“A continuidade dos trabalhos em casa tem sido conciliada com um aumento de carga de trabalho doméstico”

Memória de Iara Amora dos Santos

Casa da Mulher Trabalhadora (CAMTRA) - Rio de Janeiro, RJ
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Esse difícil momento vivenciado, com a pandemia e a falta de políticas públicas para o seu enfrentamento, nos causa enorme angústia e falta de perspectiva. Dentro desse contexto, eu avalio que fui mais diretamente impactada com a carga de trabalho.

Desde a primeira semana de isolamento social, estou trabalhando em home office. Desde a segunda quinzena de março, estou em casa com um filho de 4 anos sem creche. Meu companheiro segue trabalhando presencialmente cerca de uma a duas vezes por semana.

Nesse sentido, a continuidade dos trabalhos em casa – com uma carga ainda maior de urgência e demandas em razão da pandemia – tem sido conciliada com um aumento da carga de trabalho doméstico, ainda maior por conta de uma  maior permanência em casa e, principalmente, por não contar com a creche e ter menos possibilidades de redes de apoio.

Temos vivido uma rotina incessante de trabalhos. Muitas vezes, é difícil dizer onde começa onde termina cada um deles.

Mães, pais, cuidador@s, como vocês estão vivendo?

Há cerca de um mês, relatei em uma rede social:

“Mães, pais, cuidador@s, como vocês estão vivendo? Por aqui tá uma mistura incessante de: deixa os brinquedos espalhados pela casa com limpa o tempo todo; deixa a criança fazer o que quiser com precisamos de alguma rotina. Fazer as tarefas de casa no meio das tarefas de trabalho e vice versa. Eu não sei mais onde termina e onde começa nada. Ainda teremos muito tempo pela frente assim, né?”

Inclusive, já faz tempos que desistimos de manter qualquer rotina escolar com o Caio, nosso filho. Ele já não tem o menor interesse, e nós também não temos tempo e energia para nos dedicarmos.

Assim, vamos sobrevivendo e fazendo as coisas dentro de nossas limitações para preservar a nossa saúde física e mental.

No meio de tudo isso, minha pesquisa de mestrado – justamente sobre os impactos dos trabalhos dos cuidados na vida das mulheres e a política de creches públicas – está completamente suspensa por conta dessa carga de trabalho.

Precisamos falar de trabalho doméstico

Fica a convicção ainda maior da urgência de falarmos de trabalho doméstico, de trabalho de cuidados, de como eles sustentam toda a engrenagem de nosso sistema. De avançarmos, realmente, na divisão desses trabalhos com toda a sociedade: incluindo homens, poder público e empresas.

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