Transcender
(Patricia Borges e Simone Ricco)
Decretada pan pan pandemia
caos total
março, mar de contratos cancelados
trans e travestis cheios de boletos para pagar isolados, confinados e tendo que se reinventar corpos dissidentes à margem,
mais vulneráveis em tempos de máscaras e covardia desmascarada
Como não sair de casa com aluguel pra pagar? Tendo que se alimentar?
O vírus pode ser mortal, com a fome é igual
O corpo que tem fome também é o ganha pão… Se a transfobia não fosse uma epidemia
Seria mais fácil ter profissão
Pra muites de nós foi assim
No tempo de estudar, viramos professores de nós mesmes
Caímos no mundo, correndo atrás do pão, e da sobrevivência, de cada dia A sociedade normativa sempre usou máscara
Pra disfarçar seu preconceito,
Para nos desqualificar rótula
Diz que sou mulher de pau,
Faz piada e pra dar uma disfarçada na própria libertinagem
“Homens de bem” agindo do modo mais boçal,
Nos empurram para a clandestinidade
Satisfazem seu prazer no mundo clandestino
Alimentam com miséria as putas baratas
Violentos, cheios de selvageria, nos querem sem direitos e cidadania Tiram a poesia dos nossos dias
Vou além dessa condição marginalizada
Tô sempre no confronto com a negação
Desta sociedade trabalhada no bons costumes machistas
que não respeita opinião diferente,
destrata trans, artista, preto e tudo que diz ser diferente
Trans forma preconceito em piada
E faz adoecer, sofrer e morrer por conta da vida precarizada
Por ser quem é…
Tenho muitos motivos para lamentar e lutar Vivo lutos, mas tenho lutado pra ser trans poeta A literatura, na pademia e todos os dias
Repõe poesia na vida dura
Escrevo com alguma inspiração
E com muito desejo de reparação.
Meu nome é Patricia Borges, sou mulher transexual travesti. Sou ativista da Causa Trans e Travesti. Luto para que o Brasil seja igualitário para nosso corpos. Sociedade, pare de nós matar!
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