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Ensino Superior Completo Escolaridade Estado Gênero Mulher Cis Parda Raça/Cor Rio de Janeiro

“Sou mãe e consegui sobreviver graças ao tão batalhado auxílio emergencial”

Trabalhava com produção de buffet saudável para festas infantis e também com turismo domiciliar no bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro, onde moro.

Em dezembro de 2019, com a casa cheia de hóspedes de vários países, estava muito feliz. Finalmente havia encontrado uma fórmula de atuação em meu trabalho que se equilibrava entre a baixa temporada de festas e a alta temporada de turismo local! Acreditava que 2021 poderia ser o ano da minha tão sonhada virada de mesa e conquista de estabilização profissional.

Ledo engano. Logo, com a chegada apavorante desta pandemia que nos assola até hoje, estas duas áreas foram cortadas do cenário econômico atual. Assim, sem festejos familiares para produzir e sem poder receber turistas dentro de minha casa, me vi com o chão aberto e sem perspectivas de um retorno.

Mas consegui sobreviver financeiramente a este terrível ano com a estratégia de viver um dia de cada vez. Para tanto, contei com o tão batalhado auxílio governamental para garantir o básico do estrutural da vida e com apoio solidário de família e amigos.

É preciso se reinventar

Também voltei a fazer bolos e quitutes sob encomenda. Sigo tentando entender como me reinventar num cenário de milhões de novos desempregados, milhares de negócios fechando e a negativa do nosso desGoverno Federal de prosseguir dando assistência governamental a quem perdeu sua fonte de renda.

Sinto falta de minha empresa, não apenas porque ela gerava minha própria subsistência, mas porque a cada festa produzida, outras sete pessoas, no mínimo, entre cozinheira, auxiliar, garçons, fretista e faxineira se somavam a mim e formávamos uma equipe potente para realizar nosso trabalho feito com competência, garra e amor. Bons tempos…

Enfim, escrevo esse relato em dezembro de 2020. Mas 2021 se aproxima com suas incertezas de braços abertos para nos receber. Não me sinto mais feliz, mas me sinto viva e sigo lidando com uma questão de cada vez para conseguir ir vivendo. Apesar de tudo e dos desgovernos aos quais estamos submetidos, amanhã vai ser outro dia… Acredito.

Sou Eliz, mãe solo de uma criança de 11 anos, sul-matogrossense de nascença e carioca de coração. Sou uma micro empreendedora individual, ou era…

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Homem Cis Rio de Janeiro

“A pandemia nos trouxe uma solidariedade que estava estocada em algum lugar”

Eu já fui do escritório para o home office. Desde 15 de março é em home office que nós estamos trabalhando. E tem funcionado. Graças a Deus essa questão do trabalho não é um problema.

No início, eu fiquei com muito receio. Muito medo. Muito medo. Mas, depois, acho que… talvez eu tenha me acostumado. Me centrado mais, meditado mais. Então, fui me acalmando. O medo ainda existe para me trazer cautela, mas a fobia grande já passou.

Catadores do Bem

O projeto social Catadores do Bem começou em 2012, ali de forma bem tímida, entre amigos que reuniam verba de outros amigos para comprar cestas básicas. Nosso público, nosso pessoal, nossos assistidos, sempre foram catadores de material reciclável. Então a gente quis trazer para os catadores aqui do nosso bairro – Irajá, zona norte, subúrbio do Rio de Janeiro – uma visibilidade maior.

“Como assim você só quer me entregar uma cesta básica?”

Nós sempre os víamos catando, ali pela manhã, em dia de coleta de lixo, e íamos até eles oferecendo cesta básica. No início foi muito difícil, porque eles tinham muitas suspeitas: “como assim você só quer me entregar uma cesta básica?”, “você tem algum partido político?”, “precisa do meu CPF, RG?”. “Não preciso de nada, só vou te entregar esse papelzinho aqui, que é uma senha, e no dia tal você aparece naquele endereço que você vai ganhar uma cesta básica”.

E ao longo dos anos a gente foi criando vários vínculos, afetivos mesmo, com esses trabalhadores, e a gente foi aumentando. Lá no início a gente conseguia, sei lá, dez cestas básicas. Hoje nós atendemos 90 famílias. Esse “bum” aconteceu há uns dois, três anos atrás. A gente começou a se organizar melhor. Acho que na época a gente assistia vinte famílias. E falamos: vamos organizar isso aqui. Aí a gente se mobilizou para ter mais voluntários. Hoje a gente tem trinta voluntários por evento. Já chegou a cinquenta voluntários. Um grupo de mobilização online. Tem um site bem específico para voluntariado, que é o Atados, eles nos ajudam. A gente oferece uma vaga: “ó, a gente precisa de voluntário para essa ação, em tal lugar”. E alguém lá se inscreve e participa do projeto.

Solidariedade muito além das cestas básicas

Além das cestas básicas, que é o pilar da nossa organização, a gente oferece materiais de segurança de trabalho – capacete, luva, corda -, damos carrinhos para eles conseguirem coletar e armazenar melhor os produtos que vão coletando. A gente trás também para eles, além da visibilidade, um reconhecimento.

A gente descobriu, através de pesquisa, que os catadores de material reciclável – que a gente vê pelas ruas de toda a cidade – são responsáveis por 90% da coleta de material reciclável do Brasil. Eles são agentes ambientais totalmente desvalorizados.

E são famílias muito humildes, muitas que criaram seus filhos, seus netos na coleta. E que pela primeira vez estão sendo reconhecidos. Pela primeira vez estão sendo vistos como trabalhadores, como pessoas responsáveis. São autônomos, estão ali produzindo sua renda.

Além disso, a gente também faz encaminhamento para a pessoa tirar certidão, identidade, CPF, depois leva para o Bolsa Família, fazer cadastro. Sempre tentando levantar aquela família. A gente dá cesta básica porque a gente entende que a renda que eles tinham acabado de produzir ainda é muito curta, também por causa do preço, que é muito desvalorizado, então a gente dá esse complemento.

A gente quer que eles tenham o direito assegurado, que é o Bolsa Família. E é incrível que até hoje a gente encontra famílias que não têm o Bolsa Família.

No centro do Rio de Janeiro, que é uma cidade grande, capital, e ainda tem gente sem RG, CPF. A gente vai lá e ajuda, aí eles tiram. As crianças precisam estar na escola, então os pais dão atestado de que estão na escola, lá da Secretaria direitinho. É uma exigência nossa, e isso vai trazendo mais senso de responsabilidade para eles também.

Credibilidade

A gente conseguiu, mesmo sendo um projeto social em que você precisa fazer o depósito em uma conta que é um CPF, uma pessoa física, a credibilidade das pessoas cresceu muito com o nosso projeto. Muito, muito, muito.

Eu posso dizer que em oito anos é a primeira vez, agora, mês passado, que a gente conseguiu o apoio de uma empresa, que deu para a gente 314 cestas básicas. Isso foi um marco para a nossa história.

Eu, que sou o Caio, sou fundador do projeto e sou administrador. Eu trabalho com administração de empresas. Então para eu estar no projeto faço questão de ter transparência financeira. “Olha, esse é o nosso extrato bancário. Isso é o que aconteceu na nossa conta. O que saiu, o que entrou, é isso”. E isso fica disponível para todo mundo responder, palpitar. Que afinal a gente também não pode esquecer que é pessoa física.

Acho que até agosto isso muda, do papel de ONG, já crescemos muito, muito, muito, precisamos realmente criar um novo formato, mais profissional, mais maduro, até para que a gente consiga ter mais ajuda de empresas.

Café da manhã, gincana, oficina

Um evento que a gente faz sempre no segundo sábado do mês acontece da seguinte forma: a gente recebe os cadastrados e eles participam do café da manhã. Normalmente tem…tinha, antes da pandemia, uma gincana de empatia, de entrosamento, de voluntários, em que as pessoas assistidas tinham oficina de penteados afro, para as mulheres, os homens, se sentirem belos, se identificarem como belos mesmo, aumentar a auto estima. Oficina para crianças, para pais ficarem à vontade lá. E ao fim desse evento, que dura a manhã toda, os voluntários chegavam oito horas da manhã e vão sair uma hora da tarde. E no tempo ocorrem oficinas. Ocorriam…antes da pandemia. Isso motivou muito.

Durante a pandemia, a gente precisou mudar o formato da gincana. Se não me engano, nossa oficina foi dia 14 de março, então a gente ainda tinha acabado de entrar ali, mas aconteceu – talvez por não saber exatamente o que era aquilo – acabou acontecendo. Em abril, nós já dispensamos o café da manhã e as oficinas. Nos concentramos apenas em fazer o cadastro, revisar os dados das pessoas e entregar cestas básicas. E desde então tem sido apenas isso. Sem café da manhã. Para diminuir também o número de voluntários. A gente ainda precisa deles, mas conseguiu reduzir bastante o número de voluntários participando.

Reduziram o quilo do plástico em 50%

Em abril, eram 60 famílias. Por causa da pandemia, a gente aumentou para 90 famílias. Porque eles ficaram sem renda. Os ferro velhos estavam fechados. Os pouquíssimos que abriram reduziram o quilo do plástico em 50%. E foi só diminuindo, diminuindo. Um valor que já é muito precário foi reduzindo ainda mais.

Agora em julho a gente conseguiu dar duas cestas básicas por família. Conseguimos apoio, além de duas cestas básicas, para dar um vale alimentação, para eles irem no mercado, para eles terem autonomia de comprar o que quiser no mercado. Biscoito para criança, leite, bolo, terem essa oportunidade também, não só ficar recebendo cesta básica, eles poderem escolher. E também estamos com um projeto para em setembro entregar um cartão de renda mínima, que a gente conseguiu com o projeto Pimp My Carroça, Cataki, que também apoiam trabalhadores autônomos catadores de material reciclável. Então vai ser um cartão de R$650, acho que 67 famílias foram aprovadas para receber. Para receber foi uma triagem muito grande.

A gente faz hoje parceria com ferros velhos. Os ferros velhos indicam pessoas, seu José, dona Maria, eles vendem aqui, de fato eles são catadores. Porque ainda mais em tempos de pandemia, muita gente desempregada, muita gente realmente necessitada, se fazia passar por catador. E como a gente é muito pequeno, não somos nem uma ONG, somos um projeto de amigos ainda, a gente se concentra em catadores. Nós queremos atender catadores. Não podemos ainda talvez salvar todo mundo. Então a gente foca ali nos catadores, talvez a grande parte esteja com a gente desde o início, isso é muito significativo para a gente.

“Olha, eu não preciso mais da cesta básica, posso abrir minha vaga para alguém”

É muito bacana quando uma pessoa consegue emprego, por exemplo, e ela vem até a gente e fala “olha, eu não preciso mais da cesta básica, posso abrir minha vaga para alguém, consegui um emprego bacana, qualquer coisa, se eu precisar voltar eu volto, tudo bem”. Eles têm esse senso de importância, sabem a dificuldade que é para dar todo mês o valor necessário.

É no sábado, né, e na sexta-feira à noite a gente teme não bater, mas a gente sempre bate. Nem que seja sábado de manhã aparece algum dinheiro, bate. Para render mais o dinheiro, a gente não compra cesta básica pronta. A gente vai no Atacadão, vai no mercado de atacado, compra produtos para a nossa cesta, até porque a nossa cesta é muito diferenciada, vai ter absorvente para as mulheres, vai ter produto de higiene, hoje vai ter detergente, vai ter água sanitária, justamente para conscientizar sobre a limpeza na pandemia.

A gente percebe muita preocupação dos catadores. Todos – podemos dizer que moram em comunidades, em favelas do Rio de Janeiro – têm a preocupação, mas não entendem total o perigo que está acontecendo. Mas desde abril nós entregamos máscara para eles, então em abril receberam, maio receberam, junho receberam. Para que possam não ter só uma, que possam limpar, trocar, dar para alguém, dar para um filho, a família toda utilizar. Isso é um projeto de educação mesmo, a gente está tentando passar para eles, alertar para eles.

Mesmo sem os eventos, a gente está ali

Está todo mundo com muita saudade dos eventos que aconteciam, da alegria que acontecia. Em junho teria nosso arraia, que é uma baita festa, aluga cadeira, mesa. É uma alegria sem fim. Não vai acontecer, infelizmente. Festa de dia das mães, dia dos pais, que foram inviabilizadas pela pandemia. Mas a gente está ali.

É legal que eles percebem a nossa persistência. A gente está aqui, com voluntários, correndo risco junto com vocês. A gente faz questão de estar aqui, todo mundo se cuidar, todo mundo vir de máscara, para participar aqui é necessário estar de máscara. E acredito que a gente seja muito valorizado por eles. É um afeto, realmente um afeto, que circula ali no nosso meio. E é extremamente cativante. Os voluntários vem e ficam no projeto. A rotatividade de voluntários não é grande, isso é um sinalizador muito bacana. Alguns voluntários de mais idade não puderam participar durante esse processo de pandemia, então os mais jovens estão com a gente nessa força tarefa.

Solidariedade em dias de pandemia

Está sendo tudo diferente do que a gente planejou para este ano, mas, ao mesmo tempo, a gente conseguiu saltar de 60 para 90 famílias. Tudo isso porque a gente ficou com muito medo. “Cara, será que a renda vai diminuir?”, “Tem muita gente perdendo emprego”, “Tem muita gente sendo prejudicada, de verdade”.

Mas aconteceu totalmente o contrário. Isso eu escuto dos nossos parceiros: a solidariedade em dias de pandemia aconteceu muito e os projetos puderam crescer. As famílias que perderam emprego, e algumas que já tinham sido catadoras voltaram a ser catadoras para manter se manter. E puderam ser assistidas pelo projeto. Justamente porque a solidariedade aumentou, a arrecadação aumentou.

Fomento empresarial à solidariedade

A ajuda que as empresas nos deram agora em julho foi fundamental. A gente conseguiu dar duas cestas básicas para os nossos catadores, conseguiu dar renda que eu falei. E nós distribuímos para outros projetos. “Isso já está suficiente. O que a gente faz com isso? Quem está precisando? Quem são nossos parceiros? Há pessoas que fazem um projeto parecido com o nosso e são de confiança?”. Nós conseguimos dar 110 cestas básicas. Isso para mim é emocionante demais. A gente conseguiu fazer muito pelo projeto que eu participo, e ainda fazer muito pelo outro projeto do outro.

Como falei, até março, eu sei o que é juntar dinheiro para 110 cestas básicas. É muito dinheiro: a gente está falando de uns 4 ou 5 mil reais. Uma cesta básica da nossa qualidade, né. Porque no nosso projeto de julho nós recebemos cestas básicas, mas não tinha por exemplo itens de higiene, absorvente, que é fundamental para as mulheres, não tinha fralda, que a gente dá todo mês para as mães, item de higiene, limpeza. Então, com o dinheiro que a gente conseguiu, nós fomos lá e complementamos para que a cesta não diminua o padrão. Nós temos um padrão altíssimo de qualidade, vamos manter esse padrão.

Pós-pandemia?

O pós-pandemia ainda é uma incógnita para mim, tenho muitas suspeitas. Mas, o que eu posso observar, e quero defender, é que a pandemia nos trouxe uma solidariedade que estava estocada em algum lugar.

Por que esse dinheiro não aconteceu antes? Por que os voluntários não chegaram antes? “Então, no pós pandemia, por favor, não vai embora, que a gente vai continuar precisando de vocês”. Porque a gente não quer sair de 90 e voltar para 60 famílias. E essas 30, vão para onde? Vão fazer o que? Então é uma coisa que eu quero muito focar no projeto, que isso se mantenha.

Nós somos capazes de ser mais solidários. Nós estamos comprovando isso. Os projetos parceiros estão comprovando isso. Mesmo com toda a crise econômica que encostou em todo mundo de alguma forma, a solidariedade aumentou.

Higiene

Acho que no pós pandemia a noção de higiene vai ficar mais apurada, vai ficar mais aguçada. Então, por exemplo, água sanitária, detergente na minha cesta, não quero mais tirar. Não sei como a gente vai pagar isso, mas não quero mais tirar.

E a gente vai aprendendo muito de pouquinho em pouquinho também. Há uns dois, três anos atrás, falaram, uma mulher pediu “será que vocês podem dar absorvente?”. Falei, caramba, lógico que a gente tem que dar absorvente. Há quatro anos não tinha café da manhã. Aí a gente estava na dinâmica do cadastro, de dar a cesta, e uma mulher falou: “preciso ir embora, não como desde ontem, então não estou me sentido bem, preciso ir embora comer alguma coisa”. Cara, se a gente quer que eles fiquem aqui felizes, a gente precisa dar café da manhã para eles, óbvio. Mas passou a ser óbvio naquele momento. A gente aprendeu com eles e desde então nunca mais largou isso.

Saúde

E acho que a valorização da saúde também vai ficar muito marcante no pós pandemia, acho que eles vão valorizar muito mais quando a gente entregar luva para eles, bota de proteção para eles, porque o cuidado com o corpo, a consciência do corpo pode estar mais aguçada. Isso é uma resistência que eles têm muito grande. Queriam só o carrinho, e desvalorizavam itens de segurança. Mas agora, com o medo que eles estão, mesmo não tendo talvez a noção total, eu acredito que vão valorizar isso.

Então para mim são esses dois pontos: a valorização da saúde por parte dos catadores e uma vontade de colaborar, ser voluntário, ajudar projetos que você confie por parte toda a sociedade.

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40 a 59 anos Homem Cis Parda Pós-Graduação Completa Rio de Janeiro

“Como professor de uma escola pública, pude perceber como as aulas remotas serviram para aumentar ainda mais as distâncias sociais”

Inicialmente, a instauração da pandemia trouxe algumas mudanças em meu estado emocional. Fez também com que eu tivesse que me adaptar à nova ordem mundial, instituída pela Organização Mundial de Saúde

Além de lidar com as mudanças que surgiram e com as emoções provenientes desse momento, percebi alterações comportamentais em meus filhos, que perderam o convívio com colegas de escola e aspectos da rotina, como saídas de casa para passeios e viagens. 

Somado à perda de contato com as pessoas, as crianças tiveram que lidar com as aulas remotas. Isso foi complexo para mim também, devido à falta de interação nas salas de aula e outros ambientes.  Apesar das dificuldades, as crianças se adaptaram bem durante esse processo.

Como professor de uma escola pública, pude perceber como as aulas remotas serviram para aumentar ainda mais as distâncias sociais. Devido ao fato de não possuírem acesso à internet, ou até mesmo computador em casa, muitos alunos não conseguiam acessar a plataforma.

Insegurança financeira

Perdi muitas possibilidades de realizar trabalhos devido ao fechamento provisório e, mesmo, permanente de espaços culturais durante o a pandemia. Mas ser funcionário público me permitiu trabalhar em casa e manter o meu salário. Assim, me sinto privilegiado, especialmente diante de tantos profissionais autônomos que perderam completamente os seus ganhos.

Foto montagem com três pessoas olhando através de visores de máquinas fotográficas acompanha relato do professor Alexandre Freitas para a Memória Popular da Pandemia. Relato aborda as dificuldades enfrentadas por ele, seus filhos e estudantes com o fim das aulas presenciais.

Porém, a insegurança financeira permanecia, já que apenas o salário do estado não seria suficiente para manter o orçamento familiar equilibrado. De certo modo, esse cenário profissional instável foi compensado pela necessidade das empresas em se adaptar aos novos desafios impostos, que fez com que passassem a inserir projetos de produção de vídeoaulas e vídeos institucionais de veiculação remota. Isso permitiu que eu pudesse realizar alguns trabalhos extras nessa área.

Retomada das aulas presenciais

Agora é esperar para ver o que nos reserva o próximo ano. Me preocupo bastante com o que ocorrerá com as escolas, no sentido da possibilidade de retomada das aulas presenciais. Pois, apesar das dificuldades referentes a esse processo de adaptação, me sinto inseguro com a ideia de meus filhos voltarem a frequentar uma sala de aula.

Como professor, falo também por mim: sinto muita falta da aula presencial. No entanto, compreendo a necessidade de ainda nos mantermos distanciados, em quarentena, nos preservando o máximo possível. Especialmente, quando há milhões de pessoas em todo o mundo perdendo suas vidas por causa desse vírus. Entre elas, o diretor da escola onde leciono.

Sou solteiro, tenho 46 anos, sou carioca e pai de Artur (de 12 anos) e Olívia (de 6 anos), filhos provenientes de 2 casamentos. Sou professor de Arte da rede estadual do Rio de Janeiro e ministro cursos e palestras sobre cinema e fotografia em diversos espaços culturais, além de realizar trabalhos de fotografia e vídeos institucionais. Anteriormente à pandemia, minha rotina consistia em sair para lecionar na escola e nos espaços culturais e, eventualmente, realizar trabalhos como fotógrafo e videomaker.  Como nos últimos anos os serviços nas áreas de foto e vídeo estavam mais escassos, priorizei o meu ofício como professor, dividindo-me entre os trabalhos e os cuidados de meus filhos, já que possuo uma guarda compartilhada com as suas mães. 

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40 a 59 anos Ensino Superior Incompleto Homem Cis Prta Rio de Janeiro

“Nas prisões, com um surto pandêmico como esse, essa ação do vírus não vai trazer só extermínio”

Eu tive uma passagem em 2010. Começo minha história a partir desse processo. Apesar de haver outros marcos importantes na minha vida, esse vai contribuir muito pra esse relato.

Em 2010, já vivenciando uma vida familiar, acontece um processo de prisão e fico um período de cinco anos e seis meses cumprindo essa medida. Isso trás – para o meu futuro, presente e como fica no passado – muitas recordações, reflexões e questões nocivas. Mas que podem ser construtivas com um esforço próprio.

Quando falamos sobre sistema de prisão, a gente sabe que não funciona. Não trás benefício e sim danos. A sociedade que se debruça em cima das prisões como se fossem resolver todos os problemas sociais. Sabemos que existem diversas questões quando falamos de prisões, que trazem discussões, dores, sentimentos. Temos que ficar bem complacentes, pois são realidades diferentes.

Abordando o assunto prisões, você pode afetar diretamente uma pessoa que acredita que sofreu uma violência e reforçar que o sistema precisa ser assim. Ou pode afetar também outro público, que acredita que as prisões não são o caminho. Mas eu, lidando com essa questão, venho me trazendo muitas reflexões. A partir desse impulso, me trás um despertar para uma realidade, uma urgência.

Somos muito doutrinados, orientados para não enxergar a violência provocada pelo Estado. Conseguimos enxergar a violência que sofremos diretamente, no cotidiano, num furto ou assalto a mão armada, mas as que sofremos historicamente somos educados para não enxergar.

Começando a nos organizar…

A partir desse momento de viver intramuros, no cotidiano da prisão, começo a enxergar do ambiente micro uma questão macro dentro de uma realidade restritiva de direitos. Conseguimos notar como essa dinâmica social reflete diretamente nesses ambientes de privações.

As violências sofridas, não apenas dentro das unidades prisionais, mas antes mesmo de se entrar num sistema prisional brutal. A partir desse movimento, a gente começa a construir em coletivo, tentar se inserir em atividades atividade, incidir politicamente, apesar das restrições. Trazer ideias que poderiam mudar muitas trajetórias e realidades para uma galera que vem sofrendo, sendo massacrada, diluída, pulverizada dentro desses ambientes. E começamos a nos organizar para combater um sistema que vem trazendo reflexos nocivos, então alguns companheiros e eu começamos esses trabalhos.

“Eu sou eu – reflexos de uma vida na prisão”

A partir daí, o “Eu sou Eu” começa a ser construído dentro dessas unidades. Trazendo informações, vínculos familiares para essas pessoas que estavam ali, seus parentes vivendo uma ruptura dentro daquele local e vai potencializando. Alguns companheiros vão progredindo, dando sequência a essa dinâmica.

Nos encontramos na Praça da República, ali no Centro da cidade. Parece um surto de desespero para tentar fazer alguma coisa, sair daquele lugar que foi proposto, só recebendo danos, opressões, repressões.

Queríamos sair daquele lugar e tentar ajudar outras pessoas, porque nossos familiares foram extremamente afetados, a gente viu como é que é um processo de prisão, que não arrasta só um corpo, mas sim corpos. Os que são privados de fato entre concreto e grades e os que ficam privados socialmente e são sentenciados, não por um sistema jurídico, mas por um sistema social que também sentencia muito mais agressivamente do que apenas um bater de um martelo.

E hoje o “Eu sou Eu” está completando três anos, caminhando para quatro anos. Trazendo a realidade prisional que muitas vezes as pessoas não conhecem de fato, que é o dia a dia do cadeado que tranca e o que abre, do confere a visita, saída de uma unidade para outra.

Embora existam muitas pesquisas e pesquisadores debruçados nesse assunto, a realidade e a vivência extrapolam toda essa dinâmica. Trazemos essa visão, tentamos contribuir de alguma forma para que políticas públicas sejam cumpridas, sabendo que estas podem ser violadas diariamente. O Estado não consegue dar conta disso: ou por ser um projeto bem estabelecido, ou porque falhou.

E chega a pandemia

A gente tá vivenciando um momento pandêmico, uma realidade que vem mudando bruscamente, tanto socialmente, como financeiramente, e potencializa a desigualdade.

Quando se trata do sistema prisional não é diferente, já que se torna uma caixinha praticamente intransponível. Várias instituições de controle não conseguem ter muito acesso aos interiores das prisões. A própria secretaria de administração penitenciária tem essa autonomia de gerenciar esses ambientes, e traz informações subnotificadas, imprecisas, inverídicas – como se estivessem cumprindo as determinações penais.

Dentro desses ambientes, com um surto pandêmico como esse, entendemos que essa ação do vírus não vai só trazer um extermínio, mas também vai ser usada como um ferramenta de punição e até mesmo como uma forma de esvaziamento das unidades prisionais.

Porque se a gente tem um serviço de Sistema Único de Saúde (SUS) precário, um sistema na prisão que não funciona, não tem funcionários suficientes que dominam a medicina. Faltam funcionários para realizar o controle de testagem e de notificação. Há muito menos espaço para isolar pessoas contaminadas e de grupos de risco. São arquiteturas totalmente despreparadas, que não foram pensadas em trazer saúde, educação, “ressocialização”.

Temos um número enorme de contágios, mortes que não são notificadas, muitos familiares nem sabem. Enquanto pra muitos faz refletir sua humanidade, para outros é extremamente nociva, genocida. Uma realidade que trás medo, porque é um projeto de uma população específica – eu me incluo nessa estatística de pessoas pretas, faveladas e periféricas – a criminalização da pobreza. Esses espaços estão destinados para essa população.

“Nós por nós”

Nesse momento, sou articulador político e mobilizador da iniciativa Direito a Memória e Justiça e cofundador da associação Eu sou Eu – Reflexos de uma vida na Prisão

Para o futuro, eu vejo que existe a possibilidade quando construímos a partir da nossa realidade, do “nós por nós”, do compartilhamento das nossas dores e fazer disso uma nova conjuntura política com cuidado para não tropeçar nas mesmas questões que o Estado nos empurrou.

Mas com um Estado extremamente capitalista, de narcisismo, fica muito difícil de pensar em dias melhores. Parece que vai continuar essa questão de “ser resistência”.

Pra desfrutar de um futuro mais justo, vai partir de uma política popular, movimentos se unindo.

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40 a 59 anos Branca Homem Cis Pós-Graduação Completa Rio de Janeiro

“A Covid-19 agravou violações de direitos sofridas pelas pessoas que vivem com HIV”

A Covid-19 agravou as situações de violação de direitos sofridos pelas pessoas que vivem com HIV, porque é profunda a desigualdade social e econômica dessas pessoas.

Por exemplo, a população trans é uma população que vive em grande parte da prostituição. Sem poder ir à rua, muitas ficaram numa situação dramática, sem comida, medicamento, sem condições de se prevenir de DSTs.

Campanhas de prevenção e setor privado

É terrível notar, com a Covid-19 a nível federal, que não temos campanha de prevenção. Aqui no Rio, quem faz a campanha de prevenção que tem mais alcance é O Globo e o Itaú. É o poder privado. O mundo dos negócios é que esta fazendo a prevenção. Isso é muito perigoso, a coordenação é deles próprios, se uma hora eles não quiserem financiar, podem falar:

“Meu negócio é banco, dinheiro, mundo financeiro, tô fazendo isso por um favor. Não quero mais colocar dinheiro nisso”, acabou a campanha de prevenção.

As pessoas ficam desbaratadas, não sabem o que fazer exatamente. Eu critico o pessoal do Leblon que vai para os bares, as pessoas de Campo Grande que não se protegem. Mas temos que nos perguntar o que o Estado tem dado para essas pessoas, onde elas estão se informando.

É na Globo pelo Drauzio Varella – não é esse o caminho. Isso mina a confiança, não trás realmente mudanças no comportamento. E usando somente o poder punitivo, se elas não sabem exatamente o que seria correto. Isso leva à violência e aos estranhamentos que estamos vendo.

Foi porque não se cuidou…

Fora a questão do ônibus cheio – acaba que se a pessoa contraiu foi porque não se cuidou. Isso é um passo para agredir direitos. Uma empresa pode demitir um funcionário que contraiu Covid-19 alegando que “pegou porque não se cuidou”. Mas fez prevenção no local de trabalho? A responsabilidade do transporte urbano com a prevenção deveria ter um posicionamento. O que a Fetranspor, Secretaria de Estado declara? Qual é a sua campanha? Não era apenas da prefeitura e sim em coletivo. 

Neste momento, precisávamos primeiro de uma política de prevenção clara, não essa confusão que está aí. Isso seria fundamental, até como uma maneira de demonstrar cuidado e atenção. Ter as secretarias de estado e município e também do nível federal trabalhando de forma coordenada. Inclusão da sociedade civil nos conselhos.

São Paulo tem um conselho, mas não participa a sociedade civil. Não tem pacientes, familiares. Só empresas participam desse conselho social. E um ou dois cientistas. Aqui no Rio, na prefeitura, a gente nem sabe quem compõe. Isso resulta em bagunça como vimos nos hospitais de campanha que foram prometidos e não foram entregues, roubos, prejuízos para a sociedade. Uma preocupação com os mais vulneráveis, inclusive as pessoas historicamente vulneráveis.

Pessoas que vivem com HIV, ONGs e pressão por políticas assistencialistas

Grande parte das ONGs no campo das pessoas que vivem com HIV está sendo demandada cada vez mais para um posicionamento assistencialista de ofertar cestas básicas. O que é compreensível. A gente entende que essa demanda aumenta muito.

Mas, por outro lado, as ONGs estão muito fragilizadas. E assumir nas costas grandes tarefas de assistencialismo em médio prazo pode ser um problema institucional grave. Por falta de pessoas, de fundos. Fora um abandono de uma agenda de força política e social para mudanças, de agente de mudanças, e não somente um mitigador de problemas.

Sobre a pressão pela questão humanitária, precisamos discutir com eles que isso não deveria substituir a força política e social, capaz de manter políticas democráticas de Estado, como, por exemplo, a distribuição universal de medicamentos. Não é possível trabalhar só com ajuda humanitária, mas sim com força política para manutenção da política de Estado, que é o acesso universal. As populações vão continuar vulneráveis devido a uma crise econômica que não se recupera tão fácil. E hábitos e estilos de vida que será difícil modificar.  

Pós-pandemia e filantropia

No pós-pandemia, precisaremos de uma mudança na filantropia de apoio: alianças, políticas de solidariedade entre as organizações, como projetos intersetoriais – seria muito importante.

Acho que, mais do que nunca, as políticas de solidariedade que o Betinho falou são um desafio de como vai ser a nossa habilidade – enquanto movimentos sociais e sociedade civil – de formar alianças e encontrar denominadores comuns. E ter quem apoie.

Filantropia apoia um tema como meio ambiente, gênero, educação popular. Mas talvez vá precisar de agências que financiem meio ambiente e saúde (como o Betinho deslumbrou uma hora, quando a ABIA 92 participou do Eco 92).

O que tem a AIDS a ver com Eco 92? Na época do Betinho, tinha tudo a ver. Porque as condições ambientais fomentam doenças e favorecem epidemias – elas não surgem porque um vírus simplesmente surgiu. A cultura filantrópica intersetorial ainda é pouca na questão de políticas de solidariedade; mas é essencial para mudar o que queremos mudar. 

“Betinho” é uma referência ao sociólogo e defensor de direitos humanos Herbert de Souza. Betinho foi um dos articuladores da Campanha Nacional pela Reforma Agrária e tornou-se um símbolo de cidadania no Brasil ao liderar a Ação da Cidadania contra a Fomes, a Miséria e pela Vida. Em 1986, depois de saber que convivia com o vírus HIV, ajudou a fundar a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia).

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40 a 59 anos Branca Ensino Fundamental Completo Mulher Cis Rio de Janeiro

“Deixa quem quiser chamar de assistencialismo. Eu digo que é uma emergência, fome tem pressa”

Gostaria de trazer uma coisa que tenho percebido nesse período de quarentena. Ativa atendendo na rua com um grupo de voluntários, o primeiro momento dessa urgência que a pandemia de Covid-19 trouxe é o enfrentamento à fome.

O que pode ser feito efetivamente nesse momento é atender. Deixa quem quiser chamar de assistencialismo. Eu digo que é uma emergência, fome tem pressa. É impossível alguém raciocinar, caminhar, com estômago vazio. Com fome. Isso para qualquer ser humano, esteja ele na cobertura ou na calçada no papelão.

Por isso, em função da pandemia, eu fundei um coletivo: Rua Solidária RJ 2020. Assim, foi preciso a gente se organizar. Em cada ação, tivemos um número diferente de voluntários. Mas, de um modo geral, a gente tem ido à rua para ações pontuais – numa média de 15 a 20 pessoas. Até porque não pode ser muito mais do que isso para não caracterizar aglomeração.

Além da fome; direitos sociais destruídos

A pandemia trouxe o agravamento da falta do que já tinha antes: a falta da política pública na saúde, na habitação. Mas o lado solidário move o projeto e todas as ações com a rua.

Lá na frente, precisamos juntar para que isso se torne mais uma pauta. Porque a saúde está destruída. A assistência social como um todo também está. Essa parte que o governo deveria estar fazendo. Deveria estar vendo habitação. As ocupações ampliaram, porque a necessidade pediu.

E fortalecer um comitê, para que ele seja implementado e, depois, possamos estar lutando por algo mais dentro dele. O Comitê Intersetorial – uma união de todas as secretarias unidas trabalhando juntas para solucionar os problemas a população de rua – será mais necessário do que nunca. Aí sim, essa luta pode se definir de forma positiva.

Solidariedade e laços da pandemia

Eu gosto sempre de falar do lado bom. A vida – principalmente nesse segmento da população de rua – que antes já e era difícil, com a Covid-19, se tornou mais.

Gostaria de deixar registrado que a luta enfrentada tem que ser histórica. Há solidariedade. Houve mobilização. Sensibilizadas pela situação atual, pessoas mudaram o modo de ser e de pensar.

Está ocorrendo um encontro de pessoas. Pessoas que antes da pandemia se desencontravam, batiam de frente. Hoje elas formam laços, caminhando na mesma ponte em função do mesmo objetivo: ajudar o mais necessitado.

Os próprios moradores de rua não se dividem mais em ponta de concentrações como costumam fazer. Eles se organizaram, se conscientizaram, a partir de quem foi levando as informações – sociedade civil, projetos e ONGs. Quero deixar isso bem claro, porque é admirável o trabalho feito por eles junto a essa população. É emocionante.

Essa força, energia, luta, empoderamento vai ficar tirando as coisas ruins. O melhor que se pode aproveitar – no bom sentido – vai vir pós-pandemia. É quando essa rua toda empoderada vai poder se juntar com outros movimentos sociais, outras frentes de luta.

Não se iludam, porque eles estão fortes e fortalecidos. 

Eu sou militante, ativista dos direitos humanos e da população nas situações de rua. Presidente fundadora do projeto Juca e do Coletivo Rua Solidária. Sou cozinheira e artesã. 

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“A continuidade dos trabalhos em casa tem sido conciliada com um aumento de carga de trabalho doméstico”

Esse difícil momento vivenciado, com a pandemia e a falta de políticas públicas para o seu enfrentamento, nos causa enorme angústia e falta de perspectiva. Dentro desse contexto, eu avalio que fui mais diretamente impactada com a carga de trabalho.

Desde a primeira semana de isolamento social, estou trabalhando em home office. Desde a segunda quinzena de março, estou em casa com um filho de 4 anos sem creche. Meu companheiro segue trabalhando presencialmente cerca de uma a duas vezes por semana.

Nesse sentido, a continuidade dos trabalhos em casa – com uma carga ainda maior de urgência e demandas em razão da pandemia – tem sido conciliada com um aumento da carga de trabalho doméstico, ainda maior por conta de uma  maior permanência em casa e, principalmente, por não contar com a creche e ter menos possibilidades de redes de apoio.

Temos vivido uma rotina incessante de trabalhos. Muitas vezes, é difícil dizer onde começa onde termina cada um deles.

Mães, pais, cuidador@s, como vocês estão vivendo?

Há cerca de um mês, relatei em uma rede social:

“Mães, pais, cuidador@s, como vocês estão vivendo? Por aqui tá uma mistura incessante de: deixa os brinquedos espalhados pela casa com limpa o tempo todo; deixa a criança fazer o que quiser com precisamos de alguma rotina. Fazer as tarefas de casa no meio das tarefas de trabalho e vice versa. Eu não sei mais onde termina e onde começa nada. Ainda teremos muito tempo pela frente assim, né?”

Inclusive, já faz tempos que desistimos de manter qualquer rotina escolar com o Caio, nosso filho. Ele já não tem o menor interesse, e nós também não temos tempo e energia para nos dedicarmos.

Assim, vamos sobrevivendo e fazendo as coisas dentro de nossas limitações para preservar a nossa saúde física e mental.

No meio de tudo isso, minha pesquisa de mestrado – justamente sobre os impactos dos trabalhos dos cuidados na vida das mulheres e a política de creches públicas – está completamente suspensa por conta dessa carga de trabalho.

Precisamos falar de trabalho doméstico

Fica a convicção ainda maior da urgência de falarmos de trabalho doméstico, de trabalho de cuidados, de como eles sustentam toda a engrenagem de nosso sistema. De avançarmos, realmente, na divisão desses trabalhos com toda a sociedade: incluindo homens, poder público e empresas.