que todo mundo possa recuperar depois uma gravação. Assim, todos ficam atualizados em relação aos conteúdos.

Juventude em situação de vulnerabilidade

Além dessa atividade como professor, eu também desempenho a atividade de vice presidente de uma entidade. O trabalho voluntário acontece em uma entidade chamada Associação Profissionalizante do Menor (ASSPROM), que faz uma intermediação entre jovens entre 16 até 25 anos. Essa intermediação é feita ao mercado de trabalho com grandes empresas e nas três esferas do governo.

No entanto, criar oportunidade de vínculo de primeiro emprego para a juventude tem sido muito afetada durante a pandemia.

E essa associação atende exatamente as pessoas que mais precisam ter um acesso ao mercado de trabalho. Houve redução de postos de trabalho, e muitas famílias ficaram em situação de vulnerabilidade ainda maior. Além disso, muitos destes jovens que estão, hoje, sendo vinculados na própria associação, também são, em parte, arrimo de família.

Juventude negra é a mais afetada

Aqui em Belo Horizonte, essa juventude – sobretudo a juventude periférica e negra, homens e mulheres – tem sofrido um impacto muito grande dessa pandemia. Enquanto alguém que está à frente de um projeto social que cria condições que estes jovens tenham uma possibilidade maior ao mundo do trabalho, isso me preocupa.

Porque muitos desses jovens se encontram em estudo remoto, e nem sempre as condições que eles têm de acesso são as melhores. Isso pode significar, daqui para frente, um problema maior no que diz respeito à evasão escolar e à interrupção de projetos de vida.

Sou José Eustáquio de Brito, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais, onde leciono na Faculdade de Educação e também na Faculdade de Políticas Públicas.

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40 a 59 anos Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Minas Gerais Mulher Cis Prta Raça/Cor

“Projetos foram engavetados por causa da pandemia”

A gente precisa se adequar até quando as medidas sanitárias forem necessárias, tomando as devidas precauções mesmo com relação aquelas pessoas com as quais convivemos.

No meu caso, convivo com minha mãe e com meu irmão que são cardiopatas e hipertensos e também trabalho na área da saúde. É um momento que precisamos ter muita perícia, temos que ter muita cautela para lidar com a situação. É preciso saber direito o que pode e o que não pode.

Evitem sair, saiam apenas nas extremas necessidades. É um momento é realmente muito difícil, porque rouba da gente aquele hiperativismo que a gente tem em relação à nossa vida particular, pessoal, trabalhos em comunidade…

Enfim, são tantos projetos que ficaram, de certa forma, engavetados devido à chegada da pandemia. Mas a gente vai fazendo o que precisa ser feito para que a gente possa vencer essas dificuldade, porque em nome do senhor Jesus Cristo isso vai chegar ao fim. 

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40 a 59 anos Ensino Superior Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Minas Gerais Mulher Cis Parda Raça/Cor

“Percebi o quanto abri mão de mim mesma e do que eu gostava”

A pandemia trouxe problemas para muita gente, principalmente afetou o psicológico. Um povo que está acostumado a uma convivência mais calorosa, de repente, se vê obrigado a um isolamento social.

Mas em toda situação por mais difícil e dolorosa que seja, acredito que sempre há um lado positivo. Com a pandemia não foi diferente. Percebi que era necessário esta parada.

Uma parada forçada para uma auto avaliação em todos os sentidos, profissional, afetivo, nos relacionamentos de modo geral. Estava vivendo numa ciranda sem tempo para mim mesma, sem tempo para avaliar minhas ações.

E o tempo surgiu, se impôs. Percebi então o quanto havia aberto mão de mim mesma, das coisas que gostava, das pessoas, de tanta coisa boa…

Ainda é difícil não ter uma proximidade física com as pessoas, um aperto de mão, um abraço, mas em compensação eu tenho resgatado a pessoa que sou, o meu eu. E estou feliz, apesar de tudo.

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18 a 24 anos Ensino Médio Completo Minas Gerais Prta

“Vi minha família ser exposta ao vírus no auge da incerteza da pandemia, e presenciei uma nova faceta de medo”

Eu sou Steffane, mulher negra feminista e jovem pesquisadora. Nesse ano estranho, me deparei com medos outros, vi minha família ser exposta ao vírus no auge da incerteza da pandemia, e presenciei uma nova faceta de medo. 

Há muitos medos que nos cercam quando somos mulheres negras em uma sociedade racista e sexista, mas presenciar a ânsia de ver minha família ser contaminada por um vírus desconhecido tomou, e ainda tem tomado, conta de mim ao longo desses meses em que tudo tem estado incerto. 

Assistindo à minha família sendo obrigada a sair para trabalhar todos os dias, eu me reconectei com a minha espiritualidade na medida em que me vi pedindo por proteção.

Escancarando desigualdades, a pandemia impulsionou o massacre sobre nossos corpos e corpas negros.

Enxergando muitos de nós se contaminando por estarem em postos de trabalho de base e sobre a visualização de outras maneiras genocidas sobre nossos corpos. Por isso, eu digo que senti medo de outras formas. Na verdade, é muito porque eu temo o luto. 

Tenho medo de perder os meus, os que estão comigo, os muitos de nós que tem suas vidas cooptadas. Eu temo. Vendo a casa não me caber, me dei conta que vida se faz agora e todo esse aparato supressor capitalista que roubou de nós, os nossos, não os trará de volta.

Que nossos corpos precarizados valem menos que outros eu já sabia. 

Operacionalizar o medo

Esse momento assustador me deu ânsia de continuar lutando, me organizando e estando junto aos nossos. Só é possível continuar se formos juntas, juntes e juntos. A pandemia me apresentou outras formas de medo, mas me lembrou como que é preciso operacionalizar. 

O resistir para nós, é o continuar, sobretudo porque ainda estamos distantes de uma ruptura que nos salve. Através dos desafios que não temos como contornar, nós inventamos novas formas de viver, porque há muito em jogo, porque nossa família não espera, o cuidado não espera. Cada vez mais eu tenho certeza que alguém em alguma medida olha por nós. 

Sigamos reexistindo e nos cuidando.