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25 a 39 anos Branca Distrito Federal Ensino Médio Completo Mulher Cis

“Como vou manter funcionários sem ter nenhum capital na empresa?”

Meu nome é Keilla Rocha, tenho 28 anos e sou mãe de um rapaz pré-adolescente. Quando a pandemia começou, em 2020, eu estava casada, fazendo o curso técnico de enfermagem e trabalhava como comerciante varejista em Shopping Centers.

Com a pandemia, eu passei a não deixar mais meu filho sair pelo condomínio ou brincar na rua e ele não conseguia entender o motivo. Ele, triste, olhava pela janela e dizia: – Olha lá mãe… Todo mundo brincando na rua! Todos meus amigos nas quadras, e eu aqui em casa, já não aguento mais”.

Ele estava exausto, as brincadeiras dentro de casa já não tinham graça, a escola havia fechado e eu estava super amedrontada e não deixava ele nem “piscar” fora de casa. Parecia um filme de terror sem fim. Sabe aquele apocalipse que tanto nos alertavam desde a infância? Sentia que ele realmente havia chegado. 

Ao acordar, o meu marido já estava com a televisão ligada assistindo incansavelmente a mais um noticiário que nos alertava sobre o maior número de mortes a cada minuto. Às vezes eu parava e pensava: “Será que só eu estou realmente levando isso tão a sério? Onde estão os pais dessas crianças que deixam elas ficarem na rua?” E, por fim, eu fico vista como a errada ou a mãe super protetora.

Senti um desespero quando recebi um e-mail da secretária do suposto médico incrível informando que ele havia ido embora de Brasília para ficar com a família, pelo motivo da pandemia

Filho com epilepsia

Quando meu filho fez nove anos, ele foi diagnosticado com epilepsia. A partir de então, ele tem tomado medicamentos controlados e procuramos o melhor neuropediatra que atendia em Brasília. Comecei a pagar um plano de saúde super caro, pois era o que o suposto médico escolhido aceitava na época. As consultas passaram a acontecer por chamada de vídeo. Nós realizávamos a consulta segurando o celular, sentados em nosso próprio sofá, no conforto do nosso lar, conforto este que meu filho já não suportava mais. 

Realmente, senti um desespero quando recebi um e-mail da secretária do suposto médico incrível informando que ele havia ido embora de Brasília para ficar com a família, pelo motivo da pandemia.

Como eu, sendo uma microempresária, vou manter funcionários sem ter nenhum capital na empresa? Como iria alimentar minha família, pagar boletos que estavam para vencer? Foi um desespero sem fim

Fechamento de shoppings centers, fim do trabalho

O tempo passou e o terror continuou. Eu sempre tentei proteger minha família passando álcool em tudo e em todos. Quando eu e meu ex-marido íamos ao mercado, parecia o fim dos tempos: muitas prateleiras vazias, as máscaras em nossos rostos tampando todos os vestígios de sorriso que poderia surgir, olhares assustados, um silêncio que parece que nos havia matado por dentro e a cada instante. 

No momento em que o nosso empreendimento nos Shoppings Centers faria com que conseguíssemos sair do mar de dívidas, recebemos a notícia de que os shoppings deveriam fechar. Como eu, sendo uma microempresária, vou manter funcionários sem ter nenhum capital na empresa? Como iria alimentar minha família, pagar boletos que estavam para vencer? Foi um desespero sem fim. Não havia nenhuma notícia boa e nenhuma esperança desse pesadelo acabar. Sem a cura, sem a esperança de vacinação, com o caos no governo em nosso País, parecia que não iríamos sobreviver.

No curso de enfermagem, os estágios foram suspensos. E, dessa forma, nós, estudantes inexperientes e despreparados, tivemos que ir à guerra.  Adiantaram o diploma, pois a cada dia que passava eram necessários mais “soldados” da saúde para ir à guerra.

Devemos observar e entender o contexto e não perder a fé. Temos que saber que temos que lutar pelos nossos sonhos e objetivos, mas jamais deixar de ser grato pela vida e pela saúde

Fim do casamento: “Seu egoísmo não o deixava enxergar que diante de tudo aquilo que o mundo passava, o bem maior era a própria vida e a família”

Em meio a essa “tempestade” mundial, o meu casamento não resistiu e sucumbiu em meio a tantos conflitos. As pessoas à nossa volta nos julgavam como o casal perfeito. Porém, todo espetáculo é lindo para quem assiste e só quem vive atrás, nos bastidores, sabe a realidade. 

Ao acordar, sempre via o meu marido mal e desesperado e eu dava apoio e alicerce, sejam eles quais fossem necessários. Eu tentava mostrar que mediante a todo ócio mundial, a nossa família estava bem, tínhamos saúde, alimento na mesa. Mas ele se sentia como se estivesse levando um golpe do destino. Seu egoísmo não o deixava enxergar que diante de tudo aquilo que o mundo passava, o bem maior é a própria vida e a família.

Devemos observar e entender o contexto e não perder a fé. Temos que saber que temos que lutar pelos nossos sonhos e objetivos, mas jamais deixar de ser grato pela vida e pela saúde. Do que adianta chegarmos no topo da montanha sem ter com quem compartilhar? O mais importante é saber como lidamos com o próximo ao longo da caminhada, com quem está contigo nos momentos de dificuldade. 

É fácil ser feliz ao valorizar o próximo nos momentos de bonança e alegria. O sábio é aquele que valoriza e entende que nem tudo são flores. Hoje sei que existe arrependimento em seu coração, mas tudo isso me ensinou a ser uma mulher forte, guerreira e independente. Sou grata a Deus por não me desamparar, por me mostrar o caminho e por me guiar em meio ao caos.

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40 a 59 anos Branca Ensino Superior Completo Escolaridade Estado Gênero Homem Cis Idade Raça/Cor Santa Catarina

“Aprendi a conviver melhor com as pessoas”

Aprendi a conviver mais com os familiares, a entender melhor as dificuldades e anseios das pessoas. Aprendi a olhar pra mim mesmo, fazer uma retrospectiva e buscar uma vida com mais qualidade.

A vacinação, para mim, foi um momento de segurança e esperança: confio plenamente na ciência e na vacina. Meu sentimento ainda é de preocupação, pois as pessoas, a maioria delas, tem um comportamento como se a Covid-19 não existisse mais, o que me faz ficar mais apreensivo.

Por outro lado, o retorno do contato com as pessoas melhora o meu emocional. O futuro vai ser com as pessoas refletindo melhor sobre seus atos, se entendendo melhor e com mais compaixão com os outros. Tenho esperança em ter um controle eficaz da Covid-19.

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60 anos ou mais Branca Distrito Federal Escolaridade Estado Gênero Homem Cis Idade Não frequentei a escola Raça/Cor

“Comecei a estudar durante a pandemia; quero aprender a ler e escrever”

Relato de João Pereira, produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

Passei a estudar, durante a pandemia, na Associação de Mulheres de Sobradinho II, onde fui acolhido há cinco meses. Por meio dos estudos, também ganhei novos amigos. Há 48 anos, eu moro em Brasília. Morei de aluguel, por muito tempo. Aqui, comecei a estudar e arrumei uma casinha com a Ivonete, uma pessoa muito legal. Com fé em Deus, a gente vai permanecer na escola. Hoje, ajeitei um local pequeno e estamos aqui. Estou aqui até hoje, onde tem luz. Eu não tenho do que reclamarda minha querida Ivonete.

Eu vou aprender a ler e escrever. Tudo começou quando a ‘tia’ procurava por alunos interessados em estudar. Então, eu me ofereci. Foi assim que comecei a aprender a ler e escrever. O meu amigo, o Daliano, também estuda com a gente.

Antes, eu morava de aluguel, então comecei fazendo uns bicos. Arranjei um local para abrir um barzinho para eu trabalhar, porque nunca fiquei quieto. Então, investi nesse barzinho. Hoje, tenho lugar para morar, onde posso ficar dentro de casa. E, se Deus abençoar e tudo der certo, em breve, voltarei para casa. 

Enfim, penso em retornar. Mas, antes, vou continuar na escola, pois não vou parar de estudar. Sei que preciso continuar os estudos. Eu acredito que Deus vai me abençoar e eu vou ser muito feliz. A gente vai lutando e, aos poucos, tudo dá certo.

Eu nasci na Bahia, saí de lá aos 10 anos de idade. Cheguei em Minas Gerais com a minha madrinha. As pessoas achavam que éramos ciganos, porque a gente não parava em um lugar só. Algumas pessoas tinham até medo de mim, por acharem que eu era cigano! Elas diziam assim: “olha o cigano ali”. Mas, eu dizia: “não tenha medo, não sou cigano”.

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60 anos ou mais Branca Distrito Federal Ensino Fundamental Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Raça/Cor

“Eu não podia chegar perto de ninguém, porque tive leucemia”

Relato produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

Pra mim, o mais difícil foi não poder ir à igreja, tendo de ficar confinada dentro de casa. Eu não podia chegar perto de ninguém, nem conversar com alguém pessoalmente, porque eu tive leucemia. Ainda hoje, os meus filhos têm um cuidado especial comigo. Eu viajo muito com eles, mas eles não me deixam chegar perto de ninguém. Até os talheres, que são entregues para mim junto à comida, eles pegam antes e esterelizam tudo. Eu não fico perto de ninguém, porque eles me afastam de todo mundo.

No começo, eu me sentia um pouco fragilizada ao ponto de não poder ter a vida que eu tinha antes, já que eu saia muito. Eu fiquei um ano e tanto sem ir à Caldas Novas, por exemplo, porque a cidade foi fechada. Não tinha nenhum lugar aberto, porque fecharam as entradas. Eu poderia até entrar, pois eu tenho residência lá. Mas, o que eu ia fazer lá, se estava em pandemia e tudo fechado?

De reflexão, ficou pra mim o seguinte: hoje em dia, a gente deve ter cuidado. Perdi muitas amizades por Covid. Muitas amigas, amigos do meu marido, dos meus filhos. Morreram todos jovens. Morreu o cunhado do meu filho que tinha apenas quarenta anos! Muita gente faleceu por causa da Covid.

Isolamento

Além disso, não havia a possibilidade de sair, de parar no meio das estradas para almoçar, encostar em um restaurante para comer, devido à minha doença. Vai que eu estou servindo a comida, passa uma pessoa perto de mim ou chega perto de mim para se servir? Tudo isso é perigoso. 

O meu dia a dia está mais livre, agora, as coisas voltaram ao normal. Vou para onde eu quero. Inclusive, viajei no ano passado. Fui para o Arraial D’Ajuda, na Bahia. Agora, estou viajando sempre. Não paro em casa, não. 

No início, fiquei apavorada com esse negócio. Nem saía de dentro de casa! Nem pra descer no térreo, onde fica a loja que alugo. Mas, agora, eu vou para onde quero: à garagem, ao jardim. Vez em quando, até saio aqui na minha rua.

Primeiro, comecei descendo para o jardim. Sempre acompanhada dos meus filhos e do marido. Era aquela coisa toda, e eu não podia estar sem máscara, não olhava pra canto nenhum, não podia pegar nada. Só descia quando não tinha muita gente. Meu marido ia lavando a calçada, desinfectando o local com álcool, borrifava o produto em todo local por onde eu passaria. Era desse jeito, um terror. 

Pensando no futuro, eu quero viver muitos anos de vida, em nome de Jesus Cristo. Quero pregar a palavra de Deus. Peço que Ele me abençoe ricamente cada dia mais. Sempre conto meu testemunho de que já vi Jesus três vezes. Não é pra qualquer pessoa ver Jesus. Ninguém consegue ver Jesus, mas eu já vi Jesus arrebatado no sonho. Orei a Deus pedindo para esquecer. No entanto, um mês depois, sonhei às cinco da manhã com aquele homem de branco, bem alto, em pé na cabeceira da minha cama, com uma espada e uma fumaça que não me deixava enxergá-lo direito.

O diagnóstico: leucemia crônica

Eu vim morar em Brasília no dia 10 de maio de 1964. Eu tive leucemia crônica e, há quatro anos atrás, quase perdi a vida. Mas, Deus não deixou e eu nunca baixei a cabeça para essa doença que me deixou branca como o algodão. Foi quando o médico disse ao meu filho caçula: “doutor Robson, não vou liberar sua mãe, porque eu tenho muito medo de ela emagrecer. Pode sofrer uma trombose, alguma coisa no coração, então não vou liberar. Sua mãe deve ter leucemia. E, se for na medula, não tem cura. Porque sua mãe já é de idade, não tem transplante.” 

Então, o meu filho cancelou a viagem. Logo depois, sairam dois resultados da biopsia apontando que o meu caso não era grave. Então, fui liberada para viajar. Fui para o Rio de Janeiro, fiquei lá, não tive nada. Passeei à vontade no Rio, voltei e não senti coisa nenhuma. Quando cheguei aqui, peguei o resultado do exame e levei para o médico.

“Jesus vai me curar”

O médico leu o resultado, olhou sorrindo pra mim e me disse assim:

“Você é a mulher mais feliz do mundo. Você teve uma leucemia da mais branda que existe, a que não mata ninguém! Só tem que tomar remédio, viu, dona Dulce Maria? Para o resto da vida.”

Eu disse ao médico: “não vou tomar nada, Jesus vai me curar, pode deixar”. É que eu já estava sabendo disso, Deus já tinha me revelado em um sonho em que eu ia à São Paulo. No sonho, Ele me mostrou a estrada, um asfalto preto e com umas catingueiras na cor verde que faziam um arco.

Do lado esquerdo, no sonho, havia uma cratera como se fosse da altura do teto da minha casa. E eu dizia assim: “Senhor, o que é que vai ser de mim, ninguém sabe que eu estou aqui. Se eu gritar ninguém vai ver, ninguém vai me tirar daqui agora.” Eu não vi como entrei, também não vi como saí. No entanto, Deus me deixou ver uma coisa.

Nas bordas da cratera, havia mato verde. E, eu me lembro bem que eu tocava o mato, encostava a barriga nas bordas da cratera e saía me arrastando. E, caminhava naquela grama bem verdinha. Sabemos que verde é esperança. Eu pegava o asfalto e ia embora.

Por fim, disse ao médico: “Doutor, eu já sabia que eu ia passar por isso, também estou sabendo que eu não vou morrer por isso, porque Deus já tinha me dito tudo isso, então já sei que eu ei de vencer a doença”. 

Relato de Dulce Maria, produzido pela associação Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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40 a 59 anos Ensino Superior Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Parda Raça/Cor Tocantins

“A vacina trouxe a esperança de voltar à vida normal”

A esperança chegava aos estados brasileiros. A vacina foi recebida com expectativa e, ao mesmo tempo, desconfiança, devido às fake news e preconceito, fruto da ignorância e do desgoverno o qual estamos submetidos. Quando os povos indígenas estavam na primeira fase da imunização, trabalhamos muito para que as mentiras não chegassem às aldeias. Mesmo assim, as estórias invadiram o território indígena, trazendo o medo para dentro das comunidades. Por fim, depois de muita luta, as lideranças aderiram à vacina. Logo, os casos começaram a diminuir.

Primeiro, eu tive que esperar um pouco para a minha faixa etária receber a dose da esperança, do amor. Meus pais foram os primeiros a receber a vacina, a alegria foi grande. Então, fico feliz em lembrar que eles conseguiram passar a pior fase da pandemia com vida.

Na foto, é possível ver Eliane Franco na parte interna do posto de saúde erguendo uma placa com os dizeres: "VIVA O SUS. Não ao negacionismo. Fora Bolsonaro! Vidas importam". Imagem acompanha o relato "A vacina trouxe a esperança de voltar à vida normal", da Memória Popular da Pandemia.

Em maio, celebrei dois aniversários, mas ainda não tinha recebido a vacina. Agradeci a Waptokwazawre pelo dom da vida, por também ter conseguido enfrentar a pandemia com saúde. Celebrar a vida em tempos de pandemia, em que muitas pessoas morreram e foram contaminadas é, de fato, um ato de resistência.

No Conselho Indigenísta Missionário (Cimi), organização a qual faço parte, cada companheiro e companheira que recebia a vacina era motivo de alegria. Acompanhei três pessoas próximas, que receberam as doses. Ficávamos ansiosas para saber qual vacina receberíamos, fizemos até pesquisas sobre a eficácia das vacinas. Foi uma emoção acompanhar tudo isso.

A segunda dose da esperança

Finalmente, chegou a minha tão esperada vez! Tive de aguardar três dias para o agendamento. Por isso, fizemos um mapa para chegar no postinho na hora certa sem imprevistos. É que eu estava nervosa, tinha muitas outras pessoas aguardando a dose da esperança. Então, no dia 09 de julho, recebi a vacina. Fiquei muito emocionada e por dentro pensando: “essas gotinhas tão desejadas vão salvar muitas vidas”. E salvaram a minha também.

Agora, a minha segunda dose, que será disponibilizada em outubro, vai completar a imunização. A espera é longa. Enquanto isso, tomo os devidos cuidados para não pegar a Covid -19 durante esse tempo, e ficar bem até a segunda dose.

Temos que saudar o SUS! “Não ao negacionismo, e sim à ciência”, essas são frases que me marcaram nesse tempo de vacina contra a Covid-19. A esperança de ter a vida normal voltou. Mesmo com tantas propagandas falsas, aderir à vacina é também proteger a todos e todas desse vírus cruel.

Sem esperança e sem vacina: mais de 500 mil mortes

A pandemia está sendo um processo doloroso para todas as famílias brasileiras. No início, tive muito medo da Covid-19, pois pensava nos meus pais idosos, minha mãe com diabetes. Todos os dias ligava para orientar sobre os cuidados. Foram momentos terríveis, nunca imaginei que amigos e pessoas próximas morreriam por causa dessa doença. Outrossim, é desafiador ter que ficar em casa por longas semanas, meses. Senti a saudade das pessoas queridas bater à porta todos os dias.

Hospitais lotados, sem UTIs, sem médicos, oxigênio. Pessoas morrendo sem assistência. Nem os que tinham dinheiro conseguiam sobreviver. Os noticiários dos jornais assustavam, parecia que estávamos vivendo um filme de terror. Era impossível conter as lágrimas.

Para completar, ainda vivemos um desgoverno que não criou estratégias, em tempo hábil, para combater o aumento da Covid-19 no país. Foram dias de revolta por saber diariamente da morte de pessoas, por causa da incompetência de um governo negacionista, que não comprou vacina a tempo de salvar vidas.

A pandemia e os Povos Indígenas

No Cimi, tivemos de paralisar os trabalhos presenciais nas aldeias, porque a chegada do vírus nas aldeias foi desolador. A todo momento, recebíamos notícias de que muitas pessoas estavam contaminadas. Queríamos que os indígenas fossem atendidos com qualidade nos hospitais de referência, mas o que vimos foi preconceito, racismo e discriminação. Denunciamos diversas situações aos órgãos públicos.

Na foto, é possível ver Eliane Franco com três crianças indígenas. Imagem acompanha o relato "A vacina trouxe a esperança de voltar à vida normal", da Memória Popular da Pandemia.

Inicialmente, em março de 2020, tivemos que aprender a usar as ferramentas da internet para nos comunicar com os povos indígenas. E, ainda enfrentando um vírus tão perigoso, nossos trabalhos de informação e formação nas aldeias se deram através de cartilhas online, programas de rádios, encontros virtuais, folders e vídeos, orientando as lideranças sobre a ameaça da Covid-19.

Outra coisa importante que não posso deixar de falar: a situação do atendimento da saúde indígena durante o período de pandemia foi dramática, com vários problemas de estrutura nunca resolvidos pela Secretaria Espacial de Saúde Indígena (Sesai). Na pandemia, o problema se agravou.

Os povos não tinham o direito de sepultar seus mortos, os rituais fúnebres foram proibidos. Lembro da morte de duas indígenas do povo Javaé, mãe e filha que morreram no mesmo dia. A cena dos caixões sendo atravessados em duas canoas juntas para a aldeia me chocou.

As barreiras sanitárias foram criadas pelos próprios indígenas, dentro dos territórios, com o objetivo de conter o avanço do coronavírus. Tudo isso por causa da falta de apoio dos órgãos governamentais. Com o apoio do Cimi, os povos mantiveram as barreiras sanitárias nas entradas dos territórios indígenas e acredito eu que essa ação tenha salvado muitas vidas ind´´ígenas.

Concluindo, deixo aqui o meu agradecimento à Memória Popular da Pandemia, onde podemos registrar nossas escrevivências neste período tão macabro. Obrigada!

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40 a 59 anos Ceará Ensino Fundamental Incompleto Mulher Cis Parda

“Surgiu um convite para a cozinha comunitária. Aceitei na hora. Queria ajudar e fazer parte de algo”

Acompanhei o início da pandemia pela televisão e via a preocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em achar maneiras de ajudar as famílias próximas. Nós aqui de casa – a qual conquistei na luta do movimento – recebemos ajuda com cestas básicas e máscaras.  

A princípio, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto montou uma cozinha comunitária. Logo, surgiu um convite para que eu fosse ajudar na cozinha. Aceitei na hora, pois queria ajudar e fazer parte de algo.

Foto de duas mulheres cozinhando com uma panela de pressão acomapnha relato da Memória Popular da Pandemia, que mostra como ajudar na cozinha comunitária do MTST trouxe a esperança de dias melhores à Maria Antônia.

Ajudar na cozinha comunitária foi um misto de sentimentos: me senti útil e feliz ao ver várias e várias pessoas comendo o que eu mesma preparei junto a algumas companheiras.  

A pandemia é grave, ela pode até matar. Mas o movimento faz com que tenhamos esperança no amanhã.

Sou dona de casa e há cinco anos tive meu primeiro contato com o MTST. Minha filha é militante do movimento e agradeço demais por tudo o que o movimento acrescentou em nossas vidas.  

Leia também:

“As atividades do MTST nos territórios ficaram mais intensas” – Maria Eduarda Rodrigues | Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – Pacatuba, PE

“Deixa quem quiser chamar de assistencialismo. Eu digo que é uma emergência, fome tem pressa” – Vânia Rosa | Presidente do Coletivo Rua Solidária – São João de Meriti, RJ