Meu nome é Vanderlaine, sou de Cuiabá, sou esposa de um reeducando, ele está no CRC. é, sem notícias, é, não entrava nada e nós estamos com o coração muito apertado. Fiquei com o coração muito partido, preocupada sem notícias.
Foi muito difícil, tô desempregada, meu esposo também está desempregado, está preso, perdi na pandemia sim,meu padrasto com câncer e no final ele ficou com covid. Eu fiquei muito feliz, porque ele se vacinou, porque eu estava muito preocupada. Eu estou vacinada, esperando a quarta dose e tenho fé que tudo vai dar certo. Vai voltar ao normal.
Relato de Vandirlaine Campos, produzido pela Associação Mais Liberdade para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Estou recluso no Centro de Ressocialização de Cuiabá. Estou preso há dois anos já aqui no cinema e hoje a pandemia veio. Infelizmente no momento é ruim, no momento que eu estou passando por mais dificuldade é mais a parte emocional. E hoje eu estou é sem as visitas. Assim como os familiares vem me visitar então assim nós está um transtorno mentalmente é ruim , infelizmente mas é nós estamos buscando outros meios. Como eu estou no sistema penitenciário aqui do CRC tenho a biblioteca e eu fiz algumas atividades.
Ressaltando que com restrição nós tá é buscando ler pra tentar fugir um pouco dos familiares pois não tem visita nem de sistema. Então nós está buscando esses mecanismos de leituras, de trabalhos. Que tenham restrição à distância, fiz partes assim e o sistema propõe pra nós. É como a faculdade também nos busca. A estudar também virei a ver o sistema e o mestrado também que fazemos também aqui. Então ela ajuda muito, Conforme essa pandemia tá tão expansiva.
Buscar novas oportunidades
Muitas pessoas morrendo, então nós não conseguimos compreender e entender. A situação mas sempre nós buscamos arrumar uma forma de distração, sempre a leitura. A Bíblia que nós lemos bastante é a forma de buscar a Deus. É pra forma de esquecimento do mundo lá de fora e dos familiares para não sofrer tanto como nós sofremos tanto aqui nesse sistema. Eu agradeço a Deus, já tomei as duas doses da vacina.
A minha expectativa daqui pra frente é sair daqui e buscar uma ressocialização lá fora, uma qualificação melhor lá fora e buscar uma mudança que esse percurso todo passando aqui dentro do sistema porque eu estou refletindo muito. Queremos a mudança ão só não só mentalmente e espiritualmente. E graças a Deus o sistema está favorecendo até mesmo esse mecanismo, com contato com psicólogo entre outros que ajuda bastante dentro do sistema.
Relato de Raony Silva, produzido pela Associação Mais Liberdade para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Olá, bom dia, me chamo Patrícia e meu esposo encontra-se privado da liberdade e na época da epidemia foi difícil. Porque foi desesperador a gente não tinha notícia a gente tinha vídeo chamada onde era difícil a gente conseguir fazer.
A gente não obteve a situação dos agentes penitenciários, que eles falavam que era coisa do Estado, então não foi fácil, né? Tiraram a comida, tiraram tudo, todos sabem que a comida que vem não é a comida adequada, né? Não é comida de boa qualidade, porque é muita, comida pra fazer pra muitos presos, então não é fácil.
Até nessa época de agora pro retorno das visitas mesmo a gente tá com a situação privada de tá levando as coisas pra eles estarem se alimentando ou comer alguma coisa diferente, tudo isso tá sendo difícil pra nós agora na epidemia.
Sem poder ver meu marido
E em questão assim dá vacina graças a Deus. Deu tudo certo, meu esposo foi vacinado, mas assim é muito e em questão assim da epidemia também. Não foi fácil porque veio a epidemia, eu perdi o emprego, fiquei desempregada sofrendo um acidente, agora eu tive no momento agora eu tô usando joelheira. Porque não faço, várias pessoas tem passado por necessidade, fora essas pessoas que que são parente privado, que faleceu, não teve o direito de se despedir do seu próprio familiar.
Então, não foi uma, foi de dez, oitenta pessoas que perderam, os familiares não podem ver. Por estar privado. Então, tudo isso a epidemia trouxe pra nós uma situação muito difícil, uma situação que abalou todas nós. Porque não é fácil, graças a Deus minha esposo não pegou a covid mas alguns companheiros pegaram e não foram um, foram vários, então não foi fácil, então eu sou muito grata a muitas pessoas, a associação que tem nos ajudado.
Tô muito feliz e graças ao meu esposo, foi vacinado, todos os demais que estão com ele foram vacinados. Para todas as pessoas que se encontram privadas, e as pessoas que são que não são as privadas, que são do foro, rever a situação, tudo certinho porque é muito difícil, muito difícil você querer levar uma comida. Não tem condições e agora as coisas que estão voltando…
Relato de Patrícia Machado, produzido pela Associação Mais Liberdade para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Oi, meu nome é Maria, eu sou esposa do Reeducando se encontra no CRC de Cuiabá e eu vim falar sobre a pandemia né? Que a gente teve muita dificuldade sobre questão de remédios, muitas pessoas morrendo, vacina a gente não sabia se eles estavam tomando ou não, porque não estava tendo visita íntima e as vídeo chamadas também não estavam tendo, estava sendo muito difícil pra gente e muitas pessoas perderam familiares.
E isso afetou muito a gente, gente, com ansiedade, preocupada, não sabia o que tava acontecendo, não tava entrando as coisas sem visitas, sem, nada não estava entrando remédio tudo parado e a dificuldade bateu na porta de todo mundo, muitas pessoas perderam seus serviço eu inclusive né? Perdi meu emprego, fiquei numa fase difícil, não tava entrando remédio e não tinha videochamada, tava muito complicado mesmo.
Relato de Maria Souza, produzido pela Associação Mais Liberdade para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Meu nome é Sandro teixeira dos Santos, eu me encontro aqui recluso aqui no Centro de Ressocialização daqui de Cuiabá Mato grosso, e a epidemia ela nos trouxe assim um desconforto porque logo nos cortaram as visitas né, a gente ficou sem ter notícias da família, sem ter notícias dos filhos, que eu tenho uma filha e assim o desconforto foi muito grande porque qual o esposo que não quer estar perto da sua esposa, da sua mãe, dos seus filhos né, então foi algo assim que machucou bastante a gente né. Atingiu não somente a mim, mas a todos os educandos que estão aqui.
Eu sei que muitos ficaram aflitos com tudo isso né, então logo após veio a videochamada trazendo conforto, mas não é a mesma coisa de uma visita residencial. Mas já tava melhorando né, foi melhorando, e assim foi uma experiência nova né, experiência nova. Muitas pessoas perderam seus entes queridos para epidemia, muitas famílias foram destruídas porque muitas esposas não aguentaram e foram embora, abandonaram seus esposos, foram cassaram outro rumo de vida né. Então só agradeço a Deus por ter me mantido firme aqui dentro dessa oportunidade aqui onde a gente se encontra né, não houve morte né, todos nós nos encontramos bem.
Relato de Sandro Teixeira, produzido pela Associação Mais Liberdade para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia
Sebastião Moreira recebendo a vacina contra a Covid-19: "Precisei de ajuda para me inscrever no site para receber a vacina"
A minha vez de receber a vacina foi tranquila. Fiz a inscrição em um site de vacina mal feito. Precisei pedir ajuda, pois não entendo muito de tecnologia. Tive que mudar de mês a mês até chegar em julho de 1954. Imagina o tanto de clicada que eu tive que dar!
Site da Prefeitura de Cuiabá
Os meus filhos moram com a minha ex-esposa em Florianópolis. Um deles deu muita risada quando contei a minha experiência com o site de vacina. Ele ainda disse: “Pai, se a prefeitura quiser, eu arrumo esse site pra eles.” Pensando bem, até o meu casamento de 30 anos acabou devido a essa minha vida de militância…
Tomei a primeira dose no dia 16 de abril de 2021. Fui de carro próprio com uma amiga para a fila do drive thru, no Memorial Papa João Paulo II, em Cuiabá. Foi tranquilo, apesar da longa fila. No total, fiquei cerca de uma hora esperando para me vacinar. O pessoal que atendeu a gente é extremamente atencioso e paciente. São muito legais os servidores da saúde.
Sem nome no site de vacina
Já saí de lá com a data da segunda dose no meu cartão de vacinação. Ficou marcada para o dia 15 de maio. No entanto, faltando dois dias, o meu nome não aparecia no site de vacina da Prefeitura de Cuiabá. Só veio aparecer três dias depois, o que atrasou a minha segunda dose para o dia 18 de maio.
Fico imaginando como foi para as pessoas que não têm acesso à internet acessarem aquele site de vacina…
Esperei por cerca de uma hora para receber cada uma das doses da Coronavac. Na primeira, senti uma leve dor de cabeça que aparecia toda vez que eu me lembrava da vacina. A dor durou umas 30 horas, e depois passou. Já na segunda dose, não senti nada.
As vacinas demoraram muito no país inteiro. Ainda hoje, a nossa população não está imunizada. Por isso, estamos pagando um preço muito caro, com quase 600 mil mortes. Sendo que muitas delas poderiam ter sido evitadas se o país tivesse levado a sério a questão da vacinação, bem como todo o protocolo recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
Foram muitas perdas para a Covid-19
A pandemia afetou a minha família em casos de Covid-19, mas não teve óbito. Tive uma febre muito forte e dor de cabeça. No entanto, fiz uns remédios caseiros e me senti melhor. Fiz o teste para detectar o motivo na Bioenergética e deu positivo para a Covid-19.
Acompanho 8 povos indígenas no Araguaia
Foi no trabalho com os indígenas que tive muitas perdas, pois muitos dos que conheci faleceram de Covid-19. Um dia, um amigo do povo Rikbaktsa (terra Eribaktsa, do município Brasnorte) mandou mensagem dizendo que estava indo fazer o teste. Deu positivo. Então, ele veio pra Cuiabá. Não demorou muito e ele faleceu.
Outra perda foi a do cacique Matias, do povo Kayabi (terra Kayabi Abiaká, município de Juara). Foi o primeiro povo que me acolheu, em 1979, quando passei a morar em terra indígena. Sai de lá em 1985. Essa região concentra três povos. Na margem direita do Rio dos Peixes, ficam os povos Abiaká e Munduruku, e na parte esquerda, os Kayabi.
Com o Cacique Raoni
Acompanhei a situação dos povos de perto em contato com o Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena (DSEI) e com universidades e institutos federais. Conseguimos álcool, sabonetes, máscaras…
Muitas vezes, lideranças ligavam pra mim contando da tristeza que é essa doença. Porque quando ela chega, todo mundo sofre, pois todos são ameaçados. Além disso, quando um morre na aldeia, as pessoas não podem fazer os rituais sagrados. Isso causa muito sofrimento. Muitos me ligaram chorando. Confesso que eu também chorei muito. Foi um período de muita dor, muita tristeza.
Vida inspirada na luta
Eu fui seminarista jesuíta. Sou de uma família tradicional mineira e fui criado na roça. Desde o início, estive na linha de teologia e libertação. Mas, esse negócio de vida religiosa começou a me perturbar. Eu vivia no interior de Nova Denise, em Mato Grosso. Vim pra Cuiabá em 1977 e comecei a estudar, porque eu queria entrar na vida religiosa e pensei em ter uma experiência fora, de conhecer a cidade, antes de entrar para o Seminário. Aqui, em Cuiabá, tínhamos trabalhos sociais ligados a igrejas em bairros, na luta por resistência e moradia.
Participei da fundação do PT em Cuiabá, em 1979. Foi, então, que eu conheci o pessoal do Conselho Missionário Indigenista (Cimi). Assim, passei a fazer parte. Mas, como eu queria ser padre, no segundo semestre de 1982, fui para o Seminário no Rio Grande do Sul, na cidade de São Leopoldo. Em 1983, fui para o noviciado em Cascavel, no Paraná, onde fiquei por um ano.
Em seguida, voltei para as aldeias Tatuí do povo Kayabi, Mayrob, do povo Abiaká e Nova Esperança, do Povo Munduruku. Passei a morar em cada uma dessas aldeias durante um tempo e saí de lá em 1985. Eu procurava se havia sinais de indígenas sem contato, pois havia história de índios que ainda não tinham sido encontrados. Encontrei alguns sinais, apenas. Peguei malária por 13 vezes. Depois, em Cuiabá, em 1986, entrei na coordenação do Cimi Regional.
Fake News
Quando chegaram as vacinas, muitas pessoas tiveram uma certa resistência, devido a um monte de fake news, em sites e redes sociais, e por conta da influência evangélica. Tem um rapaz, formado e muito meu amigo, que me ligou à noite contando que não tomou a primeira dose, porque ficou em dúvida. Ele só tomou a primeira dose quando viu pessoas sendo vacinadas com a segunda, para ter segurança. Fico abismado, surpreso, de ver uma liderança esclarecida, com formação superior, sendo do Conselho de Saúde e professor, ficar em dúvida devido às influências externas.
Ele só me contou isso porque é meu amigo, mas me disse também que 30% da população de muitas aldeias teve a mesma atitude dele, por desconfiança. A gente conversou e ele me contou que ficava em dúvida diante das fake news. As pessoas acabam confusas diante de tanta influência negativa. Essas questões são tão fortes que influenciaram uma pessoa como ele.
Desde a pandemia, nós do Cimi não vamos às aldeias. Antes, ficávamos lá por um mês, mas depois isso mudou. Desde então, a gente tem realizado reuniões virtuais, que são as articulações dos povos da região. Daqui de casa, acompanho oito povos indígenas do Araguaia.
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