“Durante o isolamento, vi o quanto o ser humano é importante”

Foto em preto e branco do rosto de Cláudia Feltrin acompanha relato da Memória Popular da Pandemia sobre isolamento

Memória de Claudia Feltrin

Acampamento Herdeiros da Luta - Porecatú, PR
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Quando chegou essa pandemia, foi uma relação de todos nós, do mundo todo, acabamos nos afastando, e durante o isolamento vi o quanto o ser humano é importante. Pois em nossa vida, o que é importante é ser solidário. Se um estiver caindo, segurar pela mão, é repartir o pouco que temos para conseguirmos ter uma boa vivência.

A pandemia chegou e rompeu a antiga dedicação de promover eventos durante doze anos. A nossa luta da Reforma Agrária ensinou sobre a transformação da sociedade. Ensinou a ir atrás de nossos objetivos, ser humilde com as pessoas, lutar por igualdade para todos e a ser uma família.

Nossa vivência ficou muito restrita, pois estamos no isolamento para proteger os nossos. Porque para nós, o ser humano, está em primeiro lugar. Nós que estamos acampados temos uma vivência muito perto e muito unida. Se um vizinho tivesse uma dor de cabeça, nós também a sentíamos, pois isso a Reforma Agrária ensinou a nós. O espaço onde vivemos ensinou que nós temos que sentir a mesma dor, pois nós estamos acampados atrás dos mesmo objetivos.

Convivência x Isolamento

Antes do isolamento, tínhamos um calendário de nosso convívio em nosso espaço social. Nos somávamos com outras comunidades aos sábados para um Bingo. Todas as famílias estavam presentes neste mesmo espaço, onde nós mesmo construímos, onde nós mesmos fizemos a doação de nossas prendas. Então era uma relação de harmonia com as famílias.

Após a pandemia, quebrou tudo isso. Nós não conseguimos fazer a festa junina, nós não conseguimos fazer uma formatura para nossos filhos. Várias coisas se perderam durante esse período.

Então para as mulheres foi muito mais difícil, pois acabaram sendo mães, pais, professoras (para ajudar seus filhos a ter um estudo digno). Mas não temos esta formação, e não estávamos preparadas para isso.

Então, neste período, somos muito mais forte do que ser mãe, do que ser só mulher, do que ser só militante desta organização. Procuramos ter mais habilidades, ser mais amorosas, mais dedicadas, ser forte, guerreira de verdade, para atravessar este momento… Ajudar na produção alimentar da casa, e para a grande doação de alimentos até mesmo para cidades, temos que ser ser humanas, e nos fortalecer ainda mais. Pois a pandemia mostrou a carência que um vizinho, por exemplo, tem. E essa pandemia veio para mostrar isso.

Sou Cláudia, estou acampada no Acampamento Herdeiros da Luta de Porecatú, da região Norte do Paraná. Há 12 anos estamos nesta área ocupada por 250 famílias.

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