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40 a 59 anos Distrito Federal Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Pós-Graduação Completa Prta Raça/Cor

“Desenvolvi um projeto de alfabetização para mulheres vítimas de violência”

Relato produzido pela Organização Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

Trabalho na Associação das Mulheres de Sobradinho II, onde são atendidas várias mulheres de diversas faixas etárias. Trabalhamos com vítimas de violência domestica, especificamente, mas também atuamos com ações sociais, de assistência. Não o assistencialismo, porque a gente vem com o viés multidisciplinar. Então, nós prestamos assistência às mulheres, totalmente como pessoas voluntárias. Nós temos consultoria jurídica, nutricionistas, psicólogos, psicoterapeutas, e também professores. Eu sou uma delas.  

Sou professora da Secretaria da Educação. Aposentei-me, mas descobri durante a minha aposentadoria que terei de fazer outras atividades. Então, encontrei na Associação das Mulheres um momento que me ajudou na pandemia. Sou da parte social, oferecemos palestras, palestras temáticas voltadas para mulheres, meninas e mulheres idosas.

Essa vivência trouxe à tona o fato de algumas mulheres serem analfabetas. Comecei a pensar em atender essa demanda, que estava realmente invisível dentro da Associação. Enxergamos essa situação a partir da observação de como elas se comportavam, do receio até mesmo de assinar a lista de frequência. Isso despertou o meu olhar. Surgiu dessa observação, a ideia de desenvolver o projeto Brincando com as Letras e Contando Historias. Dessa forma, eu parto da vivência dessas mulheres para trabalhar a alfabetização.  

Tivemos um trabalho intenso na pandemia, porque as mulheres estudavam para obter, presencialmente, a formação de manicure, maquiagem, fotografia e gastronomia que a gente faz. Trata-se de um trabalho em rede com parcerias, por isso, a gente busca também o apoio de Organizações Não Governamentais do Distrito Federal. As mulheres tiveram, de uma hora para a outra, que se ausentar da Associação por um determinado tempo, porque aqui não poderiam ser atendidas, porque paramos por duas semanas para buscar alternativas para a permanência do nosso trabalho.

Durante a pandemia, pedimos o uso externo da associação para que nós não atendêssemos aqui dentro, no espaço fechado, para evitar aglomeração. Dessa forma, começamos a atender em rodas de conversas, utilizando o espaço da guarda mirim, que fica ao lado da associação. 

Mulheres faltavam ao encontro, por sofrerem violência doméstica

Logo, as mulheres que faziam parte dos encontras levaram a informação para outras mulheres. A notícia de que a gente tinha voltado ecoou nos quatro cantos e nem foi mais necessário ligar para elas. Estamos juntas todas as quartas-feiras em nosso “encontrão”. E, a partir desse momento, às quartas-feiras, a gente percebeu que muitas delas, além de depressão, estavam sofrendo abusos e outras violências.

Muitas sofriam violência psicológica, devido ao confinamento, à baixa renda, à extrema pobreza. A situação era de vulnerabilidade, tanto econômica quanto física. A gente começou fazendo alguns estudos de caso e percebemos que muitas delas quase não estavam vindo, porque haviam sofrido violência doméstica.

Atendemos casos em que tivemos que fazer uma interferência, porque a gente trabalha em rede junto com o Centro de Referência em Assistência Social (Cras), Conselho Tutelar, Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), Secretaria da Mulher e todos os seus equipamentos. Também trabalhamos com as delegacias 13ª e 35ª, que atende toda região de Sobradinho II e toda parte de condomínios, porque a violência não está presente só na classe social baixa, mas em todos os espaços. 

O conhecimento dá condições ao indivíduo de enxergar a vida de outras formas

A transformação na vida das pessoas demora a vir, mas alguém tem que começar a fazer alguma coisa para que essas mulheres deixem de ser violentadas e mortas todos os dias. Encontramos, na escola, um espaço ideal pra levar isso à frente e dizer para essas meninas que elas podem, sim, transformar suas próprias vidas. É um trabalho corpo a corpo. No entanto, a gente deixou de trabalhar a questão do assistencialismo. Não somos mais uma associação pensada em assistencialismo, mas pensamos na assistência do ser humano em todos os sentidos.  

Durante a pandemia, nós percebemos que houve uma demanda crescente em relação à atenção e atendimento. E, particularmente falando da minha vida como professora que atuou durante 30 anos na Secretaria de Educação, digo que, para mim, este momento é impar, singular, porque tenho aprendido muito. Tenho dez alunos e, durante o trabalho como professora, me identifico demais, porque as nossas histórias são muito parecidas. Não no que diz respeito ao conhecimento acadêmico, mas são muito parecidas na vivência, na origem, nordestinos, pais autoritários, patriarcalismo evidente, em que o bater é a solução.

Assim, me identifiquei demais. Parto do princípio da vivência deles e, pra mim, a pandemia trouxe a oportunidade de aprender mais, de buscar mais conhecimentos e isso fez com que eu abrisse meus olhos, pois é um aprendizado pra mim. Expectativas daqui pra frente, em relação a essas mulheres, é que elas tenham acesso ao conhecimento. Conhecimento é tudo. Conhecimento é dar ao individuo a capacidade de discernir o que é acerto, o que não é, dar condições ao individuo de enxergar a vida de outras formas, abrir a janela, conceder outros olhares. Por isso, a gente transforma essas mulheres, acreditando no conhecimento que elas estão adquirindo. E isso elas levarão para o filho, o neto. Enfim, a gente acredita que é chegando na família que a gente vai fazer uma transformação social.  

Relato de Edvalda Paixão, produzido pela associação Olívia Gama para o 2º Edital de Fomento da Memória Popular da Pandemia

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25 a 39 anos Ensino Médio Incompleto Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Prta Raça/Cor Rondônia

“Todas as pessoas do meu quilombo estão vacinadas!”

Graças ao divino Espírito Santo inventaram a vacina e todas as pessoas do meu quilombo estão vacinadas. Não via a hora de tomar a vacina, pois nela eu tinha a esperança do fim da pandemia. Hoje, estou vacinada com as primeira e segunda doses, graças a Deus.

Não tivemos problemas para a vacina chegar até a nossa Comunidade Quilombola do Forte Príncipe da Beira, com exceção do meio de transporte para cidade mais próxima, a Costa Marquês. Porém, no meu quilombo, tem um quartel do exército com atendimento médico e, em caso de emergência, acabavam levando as pessoas nas viaturas para a cidade.

Somos uma comunidade pequena, no entanto, muito unida. Lutamos juntos pelos direitos do nosso quilombo.

Na foto, é possível ver Nucicleide da Paz dentro de casa mostrando cartão que comprova o recebimento da vacina contra a Covid-19.  Imagem acompanha o relato: "Todas as pessoas do meu quilombo estão vacinadas!"
Nucicleide da Paz apresenta comprovante do recebimento da vacina contra a Covid-19

Com a chegada da pandemia, as crianças ficaram sem estudar. Os pequenos não podiam sair de casa. E o medo da infecção é uma das coisas mais ruins trazidas pela Covid-19. Tivemos que aprender e a lidar com a doença, que mostrou que para morrer infectado é indiferente ser rico, pobre, negro ou branco.

Acredito que aprendemos amar, ter mais respeito e compreensão com o próximo, pois não sabíamos o que seria do amanhã.

Não há mais casos de Covid no meu quilombo

Não há nenhum caso de Covid-19 na minha comunidade e, graças a Deus, não faleceu ninguém por causa dessa doença. No entanto, o período de pandemia pra mim foi muito difícil. Tive depressão e não saia de casa. Por outro lado, nos unimos ainda mais na minha comunidade.

Não perdi ninguém da minha família. Todavia, a minha mãe pegou Covid-19. Ela tem 54 anos. Cheguei a pensar que a perderia para essa doença, pois ela ficou muito mal. Então, pedi proteção ao senhor divino Espirito Santo e redobrei os cuidados com ela. Ainda bem, não fui infectada.

Por fim, a minha amada mãe se recuperou, está vacinada e muito bem de saúde. Deixo aqui o meu conselho a você que lerá o meu relato: vacine-se. Não esqueça a segunda dose nem a de reforço. A pandemia ainda não acabou, e precisamos unir forças para que esse período termine logo e possamos voltar à normalidade.

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40 a 59 anos Bahia Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Prta Raça/Cor

“Recebemos conselhos dos orixás para silenciar os atabaques do candomblé”

O candomblé é uma religião de muita proximidade. Diferente das outras religiões que tiveram um protocolo especial para a realização de cultos, nós do candomblé não tivemos. Porque os nossos cultos são diferentes dos demais segmentos religiosos.

É que nós temos em nossas celebrações o toque dos atabaques. As três pessoas que tocam os atabaques se chamam “Ogãs”, “Alabês”. Elas precisam ficar juntas e ainda que estivessem usando máscara estariam colocando suas vidas em risco.

Por outro lado, também recebemos conselhos dos orixás para que os atabaques silenciassem. Também, nessa circunstância de pandemia, temos reverenciado o orixá Obaluaê, considerado o nosso médico. É Ele quem afasta as doenças do nosso caminho. A saudação para esse orixá é “atotô”, que significa silêncio.

E esse é um momento tão difícil, de tantas perdas. Já perdemos mais de 160 mil vidas (até novembro de 2020). São muitas pessoas retornando ao Orum.

Logo, nesse momento pandêmico não podemos entoar as nossas cantigas, tocar os nossos atabaques, mas dobramos os nossos joelhos no chão para pedir misericórdia aos nossos orixás e especialmente ao Pai Obaluaê, à Mae Nanã e ao Pai Ossaim, para que os cientistas desenvolvam logo a vacina para devolver as nossas rotinas.

Cuidado

Quando vou ao terreiro Ilê Axé Olodumare chamo três ou quatro filhas de santo, porque precisamos manter o Axé vivo. Por exemplo: precisamos colocar água nas quartinhas e dar orô, comida para os nossos orixás. Além disso, limpamos tudo, acendemos nossas velas e fazemos nossas preces e orações.

Também não somos à favor de iniciar pessoas nesse período tão delicado.

Por fim, gostaria de pedir a você que não esqueça as palavras de ordem para essa pandemia são: paciência e sabedoria. Seja qual for o seu segmento religioso, abrace ele. Faça suas orações todos os dias. Conecte-se com essa força. Até você que é agnóstico ou ateu, conecte-se a alguma coisa para se fortalecer. Covid-19 não poderá, nunca, ser maior que as energias que regem o universo.

Sou Ìyalọríṣá do Ìlè Àse Ewa Olódùmarè; Conselheira Municipal de Política Cultural de Salvador; Ocupo a cadeira de religiosa do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Nutrição da UFBA; Faço parte do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 nas Comunidades de Religião de Matriz Africana; Sou da Rede de Mulheres de Terreiro da Bahia e ativista contra Intolerância, Racismo e Ódio Religiosos.

Veja também: “Nesses momentos difíceis, Tupã tem nos ajudado”

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25 a 39 anos Ensino Superior Completo Escolaridade Estado Gênero Idade Minas Gerais Mulher Cis Prta Raça/Cor

“Noventa por cento dos profissionais de aviação foram afastados”

Meu nome é Laiara Amorim. Trabalho no setor de aviação, como comissária de voo e sou graduanda em pilotagem de voo. A pandemia me afetou de diferentes formas em diferentes etapas. Este ano eu fui contemplada através de um programa de aceleração de lideranças negras e este programa consiste em acelerar minha formação como pilota. Por conta da pandemia, eu não pude cumprir minhas horas de voo e, com isso, não foi possível desenvolver o que estava previsto no programa. 

Afetou também o meu trabalho, porque a aviação ficou totalmente parada durante um período, pelo motivo de ser um ambiente confinado, pelo fato de ser um espaço muito pequeno e as pessoas ficarem muito próximas umas das outras. E o transporte está paralisado, as pessoas não estão viajando pelo medo da contaminação e pelas recomendações da agência se saúde. 

Com isso, a aviação foi muito afetada. Noventa por cento dos profissionais foram afastados, e, em algumas empresas, grande parte do quadro de funcionários foi demitido. Houve desligamentos de colegas, e eu mesma fiquei afastada do meu trabalho por seis meses. Estou retornando agora. Era um afastamento não remunerado, então a pessoa tinha que sair do trabalho e criar outras formas de subsistência. 

Novas oportunidades no setor de aviação

Em contrapartida, tive a oportunidade de trabalhar em uma companhia aérea executiva, que trabalhava com transporte de pessoas durante a pandemia, que poderiam ser pessoas infectadas ou não, e que na aviação a gente chamava de Aeromed, que era o transporte de vítimas em estado grave para outros estados para que pudessem ter o devido atendimento, bem como os familiares destas pessoas.

Então foi uma oportunidade que tive em decorrência desta pandemia, e que acrescentou muito em meu currículo, acrescentou em meu conhecimento, pois é uma parte da aviação que não conhecia, que é a parte médica. Então teve dois pontos. O ponto negativo foi ver a aviação comercial parar, ver amigos sendo demitidos, ter este afastamento, o que me gerou certa ansiedade, porque até então não sabia como me manter. 

O outro ponto foi ter o ensejo de trabalhar em outra companhia, aprendendo outra parte da aviação que não conhecia. A pandemia afetou fortemente o turismo, o que ocasionou também pré crescimento econômico, o comércio, os lugares, os hotéis, para os pequenos empreendedores também, que trabalham em feiras, qie vivem desse turismo. Então afetou de diversas formas. 

Máscara e álcool

O turismo movimenta o nosso país de diversas formas. Eu desejo que neste momento, as coisas vão retomando aos poucos, e quem tem que viajar, que viaje, que vão encontrar seus pares, sua família, que vão encontrar seus amores, que viajem, mas que mantenham sempre o cuidado, que usem máscaras, álcool, e que continuem se cuidando para que o virus não possa retomar essa segunda onda em outtos países nao venham nos atingir. 

E que o cenário seja o melhor possível para o turismo, pois movimentando o turismo, conseguimos movimentar todas as outras áreas se nosso país. Turismo é cultura e, para certos lugares, a gente só consegue ir de avião. Por isso, desejo essa melhora para que possamos voltar e enegrecer esse céu aí.

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25 a 39 anos Bahia Ensino Superior Incompleto Escolaridade Estado Gênero Homem trans Idade Prta Raça/Cor

“Foi expulsa de casa por ser uma pessoa vivendo com HIV”

Apresento a vocês, Robnete, pessoa vivendo com HIV e em situação de rua há mais de 20 anos. Uma sujeita alegre, humana, espontânea e de identidade indefinida, como a mesma costuma / costumava afirmar!

Um dia Robson, outro dia Robnete, a boa, como ela mesma costumava dizer. Nós sempre tratamos Robnete no feminino por perceber que era a forma como ela gostava de ser chamada.

Robnete, pessoa vivendo com HIV e em situação de rua há mais de 20 anos. Foto: Casa Aurora.

Robnete, com 40 anos ou um pouco mais, saiu de casa, ou melhor, foi expulsa de casa por ser uma pessoa vivendo com HIV. Na época do resultado, seus progenitores a colocaram para fora por achar que era algo contagioso só em dividir um talher.

Falta de acesso? Preconceito? Um pouco dos dois? Não sabemos ao certo, só que Rob era tão incrível… onde chegava brilhava. Sobrevivia de reciclagem, tomava umas para aquecer o corpo e ia sempre na Casa Aurora buscar leite e açúcar, dizia que era pra ficar forte para aguentar os anti retrovirais.

Acessos negados

Na pandemia, Robnete conseguiu o auxílio emergencial e alugou uma casinha, vinha de 15 em 15 dias nos dar notícias de vida, buscar comida e o que mais precisasse.

A ela foi negado o direito à moradia, à alimentação e outros direitos básicos. Tinha vergonha de andar suja, mas o coração estava sempre limpo e a alma transbordando alegrias. Como pode, não ter acesso algum e ter sempre um sorriso no rosto?

Na pandemia, Rob apareceu umas 4 vezes, tinha máscaras, mas como sobreviver na pandemia, estando em vulnerabilidade? Hoje, a esperança é que Robnete esteja viva, mas não sabemos do seu paradeiro há pouco mais de 5 meses. Então, perguntamos: a quem é permitido a vida, os acessos e a identidade? Por isso, a nossa principal questão é: em meio a pandemia, onde está Robnete?

Enfim, seguimos desejando que ela esteja viva e volte para nos dar sinal de vida, sorrindo e pedindo leite e açúcar para se manter forte. De uma coisa temos a certeza, para nós, Rob é uma pessoa de identidade, de alegria e sempre viva!

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40 a 59 anos Escolaridade Estado Gênero Idade Minas Gerais Mulher Cis Pós-Graduação Completa Prta Raça/Cor

“Para mim foi muito complicado manter o delivery”

Tive que readaptar meu negócio para o ramo de delivery, devido à necessidade de manter as despesas da empresa. No entanto, entendi que, ao contrário do que se diz da necessidade de transformação, nem sempre a gente vai se adaptar ou o negócio vai dar certo.

Antes da pandemia, oferecia serviços de gastronomia em praças públicas, trabalhava com serviços de catering para camarins, shows e eventos corporativos. Mas com a chegada do coronavírus, tudo isso foi modificado.

A pandemia me fez repensar outras formas de atuação, então dentro da gastronomia afro-brasileira. Então, passei a oferecer serviços de delivery. Mas no meu caso, por exemplo, foi muito complicado manter o delivery. Passou de uma questão financeira a uma questão pessoal e até mesmo de conseguir estar feliz com a minha atuação. Então, em um dado momento decidi não mais continuar com o delivery. Daí começaram a aparecer outras propostas de trabalhos corporativos, os quais têm me mantido hoje em dia.

Aprendizados

O lado transformador foi a possibilidade de poder transitar em outros meios. Porque quando se escreve um projeto para criar uma startup delimitamos um poucos os nichos e dentro do que eu tinha como projeto do ramo gastronômico não tinha delivery. Mas ao mesmo tempo percebi que minha proposta inicial era a que me fazia feliz e a empresa avançar.

Percebi mudanças pessoais também. Hoje vejo que nem tudo está sob controle. Enquanto mulher negra empreendedora percebo que é muito importanto pensar nos obstáculos, nas necessidades de transformação e acreditar na minha certeza, no meu sonho. Hoje creio muito mais em minha capacidade e naquilo que sempre escolhi para ter como ofício.

Aprendi também que nem tudo está sob controle. Especialmente para nós empreendedores. Saber que a qualquer momento uma transformação pode haver é um importante aprendizado. Dessa vez foi a pandemia. Nós, empreendedoras, estamos susceptíveis a mudanças.

Conselho à você, empreendedora

Esteja ancorada de alguma forma. Fique por dentro do que está acontecendo em seu mercado. Qualifique-se para quando acontecer algo imprevisível você possa ter, pelo menos, o mínimo de possibilidade de se manter. É importante ter um suporte financeiro, uma economia preparada para um momento de eventualidades. E nunca deixe de acreditar no seu sonho. Tenha certeza do que você quer e mesmo que o caminho o qual você tenha traçado tenha sofrido algum desvio, lembre-se para onde você quer chegar.

Sou Kelma Zenaide, empreendedora do ramo gastronômico. Moro em Contagem, Minas Gerais.

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25 a 39 anos Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Pós-Graduação Completa Prta Raça/Cor Rio de Janeiro

“O governo não está garantindo o direito básico à água”

“Como higienizar as mãos, lavar a casa, as roupas, fazer comida se não tem água na favela?”, disse uma moradora da Maré, favela localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro e com aproximadamente 132 mil moradores. E, assim tem sido os dias de inúmeros outros moradores de favelas da Zona Norte e Oeste do Rio. O pior é vivenciar isso em meio a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), sendo a água uma das principais recomendações para que a população não corra o risco de ser contaminada pelo vírus. 

As autoridades públicas do Rio, em entrevistas às mídias, afirmaram que o abastecimento da água no município só será normalizado no final do mês de dezembro. Até o momento, só no município do Rio mais de um milhão de pessoas já está sendo afetadas. De acordo com a Cedae, são 30 bairros que estão neste momento sofrendo com a falta do abastecimento de água. 

Mas, infelizmente, sabemos que a falta d’água não começou agora nos locais mais pobres da cidade. A maioria das favelas e periferias do Rio de Janeiro nunca tiveram esse direito humano básico garantido na sua totalidade. O que se tem hoje dentro das favelas e periferias, foi construído pelas próprias mobilizações locais para sobrevivência dos que habitam este espaço. E essa cruel situação só vem se agravando. 

A luta pela água, um direito básico

Ainda no início deste ano, lá em março, quando o mundo passou pela primeira onda da Covid-19, várias denúncias sobre a falta d’água começaram a surgir em diferentes pontos da cidade. A favela do Amorim, também na Zona Norte do Rio, foi uma das que tiveram que fazer protesto na avenida para chamar atenção das autoridades públicas em relação a este grave problema. 

Os moradores só conseguiam água porque a Fiocruz disponiblizava uma mangueira para os moradores durante o dia. Uma das moradoras na época disse a seguinte frase: “Eu não consigo ir no local que dá para pegar água porque estou numa cadeira de rodas, sou idosa, estou dependo das pessoas da rua para ter água em casa”. Este e outros relatos chegam diariamente e de diferentes partes da cidade.

O nosso povo está morrendo de fome, de Covid-19, de desemprego, de sede. Enfim, a realidade na favela nunca foi fácil e, agora, em tempos de pandemia, tudo só tem piorado. Sinceramente, se isso não é genocídio, eu não sei o que é! Lutemos juntos e juntas para sobrevivermos a tudo isso!

Sou Gizele Martins, moradora da Maré, comunicadora comunitária, jornalista e mestre em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas. Sou ainda defensora de direitos humanos e há quase 20 anos circulo as favelas do Rio, do país e do mundo para conhecer de perto as violações cotidianas de direitos. Faço disso matéria, artigo, mobilização e muita luta cotidiana em defesa do direito à vida!

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60 anos ou mais Bahia Ensino Superior Completo Escolaridade Estado Gênero Homem Cis Idade Prta Raça/Cor

“Tem sido uma forma nova de acompanhar o tratamento, o desenvolvimento, e a proteção integral dessas crianças”

Com o advento da pandemia, todos fomos surpreendidos. Perplexos, vimos as crianças voltarem às suas casas – e nós sabemos das condições em que vivem as crianças assistidas pela Instituição. Tínhamos a certeza de que as crianças não encontrariam em suas casas ambiente salubre e refeições que garantissem a continuidade do tratamento.

Mas não nos acomodamos aí. Fomos até às crianças. Temos ido até elas em suas casas. Levamos diária, cestas básicas, material de proteção, insumos e material de limpeza e higiene. As atividades lúdicas e pedagógicas, que fariam na creche, estão fazendo em casa. Quanto lá estamos, é uma oportunidade para a equipe observara adesão ao tratamento e os cuidados os sinais vitais das crianças.

Tem sido uma forma nova de acompanhar os tratamentos, o desenvolvimento, e a proteção integral dessas crianças. Temos contado muito com o apoio dos das cuidadoras e cuidadores.

A Instituição Beneficente Conceição Macedo existe há 35 anos. Sensibilizada com a realidade de pessoas que vivem com HIV que não tinham guarida nem em suas famílias, nem na rede de assistência pública, Dona Conceição Macedo começou a acolhê-las. Um primeiro quarto, um segundo quarto, então isso evoluiu. Dona Conceição juntou-se então a um grupo de voluntárias/os, que levam adiante a instituição. Hoje, a IBCM mantém 29 casas de apoio a portadores de HIV que antes se encontravam em situação de rua. Mantém também o Centro Diurno para 74 crianças de 2 a 5 anos de idade – com cinco refeições diárias e atenção ao tratamento. Oferece ainda medicamentos prescritos não fornecidos pela rede SUS e alimentação para mais de 250 pessoas vivendo com HIV.

Arrastados para voltar a atender a população em situação de rua

Com a pandemia, fomos praticamente arrastados para voltar a atender a população em situação de rua. Chegaram muitas demandas, muita gente passando fome. Então temos ido praticamente todos os dias, a partir das 19 horas, levar alimentação, água, material de higiene e proteção. Cerca de 100 a 120 pessoas são atendidas diariamente pelas equipes da Instituição Beneficente Conceição Macedo.

Cuidado com quem cuida

Temos cuidado, também, de nossa equipe. O cuidado com quem cuida: de evitar o acesso às Unidades de Emergência, de descanso, de um horário diferenciado de trabalho. Temos feito um apelo, pois com a pandemia as doações rarearam. E como vivemos de doações, nós também apelamos a você. Ajudem-nos, por favor.

Todo alimento é bem-vindo. Nossa conta bancária está no Instagram. Estamos lá de segunda a sexta, das 8 às 17 horas, recebendo doações e, sobretudo, carinho e atenção de tanta gente que se une a nós nessa corrente do bem e do serviço. Que nós possamos superar, em breve, este momento. Estamos ansiosos para ter de volta as crianças no espaço físico da creche. E até lá vamos estar firmes na atenção e cuidado, na proteção integral ao nosso público. Gratidão. 

Assim, a Instituicao Beneficente Conceição Macedo segue fazendo prevenção, sobretudo com o público mais vulnerável, profissionais do sexo, população em situação de moradora de rua, jovens dependentes químicos, gente com situação de privação de liberdade.

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60 anos ou mais Ensino Médio Incompleto Escolaridade Estado Gênero Idade Mulher Cis Prta Raça/Cor Rio de Janeiro

“Precisamos de cestas básicas durante a pandemia”

Somos carentes, e essa pandemia nos afeta ainda mais. Por isso, precisamos de cestas básicas. A princípio, tenho três filhos e dez netos. Eles moram em uma comunidade muito carente e, graças a Deus, já arrumaram emprego.

Mesmo assim, a renda não dá para quase nada. Temos que pagar aluguel, luz e água, não conseguimos comprar alimento e por isso precisamos de cestas básicas. Meus filhos não ganham bem e suas esposas ganhavam 600 reais do Auxílio Emergencial, que depois reduziu a R$300. Então, a situação piorou, pois como elas têm filhos pequenos, não há possibilidade de trabalhar e cuidar das crianças.

Precisamos de cestas básicas. Imagem ilustrativa.

Meus filhos tiveram até suspeitas da Covid, com sintomas leves. Mas não temos certeza se fomos infectados, porque eles não fizeram o teste. Fico preocupada, pois eu, como mãe e avó, não saberia o que fazer, caso eles contraíssem a doença. Quem iria socorrê-los?

Projeto União do Xangrilá distribuiu cestas básicas

Um grande alívio foi o recebimento de cestas básicas. Conseguimos e temos esperança de conseguir, no projeto na União do Xangrilá, mais cestas básicas, o que para nós é de grande valia.

Por fim, há algumas pessoas que até deixam suas casas, seus aluguéis e estão indo morar nas ruas. Pois, como sobreviveremos com 300 reais hoje em dia? Não há como! A gente tá tentando sobreviver no dia a dia, sem ter quase nada. Mas, Deus sabe de todas as coisas. Então, queria que vocês olhassem mais por nós, que somos carentes de ajuda. Muito obrigada e passem bem. Se cuidem.

Me chamo Lindomar Vieira, sou do Guerreiro da Esperança do Xangrilá. Estamos aqui no projeto da União.

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“Recebi uma cesta básica num momento em que mais precisava de ajuda”


Venho falar um pouco dessa pandemia e da ajuda que temos recebido aqui, que tem sido uma bênção em nossas vidas, pois esta pandemia veio e ninguém estava esperando. Ela fez muita gente mudar a forma de agir, de pensar e mexeu muito com nossas finanças. Assim, precisamos dessa ajuda, porque muitos pararam de trabalhar, muitas coisas se fecharam. Além disso, muitas coisas precisaram de movimentação e de mudanças.

A pandemia fez com que a gente parasse para pensar que precisamos de ajuda. As cestas básicas chegaram em um momento muito precisado, porque muitas das vezes nos encontramos sem nada dentro de casa.

Eu tenho dois filhos que foram diagnosticado com autismo, e tem sido muito difícil para gente, mas graças a Deus, a ajuda das cestas básicas tem nos ajudado bastante.

Quero agradecer, desde já também. Precisei ficar parado por conta da pandemia e isso mudou muito, mexeu muito com finanças. Preciso muito trabalhar para ajudar meus filhos e tenho muitos gastos. Tenho que procurar ajuda, pois eles precisam de acompanhamento médico, e a cesta básica veio em um momento certo para nos ajudar.

Muito obrigado por esta ajuda, e assim eu agradeço a vocês.

Meu nome é Anderson Pablo Queiroz Santos, morador de Jacarepaguá, da Comunidade Xangrilá.

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