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40 a 59 anos Distrito Federal Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Parda Raça/Cor

“O mais difícil foi ser cobrada pelas contas, e não ter como trabalhar”

Relato produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

O mais difícil foi receber faturas, contas a pagar, como o aluguel da casa, sem poder trabalhar. E agora, de onde é que você vai tirar? Foi muito complicado. Teve uns quatro meses que o Auxílio Emergencial me ajudou. Meu namorado me ajudava também, senão não tinha nem como pagar o aluguel. Reabrimos o negócio, se não me engano, em junho ou julho. 

Graças à Deus,  ninguém da minha família pegou a Covid, e isso é o mais vitorioso. A pandemia afetou mesmo nos compromissos no dia-a-dia. Mas, estando com as coisas em dia, é outra coisa. Agora, se não estiver, você fica doida. Não sei se todos pensam igual a mim, mas eu penso assim. O que vale é você honrar os compromissos.

O governo não deixou de nos enviar os boletos de cobrança durante a pandemia

Nós ficamos aqui um tempão e o governo não deixou de nos enviar os boletos, e todos nós tínhamos que pagar e isso afetou muito. Não tivemos nem um mês em que não tivéssemos que pagar os impostos. Mesmo fechados, tivemos que pagar todos os meses e não deixar nenhum atrasar.

Apesar de tudo, a gente tem que pensar em dias melhores. Correr atrás, batalhar, para ver se vêm dias melhores, pois se ficar assim, a gente não consegue nada. Eu corri atrás de dias melhores, pedi a Deus para ver se melhora, porque a cada dia as coisas vão ficando mais difíceis. 

Se vamos ao mercado com R$50, a gente não volta nem com o real de troco mais. Pior: nem compramos o que a gente quer. Está mais difícil por isso. Com uma família de duas ou três pessoas em casa, é preciso saber se organizar, senão a gente passa dificuldades. Quando se é só, dá pra se virar. Mas, se duas pessoas em casa já é difícil, imagina uma família de treze filhos. 

Comecei a trabalhar em Brasília no mesmo ano em que cheguei

Meu nome é Cristina Maria Brito dos Santos, tenho 55 anos. Trabalho aqui na feira desde 1993, e moro no Recanto.  Sou do Maranhão.  Estou em Brasília desde 14 de julho de 1993. No mesmo ano em que cheguei,  comecei a trabalhar. E até hoje estou aqui.  Minha mãe mora no Maranhão com meus dois irmãos. No total, somos treze irmãos. Não sou a caçula,  mas sou a antepenúltima. Ainda têm mais dois depois de mim. Um irmão e uma irmã. Todos os dias converso com eles.

Nesse contexto, não consegui visitar a minha família, porque minha mãe é idosa, tem 93 anos, e a gente preferiu deixar passar um pouco de tempo para ir lá, por causa da Covid. Estou esperando, e agora neste mês de Janeiro quero ir, com fé em Deus. Vai fazer dois anos que não vou por conta da pandemia. Espero que esse negócio já tenha passado até lá. Ela é preferencial, então não tem nem como sair para ir pra lá. Eu preferi ficar, e também pela situação. Ficamos quase sete meses sem trabalhar e aí como é que viaja? Não tem nem como. Financeiramente, não tem nem como viajar.

Relato de Cristina Maria, produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

 

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60 anos ou mais Distrito Federal Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Homem Cis Idade Parda Raça/Cor

“Para viver aqui, só quem tem Deus, e com muita oração”

Relato de Lídio dos Santos, produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

Essa pandemia… eu vou lhe contar! Ela veio para arrasar com todo mundo, sem dó nem piedade. Para viver aqui, só quem tem Deus, e tem que ser na base da oração, porque a doença está matando mesmo!

Os empregos acabaram, não é verdade? Empresas falidas, fechadas. Então, agora, é na base de Deus. Quem tem Deus, tem vitória; quem não tem, chora. Ele tem cuidado de mim, e tem mesmo! E eu estou aqui, só alegria! A pandemia em nada me atingiu. Ainda bem. Nunca na minha vida tive qualquer doença, nem mesmo um resfriado. Tomei a primeira dose da vacina na segunda-feira e hoje vou tomar a terceira. Vou ficar mais jovem ainda. Mas, é joelho no chão e oração, porque é somente Deus. 

A pandemia fez todo mundo se precaver, se higienizar. Todo mundo, em geral, sem diferença de cor nem raça. Ou vai, ou racha! No mais, agora é com Deus, porque é o seguinte: se não for Deus, não temos outra saída. 

Meu nome é Lídio dos Santos, sou pastor, um novo covertido desde 1977. Que tal? Eu pretendo ir de Brasília direto para o céu, com a permissão de Deus. Nasci na Bahia, em Correntina, mas vim pra cá em 1970. Fui para São Paulo fazer alguns cursinhos, mas voltei para cá, me casei e aqui estou.

É preciso se apegar a Deus

A minha expectativa aqui é ampliar a minha lojinha, o prédio que Deus me deu, e alugar alguns imóveis. As pesssoas vêm aqui orar, a exemplo da irmã da Conceição, entre outras pessoas, que vêm me ajudar a orar. Aqui é só vaso! 

É uma boa expectativa, porque o pouco que a gente sabe fazer a gente dá valor. Importante saber o quanto pesa na balança. Porque se você tiver um gasto esbanjador, não fará mais. Quer dizer, se você pegar mil reais, então você: opa! Se você pegar cem reais, então você: opa, peraí! Porque você sabe a dificuldade de se conseguir dinheiro agora! Não tem dinheiro na praça, nem emprego. Agora é que estão abrindo, mas até chegar lá quantos anos mais? 

E para você que lê o meu relato: fique firme, sem titubear para qualquer lado, mas fique na fé, porque isso vai passar. E temos que tomar muito cuidado com a higienização. Esse vírus está passando, mas têm outros vindo por aí. Tenha cuidado, pois a sua saúde é muito importante. Sem saúde, você não é nada. Você pode não ter um tostão no bolso, mas se você tiver saúde,  você corre atrás. No mais, tem que se apegar a Deus. Se você se apega com Deus, de verdade, a coisa muda de figura. Mas sem Deus, ninguém é nada. Nada mesmo. 

Salmo 133: Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. 

Leia também: “Nesses momentos difíceis, Tupã tem nos ajudado”

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40 a 59 anos Branca Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Homem Cis Idade Pernambuco Raça/Cor

“Apesar de vacinado, sinto a minha vida em risco diante das novas variantes”

para falar do momento da vacinação, é necessário voltar no tempo. Ao acompanhar manchetes diárias com o anúncio de varias mortes, sentia dor e medo. Pois, era como jogatina macabra do desgoverno em dificultar a vacina à população. Sentíamos muita insegurança. Nosso direito à vida foi desrespeitado cruelmente. Inicialmente, não sabia se seria vacinado. Então, sofri uma angustia muito forte.

Porém, chegou o dia 1º de junho e recebi minha primeira dose, o que me fez sentir fortalecido, aumentando a minha confiança. Mesmo assim, antes da insegurança do acesso à 2ª dose, a tortura mesmo reduzida perdurou até o dia 01/09/2021.

Hoje, mesmo imunizado, continuo inseguro. É que anunciam novas variantes, falam agora da Variante Mu, que apareceu na Colômbia e Equador.

Na foto, é possível ver o cartão de vacina de Ângelo Bueno com as duas doses contra a Covid-19. Imagem acompanha o relato Sinto a Minha Vida em Risco Diante das Novas Variantes, para a Memória Popular da Pandemia.

Um pouco da minha história

A região onde eu nasci fica a uma hora e meia da capital de São Paulo, a oito horas de Belo Horizonte e cinco horas do Rio de Janeiro, entre as Serras da Mantiqueira e a Serra do Mar. Se você subir, em duas horas chega ao Sul de Minas Gerais. Se você descer, em uma hora e meia, chega ao Mar. Foi ali onde nasci, no Vale do Rio Paraíba do Sul, em Jacareí – SP.

Na adolescência ingressei nas produções artísticas, jogos e poesias. Participei com Doni, um dos meus irmãos. Em algumas peças teatrais ensaiamos um som para um festival estudantil.

Com uma letra, um refrão (Cabeça, cabeça quero falar, Cabeça quero dizer o meu pensar de cabeça iê), talvez nessa ingênua frase, tenha surgido o sonho de ser escutado, clamando a metamorfose da sociedade, sonhando com a revolução popular democrática de direito.

Em 1982, me aproximo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Foi então, quando comei a me relacionar com povos indígenas e comunidades tradicionais. Por intermédio de Jussara e Alberto Capucci, fui apresentado ao regional Sul , iniciando minha inserção, passando um longo período em estágio em Xanxerê SC, Diocese de Chapecó. Nessa época, pude vivenciar aspectos da vida cotidiana na região e conviver com a representação dos agricultores rurais, cooperativas e membros do Movimento Sem Terra.

Vida de aprendizados

Conhecer Pernambuco com essas diversas vivências, urbanas, rurais, dentro dos territórios indígenas, me fez delirar e acreditar, que só por Deus mesmo, os Santos e Encantos, com todos os Orixás e a graça da Mãe Jurema, torna-se possível resistir às imposições do mundo, das oligarquias, do corporativismo das instituições de representação do estado.

Desta forma, o Nordeste me acolhia, me fazendo anestesiar dores, demonstrando novos caminhos, me permitindo reconstruir Ângelo Bueno à Babau e Outros 50.

Ainda assim, vivemos sob o regime das capitanias hereditárias. Famílias se entrelaçam no revezamento mantendo-se no poder, por isso é importante cada palmo de terra, cada fazenda retomada, modificar os mapas, revisar leituras geográficas.

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40 a 59 anos Branca Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Raça/Cor Santa Catarina

“A vacina é uma esperança, uma luz no fim do túnel”

Estou imunizada! O dia de receber a minha vacina chegou e quero relatar a minha experiência aqui na Memória Popular da Pandemia. Recebi as 2 doses, eu e meu esposo. Para mim, a vacinação foi uma esperança, e a minha vez foi muito tranquila.

Moro no interior de Guatambu, em Santa Catarina. É um município pequeno, com população estimada em 4.692 habitantes, segundo a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, não enfrentei fila. E, como sou hipertensa, me vacinei antes da maioria dos brasileiros.

A Unidade Básica de Saúde (UBS) onde fui vacinada fica a 3 km de minha casa. Fui sozinha de carro próprio. Chegando lá, me deparei com várias pessoas aguardando tão esperada hora. Mas não chegou a fazer fila, pois havia duas profissionais da saúde vacinando. A emoção era visível no olhar de cada pessoa que estava lá. A vacina é uma esperança, uma luz no fim do túnel.

Em foto, é possível ver Ana Maria Brighenti de máscara e sentada em uma cadeira. Ao seu lado está uma enfermeira de pé aplicando vacina no braço. O olhar de Ana Maria está focado na aplicação da vacina. Foto acompanha o relato “A vacina é uma esperança, uma luz no fim do túnel” da Memória Popular da Pandemia.
Eu recebendo a vacina

A enfermeira que me atendeu foi uma pessoa muito querida, atenciosa e muito profissional. Viva o SUS!

Em 28 dias recebi a segunda dose e não senti nada. Eu fui imunizada com a CoronaVac e não tive reações. Já o meu esposo recebeu a AstraZeneca e teve muita reação: calafrios, dores no corpo, dor de cabeça e náuseas. Tudo isso por dois dias. Enfim, o mais importante é que estamos imunizados. Enquanto isso, alguns familiares seguem aguardando a segunda dose.

“Tive muito medo por minha família”

No início da pandemia fiquei muito apavorada, como todo mundo ficou, pensei que não sobreviveria. Meu medo era também por meus familiares, principalmente por minha netinha que tinha acabado de nascer, estava com 4 meses. Passei muitos dias agoniada, sem dormir e chorando muito.

Em foto, é possível ver os rostos de Ana Maria Brighenti, sua filha e sua neta sorrindo alegremente. Foto acompanha o relato “A vacina é uma esperança, uma luz no fim do túnel” da Memória Popular da Pandemia.
Na foto: eu, minha netinha e minha filha.

Faço parte do chamado grupo de risco, sou hipertensa. Minha filha também é do grupo de risco, fez bariátrica, então meu medo era maior ainda. Seguimos todos os protocolos de cuidados, mas, mesmo assim, o que eu temia aconteceu.

Em foto, é possível ver os rostos da filha, genro e neta de Ana Maria Brighenti. Ao fundo há uma praia. Foto acompanha o relato “A vacina é uma esperança, uma luz no fim do túnel” da Memória Popular da Pandemia.
Neta, filha e genro

Minha filha e meu genro se contaminaram e minha filha estava amamentando a bebê. Isso foi em fevereiro deste ano, 1 ano após o início oficial da pandemia no Brasil. Foram duas semanas terríveis, eu longe delas sem poder ajudar, me sentindo impotente, amarrada. Ela não foi hospitalizada, porque não tinha vaga nos hospitais e uma internação só ocorreria em último caso. Graças a Deus, o pior passou, mas, até hoje, ela sofre algumas sequelas: como tristeza, desânimo, irritabilidade e cansaço.

“Minha irmã faleceu de Covid-19 antes de receber a vacina”

Em junho deste ano, a pior experiência da pandemia aconteceu na nossa família. Perdi uma irmã de 58 anos e que não tinha nenhuma comorbidade. Digo isso diante da falácia de que só morre de Covid-19 quem já sofre de alguma doença. Não teve tempo para ela receber a vacina. Foram duas semanas de internação, sendo que por 4 dias ela ficou na UTI intubada. Só quem passa sabe a dor terrível de perder uma pessoa querida sem ao menos se despedir. ?

Em foto, é possível ver a irmã de Ana Maria Brighenti abraçada com um neto. Os dois sorriem sentados em um sofá. Foto acompanha o relato “A vacina é uma esperança, uma luz no fim do túnel” da Memória Popular da Pandemia.
Minha irmã com um dos netos

Durante a minha vacinação, senti um misto de emoções: alegria por estar recebendo uma dose de esperança, de vida, mas, ao mesmo tempo, tristeza por minha irmã não ter tido tempo de ser vacinada.

O conselho que dou às pessoas que estão aptas a se vacinarem é: não percam tempo. Muitos não puderam viver esse momento.

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Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Mulher Cis Prta Raça/Cor Rio de Janeiro

“Situação de pobreza extrema na comunidade de Xangrilá”

Durante a primeira onda da pandemia, descobrimos que as pessoas estavam vivendo em pobreza extrema. Então, nos reunimos na comunidade de Xangrilá e eu pude dar uma contribuição pouca, porque Graças a Deus, permaneci trabalhando. Diferente de muitos colegas, não fiquei desempregada. Deparei-me com várias pessoas, famílias, pais de famílias, todos desempregados e necessitando de uma ajuda financeira ou do governo.

Com o pouco recurso que tínhamos, conseguimos ajudar as pessoas com cestas básicas, que foram muito bem vindas. As pessoas ficaram muito gratas. Com um breve relato que elas fizeram, pudemos perceber que as pessoas ficaram sem chão, sem saída, durante esse período.

Pessoas que tinham um emprego formal e hoje se depararam com uma situação tão difícil. Ontem, não havia nem comida.

Mesmo com o auxílio emergencial, as pessoas não conseguiram se manter. O valor do auxílio de 600,00 foi muito pouco. Com poucos recursos, conseguimos atender pelo menos um pouco na alimentação, pois o principal também é a pessoa estar bem, bem alimentada.

A gente percebeu que as pessoas estavam passando necessidade, em pobreza extrema.

Algumas pessoas choravam, e a gente estava aqui, tentando ajudar, de uma forma ou de outra. A gente fez de todo coração esse trabalho. E foram chegando cestas básicas. Mas agora, infelizmente, a gente não tem mais como ajudar as pessoas nessa parte da alimentação. E como a pandemia ainda não acabou, praticamente 90% das pessoas daqui ainda estão sem emprego formal, muitos estão correndo atrás de trabalhar na rua para tirar alguma forma de sustento.

Pedido

Quem puder ajudar, as cestas básicas serão muito bem-vindas novamente, porque a gente tá precisando muito. Quem puder, fique em casa E quem estiver trabalhando, segure o seu trabalho, porque a gente não sabe como será o ano de 2021. Eu acredito que vai ficar um pouco pior, mas a gente tá aí para poder ajudar, na maneira que for possível, e da forma que for necessária.

São mais de 900 famílias nas redondezas de Xangrilá. Imagine o que o nosso povo não está passando nessa situação de pandemia! Tomara que a vacina seja eficaz para podermos nos reerguer, não dependendo do governo, porque o governo de hoje não está aí para ajudar o povo.

Meu nome é Jaqueline de Almeida, sou moradora de Xangrilá.

Veja mais: “Precisamos de cestas básicas durante a Pandemia”

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60 anos ou mais Bahia Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Prta Raça/Cor

“Empatia: cuidando do outro estamos ajudando a nós mesmos”

Eu sou uma pessoa que ama a vida, tenho empatia e acredito que eu vim com uma missão. Me chamo Iara, e este nome é dado às mães. Então, eu acredito que vim para cuidar das pessoas. Muitos me chamam de altruísta, mas altruísta ou não, eu sei que vim com uma missão.

Durante esse processo que está acontecendo com toda a humanidade, muita coisa mexeu comigo. Nós, seres humanos, temos o compromisso, um com o outro, de cuidar do outro, em todos os aspectos e ter empatia. Muitas pessoas tiveram surtos e acredito que deveriam disponibilizar psicólogos e terapeutas para mostrar os cuidados e como lidar com a pandemia.

E sabendo que nós somos produto do meio, temos também de nos adaptar, principalmente na questão da higiene, pois nossas vidas foram fortemente impactadas. Eu me coloquei na posição de ajudar. Coloquei à disposição o meu número de telefone para que as pessoas possam entrar em contato comigo para conversar. Já cheguei ao ponto de ter que chamar uma moto ou um carro para providenciar os medicamentos necessários para pessoas doentes, porque elas não teriam como comprá-los.

Porque devemos ter empatia

A gente precisa fazer alguma coisa pelo outro. E essa questão das pessoas dizerem que não tem ajuda governamental não interessa, pois o mais importante é que a gente possa fazer algo pelo outro, independente de termos ajuda. E se dividirmos o que temos, a gente vai viver bem melhor. Pois esta pandemia veio justamente em um momento em que as pessoas estavam extremamente desgarradas. É como se tivesse perdido o amor um pelo outro.

Essa situação ao mesmo tempo tem unido as pessoas, que estão dando mais atenção a quem está na rua com fome, a quem está nu, a quem está precisando de medicamentos. Estamos fazendo muito e eu quero continuar fazendo a minha parte, porque isso é com Deus.

A partir do momento que estamos ajudando o próximo, estamos ajudando a nós mesmos. Eu, mesmo apresentando problemas de saúde (tenho 10 parafusos em minha coluna), não me sinto impedida de pensar que existem problemas maiores lá fora, muito maiores que os meus. Precisei até acolher pessoas de outros países em minha casa que estavam sendo escravizadas. Enfim, uma série de problemas. Pessoas que vieram do interior, com parentes aqui internados e que não tinham onde ficar, e eu acolhi.

Ajudar nunca é demais

E é assim: a gente toma conta da gente e toma conta do outro. A gente faz o que tem que ser feito é não ter e tem que ter para dar. Ajuda nunca é demais, e o que a gente precisa fazer de melhor é isso, é
olhar o outro como um todo, estando no lugar dele. É você ter estar ao lado de fora de um hospital com um paciente lá dentro e não poder entrar, mas ter alguém para lhe dizer: “olhe, eu estou aqui”.

Eu faço isso mas não quero nada em troca. Estou fazendo isso porque é de mim, é minha índole, e espero que isso tenha sido de grande valia.

Para finalizar, que isso não se mantenha apenas durante a pandemia, pois nossa vida já foi modificada. A partir do momento em que tudo isso mudou a nossa vida, a gente também precisa mudar. Mudar nossos conceitos errôneos em pensar em não ajudar para não virar um circulo vicioso. Não, se a gente tem roupas nós oferecemos roupas; se a gente tem alimentos, a gente vai oferecer alimentos, e assim sucessivamente porque a vida vai continuar.

E nós estaremos diferente por ter sofrido essas agressões, mas temos que cuidar. E a palavra de ordem é gratidão, empatia e e cuidado. A partir do momento que acende uma luz, eu estou iluminando o meu próprio caminho.

Eu sou de Logun Edé, espiritualista ecumênica oriunda do candomblé da nação Angola e com raízes na Casa Branca, sou neta de Julieta Alves de Oxum, ladê Durvalina da Anunciação de Oxóssi. 

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Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Mulher Cis Prta Raça/Cor Rio de Janeiro

“Ajudem o próximo, tem muita gente passando dificuldade”

Da forma que a gente pode, precisamos ajudar o próximo durante a pandemia da Covid-19, pois são muitos os necessitados. Eu faço parte de um movimento de moradia e ,durante os últimos meses, conseguimos ajudar cerca de novecentas famílias.

Por isso, gostaria de dizer a vocês que ajudem o seu próximo. Então, procure saber das pessoas que precisam de ajuda e doem o seu melhor. Nesses tempos é preciso nos unir para o bem de todes. Por fim, usem máscara e evitem aglomerações.

Leia mais: “Precisamos de cestas básicas durante a pandemia”

Imagem colorida de mães de pessoas puxando uma corda juntas para o relato sobre ajudar gente durante a pandemia.

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25 a 39 anos Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Trans Prta Raça/Cor São Paulo

“Eu sou Patrícia e escrevi um poema: transcender”

Transcender

(Patricia Borges e Simone Ricco)

Decretada pan pan pandemia

caos total

março, mar de contratos cancelados

trans e travestis cheios de boletos para pagar isolados, confinados e tendo que se reinventar corpos dissidentes à margem,

mais vulneráveis em tempos de máscaras e covardia desmascarada

Como não sair de casa com aluguel pra pagar? Tendo que se alimentar?

O vírus pode ser mortal, com a fome é igual

O corpo que tem fome também é o ganha pão… Se a transfobia não fosse uma epidemia

Seria mais fácil ter profissão

Pra muites de nós foi assim

No tempo de estudar, viramos professores de nós mesmes

Caímos no mundo, correndo atrás do pão, e da sobrevivência, de cada dia A sociedade normativa sempre usou máscara

Pra disfarçar seu preconceito,

Para nos desqualificar rótula

Diz que sou mulher de pau,

Faz piada e pra dar uma disfarçada na própria libertinagem

“Homens de bem” agindo do modo mais boçal,

Nos empurram para a clandestinidade

Satisfazem seu prazer no mundo clandestino

Alimentam com miséria as putas baratas

Violentos, cheios de selvageria, nos querem sem direitos e cidadania Tiram a poesia dos nossos dias

Vou além dessa condição marginalizada

Tô sempre no confronto com a negação

Desta sociedade trabalhada no bons costumes machistas

que não respeita opinião diferente,

destrata trans, artista, preto e tudo que diz ser diferente

Trans forma preconceito em piada

E faz adoecer, sofrer e morrer por conta da vida precarizada

Por ser quem é…

 Tenho muitos motivos para lamentar e lutar Vivo lutos, mas tenho lutado pra ser trans poeta A literatura, na pademia e todos os dias

Repõe poesia na vida dura

Escrevo com alguma inspiração

E com muito desejo de reparação.

Meu nome é Patricia Borges, sou mulher transexual travesti. Sou ativista da Causa Trans e Travesti. Luto para que o Brasil seja igualitário para nosso corpos. Sociedade, pare de nós matar!

Leia mais: “Tenho entendido cada vez mais que gênero não é apenas uma performance”

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60 anos ou mais Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Homem Cis Prta Raça/Cor São Paulo

“Estamos sobrevivendo de doações das caixinhas da escola do meu filho”

Sou antifascista e atualmente estou sobrevivendo à crise do isolamento social ao lado de meu filho de 6 anos. Faço parte da Associação de Amigos e Familiares de Presos (Amparar), da Frente Estadual pelo Desencarceramento de São Paulo e Nacional.

A situação está muito difícil.

Estamos sobrevivendo de ajudas das caixinhas que colocamos nas escolas, entre elas a do meu filho. Além disso, para conseguir sobreviver, ofereço oficina cultural como freelancer, da Frente, da Amparar e de um podscat que falo sobre minha vida desde a infância. 

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25 a 39 anos Ensino Médio Completo Escolaridade Estado Gênero Homem Cis Idade Prta Raça/Cor Rio de Janeiro

“A gente foi se adaptando a novos hábitos durante a pandemia”

Foi muito difícil me armar nessa pandemia aí em que vivemos. Pensei tanta coisa, inclusive que a qualquer momento ficaria doente. Pensei em meus filhos aqui em casa. Pelo menos deu para trabalhar, caí para dentro das entregas, e trampei de entregador em uma pizzaria.

O que vinha para entrega, tava agarrando. Fiquei desesperado, tenho três filhos em casa. Não sabe se vai ter trabalho, tava tudo fechado, no começo ficou com pique de que ia fechar, não ia ter nada…

Enfim, foi aquilo, fui me adaptando, me preveni, passo bastante álcool em gel na mão, lavo bem as mãos, deixo sempre o sapato fora de casa. Fazendo coisas assim que a gente não fazia todos os dias, agora tem que se adaptar a esses hábitos, pois tenho três filhos em casa. São dias difíceis e não desejo isso para ninguém. 

Muita gente morreu. Alguns familiares, alguns amigos, pegaram essa parada aí. Momentos assim são assustadores mesmo. Mas agora está dando para controlar, tem trabalho ainda, né? Tomara que agora não feche tudo de novo. Tomara que não venha o pior, que até então tá dando para levar.

Mas tem muita gente morrendo ainda. Tem que se prevenir nessa pandemia, tem que se cuidar, lavar bem as mãos. Toda hora. Tem que ser chato mesmo, toda hora tem que estar vendo as crianças, limpando eles, limpando as coisas com álcool, lavando bem o chão, nunca entrar em casa direto da rua com os sapatos. É assim, novos hábitos de viver. Novas coisas.

A gente foi se adaptando aí.